“Regressaram à sua terra por outro caminho.” Mt 2, 12
Quem procura?
De procuras e encontros (e também alguns desencontros!) se vai escrevendo a nossa história. Revelamo-nos tanto em tudo o que procuramos. Por isso também gosto muito de olhar para os magos que chegam ao presépio como representantes da procura humana que se agita dentro de nós. Procuramos mais felicidade, mais realização, mais conhecimento, mais amor. Não se trata de uma mera insatisfação porque nos maravilhamos com o que alcançamos, mas é como se um dinamismo maior do que nós nos habitasse. O problema é quando se transforma a procura na ânsia desmesurada de “ser deus” e não agradecemos nem saboreamos o que já alcançamos!
Quantas vezes procuramos fora de nós aquilo que está tão íntimo e próximo! Santo Agostinho di-lo nas suas Confissões: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! E eis que estavas dentro de mim e eu fora, e aí te procurava, e eu, sem beleza, precipitava-me nessas coisas belas que tu fizeste. Tu estavas comigo e eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti aquelas coisas que não seriam, se em ti não fossem. Chamaste, e clamaste, e rompeste a minha surdez; brilhaste, cintilaste, e afastaste a minha cegueira; exalaste o teu perfume, e eu respirei e suspiro por ti; saboreei-te, e tenho fome e sede; tocaste-me, e inflamei-me no desejo da tua paz.” Procuramos longe o que está perto, como também diz Sophia de Mello Breyner Andressen, num poema sobre a estrela que guiou os magos.: “Quanto deserto / Atravessei para encontrar aquilo / Que morava entre os homens e tão perto”. No meio de todas as procuras não podemos esquecer a do nosso universo interior, aquela que faz descobrir riquezas incontáveis no íntimo de cada pessoa.
Mas o que verdadeiramente me espanta é que Deus também nos procure. Mais do que o “motor imóvel” de Aristóteles revela-se como Pai a lançar-se nos braços do filho pródigo, como Filho a pisar os nossos caminhos de terra e flores, como Espírito que sopra e semeia incêndios de amor. É d’Ele que aprendemos a alegria de procurar uns com os outros, de potenciar os dons diversos e tão interdependentes, de fazer a festa do encontro. É com Ele que vencemos o medo (até o medo de errar e de nos perdemos), que celebramos o esforço e promovemos a iniciativa, que recusamos as teias de aranha e a tentação fácil de condenar. É n’Ele que cada dia pode encher-se de descobertas e o que é pequeno e frágil ter uma beleza imensa. Que outro e novo caminho trazemos do Natal acabado de celebrar? Como se pode traduzir numa procura maior o encontro com Jesus Emanuel, o Deus-connosco? Queremos mesmo procurar?
P. Vítor Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário