CRISTO TEM NECESSIDADE DE MISSIONÁRIOS Eis o grande problema de hoje: os crentes, inclusive nós, somos pouco crentes e, com muita freqüência, fazemos parte de uma comunidade adormecida. Caros Filhos, o que lhes diz essa situação que, ao mesmo tempo, é velha e nova? Por nossa fé, temos a certeza de que Cristo continua a amar o mundo e deseja dar-lhe vida. A quem há de enviar? O rei precisa de arautos, o Senhor necessita de mensageiros, Cristo tem necessidade de missionários no sentido próprio do termo. Homens, discípulos, que, saindo de si mesmos vão ao encontro do outro e o ajudem a abrir o próprio coração ao dom de Deus, ao Espírito do Senhor. Homens que, saciada a própria sede de plenitude, como a Samaritana, se transformem em apóstolos para todos os sedentos, próximos e distantes. Homens, discípulos, que, abrindo-se à lógica do dom que é Deus, tenham a capacidade de doar-se gratuitamente aos outros através de um movimento semelhante ao incessante dom de si da parte de Deus.
Homens, discípulos, que, reconhecendo que nada lhes pertence e que tudo é um bem recebido, estejam dispostos a partilhar e a restituir tudo o que receberam do Senhor. Homens, discípulos, que, solidamente unidos a Cristo, tenham a coragem de iniciar caminhos inéditos de presença e de testemunho evangélico, abraçando os lugares de fronteira e morando na marginalidade. Homens, discípulos, que, vivendo de Cristo e por Cristo, o sirvam, o sirvam nos outros, “impelindo-se até os postos avançados da missão e assumindo os maiores riscos” (VC 76). Homens, discípulos, que, seduzidos pela contemplação do mistério da kénosis daquele que “despojou a si mesmo assumindo a condição de servo” (Fl 2,6-11), alargando o espaço da própria tenda (cf. Is 54,2) e fazendo próprias as alegrias e as tristezas dos mais pobres e daqueles que sofrem, se deixem “seduzir pelos claustros esquecidos, pelos claustros inumanos onde a beleza e a dignidade da pessoa são continuamente ofuscadas”.
Homens, discípulos, que, fundamentando a própria vida sobre o Evangelho, com os leigos, os homens e as mulheres, os jovens e os anciãos, trabalhem para serem faróis de esperança nos lugares em que as dificuldades são realmente extremas, a ponto de pôr em perigo qualquer liberdade. Cristo necessita de homens, discípulos, com a clara consciência de serem enviados ao mundo, o "vasto claustro" de cada Alpha e Ômega, alimentados pela centralidade da experiência de Deus. Cristo e o mundo precisam de todos nós, sobretudo de vocês, caros filhos e mais jovens. Não tenham medo de dar vossa juventude a Jesus e seu Evangelho que os chamou para enviá-los, para que sejam seus missionários. Vocês estão dispostos a sair de sua pátria, de sua casa paterna (cf. Gn 12,1), de si mesmo?
Vocês estão dispostos a atravessar fronteiras para ir ao encontro dos outros? Vocês têm consciência de que estamos mergulhados numa mudança de época, que tem novos paradigmas e categorias, que implicam numa séria revisão de nossa missão, numa avaliação de nossos ministérios? Mergulhados nas situações em que é preciso dar uma resposta diante da cultura que muda e da sociedade que nos cerca? O que lhes diz a situação em que vivem muitos jovens como vocês, longe da fé, sem conhecimento de Cristo Jesus?
Que ressonância têm em vocês os projetos missionários da Igreja: Terra Santa, Marrocos, Rússia/Kazaquistão, Mianmar, Sudão, Tailândia...? Quais são as resistências que lhes impedem de ser missionários hoje? Caros filhos, não se refugiem facilmente no “costumeiro”, não fechem o coração ao chamado do Senhor que os convida a sair, a ir ao encontro do outro. Que não se diga que o velho Abraão teve uma fé mais jovem que a sua, ou que a coragem de vocês é menor do que a dele. Quero vê-los no deserto, na periferia, na fronteira, nos lugares onde, de fato, não se ouve a palavra forte e libertadora do Evangelho. Quero-os livres como São Francisco, pobres como São Francisco, arautos do grande Rei como São Francisco a gritar : O Amor não é Amado - Amemos o Amor...
Abram-se ao chamado do Senhor, que lhes pede para serem seus colaboradores na abertura do coração de muitos ao dom de Deus, ao Espírito do Senhor. Saiam de si mesmos, abram-se à missão e a missão transformará suas vidas. O medo que muitos de vocês sentem mudar-se-á em audácia para testemunhar com coragem a Cristo (cf. At 2,4). Não se trata de ser aventureiro, mas de responder a uma vocação que certamente vocês receberam: a de ser missionário. Deixem ressoar em seus corações a palavra do Senhor: “como o pai me enviou, assim eu vos envio” (Jo 20,21), “ide, pois, ensinai a todas as nações” (Mt 28,19), “constituí-vos para irdes e produzirdes fruto e vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). Não percebes que o Senhor está sussurrando ao teu coração e te diz como a São Francisco: “vai, repara a minha casa que, como vês, está em ruínas” (2Cel 10)? Peço que, como a São Francisco e a seus primeiros companheiros, o Senhor conceda também a vocês a palavra e o espírito conforme os tempos e circunstâncias, para que possam pronunciar palavras capazes de penetrar o coração de muitos ouvintes e, sobretudo, dos jovens mais que dos anciãos.
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