Primeiro Livro de Samuel 3, 3b-10.19;
Salmo 39 (40), 2.4ab.7-8a.8b-9 (R/8a.9a);
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 6, 13c-15a.17-20;
João 1, 35-42.
COR LITÚRGICA: VERDE
1. Situando- nos brevemente
Findou-se o tempo do Natal, mas a sua luz continua a clarear a experiência de Deus que a comunidade é chamada a fazer. O Tempo Comum se abre como tempo transitório entre o Natal e a Quaresma, recordando-nos o mistério da revelação de Deus e da rejeição por parte da humanidade. A luz “veio para os seus, mas os seus não a acolheram” (Jo 1,11). Este versículo do quarto Evangelho apresenta bem o caráter desses domingos comuns que antecederam a Quaresma.
Mas o período revela mais coisas do Mistério de Deus: como tempo que, de certo modo, prolonga
a luz do Natal. O mistério de Cristo vai se manifestando (epifania) à humanidade na pessoa do homem de Nazaré. Tal manifestação acontece na história da humanidade (era por volta das quatro da tarde), entre os mais simples (pescadores) e de modo inteiramente acessível (vinde ver).
Mas a manifestação de Deus nem sempre é clara aos nossos olhos ou direta: Deus não se impõe! A revelação passa pela mediação das pessoas, dos sinais e dos acontecimentos. Jesus é o primeiro desses sinais: um homem da aldeia de Nazaré (igual na raça, na cultura, na história) que é apresentado como “Cordeiro de Deus” e Messias. “De Nazaré pode sair algo de bom?”, nos dirá o Evangelho (Cf. Jo, 1,46).
Na relação mediada pelos sinais, muito daquilo que se revela, pode permanecer oculto e o processo de reconhecimento de Deus acaba se confundindo com o reconhecimento do homem.
Nesta relação de revelação e ocultamento fica a pergunta: “o que realmente estamos buscando?”
2. Recordando a Palavra
Quando Jesus passa diante de João e de seus discípulos, a apresentação “eis o Cordeiro de Deus!” parece supor uma preparação, única coisa que pode justificar o fascínio e a atração imediata. Já falavam do Cordeiro de Deus: já estavam à sua espera? A passagem de Jesus deixa de ser assim casual, tornando-se narrativa sintética de uma preparação mais profunda por parte dos discípulos, para acolhê-lo.
Jesus ao perceber que está sendo seguido, pergunta o que buscavam? A resposta, mais que um interesse pelo endereço do homem e que seguiam, tinha um valor que assim poderia ser descrito:
“qual é a tua vida, o teu modo de existir, o mistério da tua pessoa” (R. FABRIS, B.MAGGIONI, Os Evangelhos II, Col. Bíblica 2, São Paulo: Loyola, 1992, p.296). A resposta de Jesus “vinde ver”
responde à demanda dos discípulos.
3. Atualizando a Palavra
dificuldade do jovem em identificar quem o chama. De fato, o versículo 7 afirma que Samuel ainda não conhecia o Senhor, muito embora ele estivesse dormindo junto à arca, no Templo. Aqui
está a chave da questão: não o chamando em si, mas o reconhecimento de Deus que se dá por meio de outro.
Só depois é que o jovem responde, já iniciado pela percepção de Eli. O mesmo se dá com os discípulos: os primeiros só reconhecem Jesus quando João afirma, “eis o Cordeiro de Deus”. Em seguida são eles que apresentam Jesus a Pedro, o conduzido ao Mestre. O anúncio aos demais discípulos aparece no canto e aclamação ao evangelho: o foco recai sobre quem é Jesus e não abre sobre o chamamento ou o seguimento.
A Palavra de Deus nesta celebração chama a atenção para aspectos importantes da vida cristã.
Nosso encontro com o Messias, o Cordeiro de Deus, se dá pelas mediações da comunidade, nos amigos, nos sinais e ritos da celebração. Eles nos introduzem no caminho do seguimento e nos revelam quem é Jesus. Por isso, é importante avaliar qual a revelação de Deus que a comunidade cristã, a partir da sua vida e da sua missão, está levando para os outros.
Uma vez inseridos nos caminhos de Jesus, e tomando parte no seu convívio, o que e a quem buscamos realmente? Como Jesus não está mais visível entre nós, o reconhecimento da glória de Deus no sacramento dos irmãos, sobretudo entre os mais sofridos, torna-se uma exigência do seguimento. O convite de Jesus permanece: “Vinde e vede”. Não sejamos nós aqueles a dizer: “E
algo de bom pode vir daí?”.
4. Ligando a Palavra e a Eucaristia
O rito da apresentação do pão e do vinho é acompanhado pelas palavras “Felizes os convidados...”. Quem preside pode substituir esta formula mais usual por outra opção. Entre as demais opções propostas, consta aquela que retoma o salmo 33 (34),9, o mais antigo canto de comunhão da Igreja: ”Provai e vede como o Senhor é bom, feliz de quem nele encontra o seu refúgio”. O cálice e a patena com o pão são sinais humildes e simples da glória de Deus. Mas sua simplicidade nos remete a uma realidade mais profunda e importante: a glória de Deus continua a se manifestar em nossa história, onde Jesus nunca passa casualmente.
Na fragilidade do pão partido e do vinho compartilhado, ele prolonga seu convite a conhecer sua morada, isto é: seu modo de viver, o mistério da sua vida. “Provai e vede...”, quase igual à resposta de Jesus no evangelho (vinde e vede!), tem então no altar sabor de intimidade e de reconhecimento. Resposta ao nosso interesse de buscá-lo, segui-lo, conhecê-lo. A visão que contempla o pão reconhece, pela fé, o Cordeiro de Deus.
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