«Pai, glorifica o Teu Filho, a fim de que o Filho Te
glorifique»
S. João 17,1-11a.
Naquele
tempo, Jesus, levantando os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora!
Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a
vida eterna a todos os que lhe entregaste.
Esta é a vida eterna: que te
conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste.
Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste
a realizar.
E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti,
aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir.
Dei-te
a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos
entregaste e têm guardado a tua palavra.
Agora ficaram a saber que tudo
quanto me deste vem de ti, pois as palavras que me transmitiste Eu lhas
tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu
vim de ti, e creram que Tu me enviaste.
É por eles que Eu rogo. Não rogo
pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste, porque são teus.
Tudo o
que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória.
Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti.
Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós
somos!
Comentário
«Pai, glorifica o Teu Filho, a fim de que o Filho Te
glorifique»
Há pessoas que pensam que o Filho foi glorificado pelo Pai na medida em que
Ele não O poupou, mas O entregou por todos nós (Rom. 8,32). Mas, se Ele foi
glorificado na Sua Paixão, quanto mais o não foi na Sua ressurreição! Na
Paixão, a Sua humildade aparece mais do que o Seu esplendor. [...] A fim de
que «o mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo» (1 Tm 2,5),
fosse glorificado na Sua ressurreição, foi humilhado na Sua Paixão. [...]
Nenhum cristão duvida: é evidente que o Filho foi glorificado sob a forma de
servo, que o Pai ressuscitou e fez sentar à Sua direita (Fil 2,7; Ac 2,34).
Mas o Senhor não diz apenas: «Pai, glorifica o Teu Filho»; acrescenta: «para
que o Teu Filho Te glorifique». Pergunta-se, e com razão, como é que o Filho
glorificou o Pai. [...] Na verdade, a glória do Pai, em si mesma, não pode
aumentar nem diminuir. No entanto, era menor entre os homens quando Deus só
era conhecido «na Judeia» e «os Seus servos não louvavam o nome do Senhor
desde o nascer ao pôr do sol» (Sl 75,2; 112,1-3). Isto foi consequência do
Evangelho de Cristo, que deu a conhecer às nações o Pai através do Filho: e
foi assim que o Filho glorificou o Pai.
Se o Filho tivesse apenas morrido e não tivesse ressuscitado, não teria sido
glorificado pelo Pai nem o Pai por Ele. Agora, glorificado pelo Pai na Sua
ressurreição, glorifica o Pai pela pregação da Sua ressurreição. Isto vê-se na
própria ordem das palavras: «Pai, glorifica o Teu Filho, para que o Teu Filho
Te glorifique», como se dissesse: «Ressuscita-Me, para que, por Mim, sejas
conhecido em todo o universo». [...] Nesta vida, Deus é glorificado quando a
pregação O dá a conhecer aos homens; e é pregado pela fé dos que crêem n'Ele.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da
Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, nos. 104-105
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