«Quem pode perdoar pecados senão Deus?» (Mc 2,7)
S. Mateus 9,1-8.
Naquele
tempo, Jesus subiu para o barco, atravessou o mar e foi para a sua cidade.
Apresentaram-lhe um paralítico, deitado num catre. Vendo Jesus a fé deles,
disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados.»
Alguns doutores da Lei disseram consigo: «Este homem blasfema.»
Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: «Porque alimentais esses
maus pensamentos nos vossos corações?
Que é mais fácil dizer: 'Os teus
pecados te são perdoados’, ou: 'Levanta-te e anda’?
Pois bem, para que
saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder para perdoar pecados disse
Ele ao paralítico: 'Levanta-te, toma o teu catre e vai para tua casa.»
E
ele, levantando-se, foi para sua casa.
Ao ver isto, a multidão ficou
dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens.
Comentário:
«Quem pode perdoar pecados senão Deus?» (Mc 2,7)
«Apresentaram-Lhe um paralítico». São Mateus diz simplesmente que esse
paralítico foi levado a Jesus. Outros evangelistas narram que foi descido por
uma abertura no tecto e apresentado ao Salvador sem nada pedir, deixando que
fosse Ele a decidir sobre a cura. [...]
O evangelho diz: «Vendo Jesus a fé deles», isto é, dos que Lhe levaram o
paralítico. Reparai que, algumas vezes, Cristo não faz caso nenhum da fé do
doente: talvez ele seja incapaz dela, por estar inconsciente ou possuído por
um espírito mau. Mas este paralítico tinha uma grande confiança em Jesus; de
outra forma, como teria permitido que o descessem até Ele? Cristo responde a
essa confiança com um prodígio extraordinário. Com o poder do próprio Deus,
perdoa os pecados a esse homem. Mostra assim ser igual ao Pai, verdade que já
tinha mostrado quando dissera ao leproso: «Quero, fica purificado!» (Mt 8,3),
[...] quando, com uma só palavra, tinha acalmado o mar em fúria (Mt 8,26), ou
quando, como Deus, tinha expulsado os demónios, que reconheciam n'Ele o seu
soberano e o seu juiz (cf Mt 8,32). Ora, aqui Ele mostra aos Seus adversários,
para seu grande espanto, que é igual ao Pai.
E o Salvador mostra também, mais uma vez, que rejeita tudo o que é
espectacular ou fonte de glória vã. A multidão pressiona-O de todos os lados,
mas Ele não tem pressa em fazer um milagre visível, curando a paralisia
exterior desse homem. [...] Começa por fazer um milagre invisível, curando-lhe
a alma. Essa cura é infinitamente mais vantajosa para o homem — e, na
aparência, menos gloriosa para Cristo.
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois bispo de
Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de Mateus, nº 29,1
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