Quando
por um instante o corpo e a mente repousam atentos em nada querer, tudo
observar com distância, observa também que tão logo queira algo, o
momento se perde. Não pelo querer em si, mas pelas forças que o ego
projeta sobre esse querer buscando não apenas realizá-lo com liberdade
desinteressada, mas com as ilusões de sucesso e fracasso pessoais, com a
ambição de conseguir e assim afirmar tal poder, como se qualquer êxito
fosse mérito humano.
Quanto mais articulado for esse ego, menos se
percebe a verdade de que nem a própria vida nos pertence.
Talvez se
perceba nocionalmente, mas não existencialmente, não se experimenta como
verdade mas como condescendência do ego.
São
Bento orienta “quem quer que seja” que se encontre com a Vida-Jesus, a ter
sempre a morte diante dos olhos, não para cultuá-la, mas exatamente para
não cultuar as ilusões do mundo que a tornam uma inimiga.
Quando a mente repousa, percebe-se com humildade
“que a vida não é sobre a gente, não se trata de mim, mas de Deus” – Joan D. Chittister (OSB).
O centro da realidade não somos nós e o que queremos, mas Deus, e essa
percepção experiencial, não meramente nocional, é que nos capacita à paz
de Cristo, a mesma paz que nele estava e nos doou como dom: “Eu vos
deixo a Paz, eu vos dou a minha Paz”.
Paz que não depende de nada além
de reconhecer que Deus é o centro, a realidade, e está disponível a
nossa espera aqui e agora, onde quer que seja.
A
oração é uma inserção de tudo o que somos, como nas palavras de São
Paulo, “alma, corpo e espírito”, na Paz de Cristo.
Mas talvez seja
preciso entender que essa Paz não é, como disse Thomas Merton, meramente um gozo, uma suavidade, mas antes, a consciência da presença de Deus em tudo e em todos.
Louvado
seja Deus que nos deu em Jesus Cristo o modelo de vida que nos leva a
tal consciência.
Que todos os cristãos não desanimem em meio ao mundo
hiper estimulado, hiperativo, hiper agendado, de caminhar segundo o
ensinamento de Cristo, essencialmente contemplativo e desperto para a
presença de Deus.
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