PENTECOSTES
“Os
mensageiros de Jesus Cristo são, antes de tudo, testemunhas daquilo que viram,
encontraram e experimentaram. Este fato implica irradiar a presença de Deus, de
Jesus Cristo. Deus-conosco, e, na força do Espírito Santo, proclamar com a
Palavra e com a vida que Cristo está vivo entre nós” (CNBB DGAE. DOC 94, n.76).
Leituras:
Atos 2,1-11; Salmos 103 (104), 1ab.24ac.29bc-30.31.34 (R/30; Primeira Carta de
São Paulo aos Coríntios 12, 3b-7.12-13; João 20, 19-23.
Com
a festa de Pentecostes, chegamos ao fim
do Tempo Pascal, tempo celebrado com alegria e exultação, um só dia de festa
que durou cinqüenta dias, "um só grande domingo", tempo marcado pelo
canto e pelo sentimento do "Aleluia". O importante é celebrarmos a
festa de hoje intimamente ligada à Páscoa e a todo Tempo Pascal. O Pentecostes
cristão não é a festa do Espírito Santo em si. A vinda do Espírito Santo, em Pentecostes, é
um acontecimento de salvação. Representa o cume do mistério da morte e
ressurreição de Cristo. É a festa que dá coroamento à Páscoa de Cristo.
1. Situando-nos brevemente
Hoje,
na celebração de Pentecostes, fazemos memória do dia em que o mistério pascal
atingiu sua plenitude no dom do Espírito Santo, derramado sobre a Igreja
nascente. “Para levar à plenitude os mistérios da páscoa, o Senhor derramou,
hoje, o Espírito Santo prometido, em favor de seus filhos e filhas” (prefácio
da missa do dia).
O
Espírito do Ressuscitado, prometido pelo Senhor, concedido à comunidade dos
discípulos e discípulas, reunida no cenáculo em Jerusalém, renova, transforma,
edifica o Corpo de Cristo, fortalece a missão e cria o ser humano novo, pois
“todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8,14).
Concluindo
a caminhada dos cinqüenta dias de Páscoa, agradeçamos ao Pai, porque o Espírito
Santo revelou a todos os povos, raças e nações o mistério escondido desde toda
a eternidade. Este espírito acende, nos corações, a fé, a esperança e o amor.
Ao mesmo tempo em que nos abre para a comunhão com Deus, ele nos conduz ao
próximo com sentimentos de encontros, reconciliação, testemunho, desejo de
justiça e de paz, renovação da mentalidade, verdadeiro progresso social e
impulso missionário (cf. Ad Gents, n.4; Gaudium et Spes, n.26).
2.
Recordando a Palavra
Para
o autor do quarto Evangelho, a ressurreição e a descida do Espírito Santo são
parte do mesmo acontecimento. O Espírito Santo é um dom que procede diretamente
de Cristo ressuscitado, representa o sopro de vida.
João
inicia a narrativa revelando o dia e a situação da comunidade: “Ao anoitecer do
primeiro dia da semana, estando trancadas as portas do lugar onde se
encontravam os discípulos ...”. Realça a situação de insegurança própria de
quem perde as referências e que não sabe mais a quem recorrer. É a comunidade
que ainda não fez a experiência do encontro com o Ressuscitado e nem tem
consciência do que significa a ressurreição.
É
uma comunidade fechada e com medo, desamparada num ambiente hostil. Necessita
fazer a experiência do Espírito. Só a partir desta experiência, estará apta
para missão no mundo. Subitamente, “Jesus aparece e se coloca no meio deles”.
Todos ficaram contentes por verem o Senhor, de tal forma que recuperaram a
confiança e a serenidade ao ouvirem a saudação: “A paz esteja convosco!”.
Nos
sinais das mãos e dos pés, que evocam a entrega total, os discípulos reconhecem
o Senhor. “Soprou sobre eles e falou: Recebei o Espírito Santo”. Gesto que
evoca o “sopro vivificante de Deus na criação do ser humano” (Gn 2,7). Ao
soprar sobre eles, o Ressuscitado lhes infunde o hálito da nova vida e faz
nascer o ser humano novo. Animada pelo Espírito, a comunidade se transforma em
missionária do perdão, que gera relações reconciliadas e reconciliadoras,
comunidade de Cristo ressuscitado no mundo, sob a ação Espírito (Evangelho).
A
leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, sem pretender ser um ‘furo de
reportagem’ jornalística sobre a vinda do Espírito Santo, apresenta a Igreja
como a comunidade que nasce do Ressuscitado e, assistida pelo Espírito Santo, é
chamada a testemunhar aos seres humanos o projeto do Pai.
A
festa de Pentecostes era uma comemoração judaica, celebrada cinqüenta dias após
a Páscoa. Era conhecida como uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus
pela colheita da cevada e do trigo. Mais tarde, a entrega da Lei no monte Sinai
e a constituição do povo de Deus (cf. A. ADAM. O Ano Litúrgico. São Paulo: Ed.
Paulinas, 1982. PP.85s). Ao situar o dom do Espírito nesta festa, o autor dos
Atos dos Apóstolos sugere que o Espírito é a Lei da nova Aliança e que, por
ele, constitui-se a nova comunidade do povo de Deus. Pentecostes evoca o
nascimento da Igreja.
O
Salmista reconhece que, quando Deus derrama seu Espírito, o universo se renova
e exultam de alegria todas as suas criaturas: “Quando tu, Senhor, teu Espírito
envias, todo mundo renasce, é grande a alegria!” (Sl 104/103).
O
Apóstolo Paulo escreve para a comunidade cristã de Corinto, mergulhada num
clima de divisão. Ele alerta seus membros de que os conflitos e as rivalidades
perturbam a comunhão e se constituem em contra testemunho. O Apóstolo compara a
comunidade a um corpo com muitos membros. Apesar da diversidade de membros e de
funções, o corpo é um só. Na comunidade (corpo) formada de muitos membros
circula a mesma seiva vital, pois todos foram batizados num só Espírito e bebem
num único Espírito (2ª Leitura).
3.Atualizando a Palavra
Na
celebração do Pentecostes, realizam-se as promessas de Jesus aos discípulos: “O
Espírito Santo que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as
coisas e fará vocês lembrarem tudo o que lhes disse” (Jo 14,17; cf. Lc 12,12).
“Vos enviarei,da parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele
dará testemunho de mim” (Jo 15,26; cf. 16,13).
A
festa de Pentecostes, culminância da festa pascal, vivifica a Igreja. Por esta
razão as comunidades cantam: “vem, vem, vem! Vem Espírito Santo de amor, vem a
nós, traz à Igreja um novo vigor!”. A Igreja renovada pelo Espírito é o Corpo
Místico de Cristo, o Povo de Deus (cf. Lumem Gentium, n.7), enviada pelo Senhor
para dar continuidade à sua missão redentora. “A Igreja, enquanto marcada e
selada com o Espírito, continua a obra do Messias, abrindo para o crente as
portas da salvação” (DAp, n.151).
A
Igreja nasce do evento de Pentecostes, isto é, do Espírito do Senhor
ressuscitado. A Igreja nasce missionária, porque nasce do Pai que enviou Cristo
ao mundo; nasce do Filho que, morto e ressuscitado, enviou os apóstolos a todas
as nações; nasce do Espírito Santo, que infunde neles a luz e a força
necessárias para levar a termo esta missão. “A Igreja nasce da missão e existe
para a missão. Existe para os outros e precisa ir a todos”.
“Os
membros da Igreja, ‘mensageiros de Jesus Cristo’ são, antes de tudo,
testemunhas daquilo que viram, encontraram e experimentaram. Este fato implica
irradiar a presença de Deus, de Jesus Cristo, Deus-Conosco, e, na força do
Espírito Santo, proclamar com a palavra e com a vida que Cristo está vivo entre
nós” (CNBB. DGAE. Doc. 94, nº 76).
Todavia,
a Igreja missionária tem consciência de que, “no anúncio da Boa Nova, antes do
missionário, sempre chega o Espírito Santo, protagonista da evangelização. É
ele quem move o coração para o encontro pessoal com Jesus Cristo, embora se
trate de um encontro sempre mediado por pessoas“ (CNBB.DGAE. doc. 94, n.89).
No
acontecimento de Pentecostes em Jerusalém, Lucas evidencia a universalidade da
Boa Nova de Jesus e o milagre do entendimento, na diversidade das línguas,
raças e povo. Qual seria ou seriam os milagres do Pentecostes, em 2012? Sem
dúvidas, muita gente deseja que “seja Pentecostes novamente na Igreja!” Que se
renove o Pentecostes do Vaticano II, neste ano que se celebra o cinquentenário
de sua abertura. Que a festa de Pentecostes reavive a caminhada evangelizadora
da Igreja e o testemunho de fé de cada irmão e irmã.
Recebamos
o Espírito como força amorosa do Pai e do Filho ressuscitado que reanima os
nossos corações e nos confirma na missão, em comunhão com todos os que se
empenham na edificação de uma sociedade reconciliadora, em tempo de mudanças.
4.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
Assim
como no cenáculo em Jerusalém, hoje, o Espírito Santo, guia da fé do povo de
Deus, congrega os discípulos e missionários para a atualização do memorial da
Páscoa do Senhor e para que, na unidade das vozes e dos corações, entoem hinos
de ação de graças ao Pai.
O
Espírito Santo suscita a oração de louvor e de ação de graças. Depois do
primeiro Pentecostes, a Igreja nunca deixou de se reunir para celebrar o
mistério pascal em Jesus
Cristo pela força do Espírito Santo (cf. Sacrosanctum
Concilium, n.6). Enfim, a comunidade se reúne na fé, em nome de Cristo, conduzida
pelo Espírito Santo para o encontro como Senhor.
A
ação litúrgica resulta da cooperação que existe entre a nossa resposta de fé e
a ação do Espírito. Na liturgia, ele é o “pedagogo” da fé do Povo de Deus, o
artífice das “obras primas de Deus”, que são os sacramentos da nova aliança. O
desejo e a obra do Espírito Santo, no coração da Igreja, é que vivamos da vida
de Cristo ressuscitado.
Quando
Cristo encontra em nós a resposta de fé, que ele mesmo suscitou, realiza-se uma
verdadeira cooperação. Através dela, a liturgia torna-se a obra comum do
Espírito Santo e da Igreja. O mesmo Espírito que é a alma da evangelização, o é
também da ação litúrgica. Sem ele não há celebração do memorial da salvação.
A
graça do Espírito Santo desperta em nós a fé, a conversão do coração, a adesão
à vontade do Pai. Desta forma, a assembleia litúrgica é participação e comunhão
na fé, à qual o Espírito Santo recorda o sentido do evento da salvação, dando
vida à Palavra de Deus, anunciada para ser acolhida e vivida.
É
ele que concede aos leitores e aos ouvintes, segundo as disposições de seus
corações, a compreensão espiritual da Palavra de Deus. É ele que estabelece uma
relação viva com Cristo, Palavra viva do Pai, para que os fiéis e ministros
vivam, no cotidiano, o que na celebração ouviram, contemplaram e
experimentaram.
Unindo-nos
no encontro com o Cristo Ressuscitado, participemos do mistério de Pentecostes
e recebamos o Espírito que reúne todas as línguas na profissão de uma única fé
(prefácio). Neste dia, suplicamos; “a nossa mente iluminai, os corações enchei
de amor, nossas fraquezas encorajai, qual força eterna ao protetor”.
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