A LIBERDADE É SER PARA DEUS, E NÃO SER PARA SI
Ecl 15,11-22
O homem sempre teve dificuldades de conviver com a própria liberdade. Os pagãos de outrora sentiam-se governados pela fatalidade, quando na verdade eram livres, e os custaram a reconhecer a própria escravidão, como também o homem de hoje tem buscado liberdade por meios que o escravizam.
Toda a Escritura fala dos convites amorosos de Deus ao homem, revelando Sua vontade para este, enquanto sublinha sua responsabilidade individual e poder de opção. Jesus anunciou sua missão de dar liberdade aos homens (cf. Lc 4,18) e Paulo incansavelmente repetiu: “Irmãos, vós fostes chamados à liberdade” (Gal. 5,13). Toda a Escritura revela que a aparente oposição entre a Soberania divina e a liberdade do homem é uma grande mentira. A verdade é que a graça de Deus e a livre obediência do homem são reais e ambas necessárias à Salvação deste. Sabemos que pertence ao homem escolher entre a bênção e a maldição, a vida e a morte. A cada um cabe entrar e perseverar no caminho que leva à vida!
Só Deus conhece o verdadeiro segredo de inclinar nosso coração sem violentá-lo e de nos atrair sem nos forçar. Deus é inteiramente livre na sua escolha, mas a liberdade da eleição divina não nos autoriza a concluir que seja ilusória a liberdade humana. Há em todo homem uma verdadeira liberdade de opção.
Desde o princípio, Deus quis que o homem escolhesse livremente entre o bem e o mal, entre o Deus e o não Deus, entre a aceitação ou a recusa da vocação que nos confere, entre aderir ou rejeitar as missões quem os confia, e nos deu como orientação unicamente a Sua imagem...Cristo: Modelo de liberdade
Antes de Cristo, o homem desconhecia o verdadeiro sentido da liberdade. A verdadeira liberdade está enraizada no amor a Deus e não no amor do homem a si mesmo. A liberdade é ser para Deus, e não ser para si. No momento em que o homem não quer mais ir para Deus, mas se empenha em permanecer centrado em si, torna-se, novamente, escravo de si mesmo e tem que renovar sua opção pela graça. Ao renunciar a Deus, renunciou à vida, e, ao voltar-se para si, entregou-se à morte, porque somente Deus é a vida! Separada de Deus, a existência humana torna-se escrava de si e presa à aspiração da carne que é a morte.
Por isto é que S. Paulo nos exorta a fazer-nos o que por graça já somos: livres! Deus é mais íntimo de nossa vontade que nós mesmos, mas sua presença é respeitosa, e não destrói nossa autonomia. Ouvir, deixar-se tocar é uma graça, mas, aderir à ela continua sendo um ato livre e responsável do homem.
Deus, em vez de se apropriar da liberdade humana a multiplicou, porque quer o amor livre do homem, quer que este O siga livremente, encantado e conquistado por Sua pessoa!
Somos livres e, embora constantemente colocados diante da lembrança da morte, somos continuamente convidados à vida, a nos retirarmos da prisão das nossas mesquinharias e sermos levados à visão do que é seguro, vivo, eterno. Somos continuamente decepcionados em nossa veneração aos valores relativos, e convidados a conhecermos a felicidade que não passa!
Todo cristão é livre no sentido de que, em Cristo, recebeu o poder de viver na intimidade do Pai, sem ver entravado pelos laços do pecado, da morte e da lei. Sim, porque o pecado é o verdadeiro déspota de cujo jugo Jesus nos arranca. Tanto que S. Paulo diz: “Deus nos arrancou do império das trevas e nos transferiu para o retiro do seu Filho Bem – Amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Col 1,13).
Pe. Emílio Carlos Mancini.+
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