DOMINGO XI COMUM Ano B
“E não lhes falava senão em parábolas.” Mc 4, 34
Parábolas ou discursos?
“
Eles falam, falam, falam…!” foi um “refrão” que os Gato
Fedorento popularizaram, caricaturando o vazio de muitos discursos e
palavras ocas. Parece que foi sempre assim, e desde que os homens
começaram a juntar palavras, nasceram logo os especialistas na arte de
não dizer nada. E quase sempre de fazer ainda menos. Talvez por isso
começámos cedo a gostar de escutar narrativas, histórias com questões na
ponta e perguntas em busca de resposta, relatos que envolvam pessoas e
situações que podiam ser nossas. Jesus bem sabia a força das parábolas e
como nelas ia revelando a beleza e a grandeza de Deus. Ah, se o Código
de Direito Canónico ou o Catecismo fossem escritos em forma de
parábolas!
No final do Encontro Mundial das Famílias em Milão, o Papa Bento XVI
afirmou o apoio, seu e da Igreja, à dor dos divorciados recasados,
encorajando-os a manterem-se unidos às suas comunidades e convidando as
dioceses a acolherem-nos com “a proximidade adequada”. Não é um
tema fácil, nem de uma resposta imediata, mas imagino que parábola nos
contaria Jesus, para que a verdade e a justiça do amor triunfassem. Que
narrativa nos apresentaria, talvez com as histórias de muitos irmãos e
irmãs, talvez pródigos (como na mais bela das parábolas que Lucas nos
oferece!), com imagens da natureza ou da vida em que, tantas vezes,
ficamos meio-mortos à beira do caminho?! Acredito que não ficaria em
silêncio, nem deixaria a indiferença apagar as chamas de fé e de amor
verdadeiros que vivem em tantos casais nesta situação! E não se trata
simplesmente de “estar dentro” ou “estar fora”: que mudanças de
autenticidade e conversão implicam este acolhimento, que festa exigiria
realizarmos? Seria fragilidade e perda de poder? Também as parábolas não
deixavam ninguém na mesma!
Na escuridão da terra a semente faz quase o trabalho todo. Pode o
semeador dormir ou afadigar-se; há um mistério de vida que não depende
dele. E é tão bom quando deixamos Deus ser Deus, em vez de nos armarmos
em seus fracos substitutos! A semente boa dará frutos a seu tempo.
Quando se tornar visível pedirá a nossa ajuda, e não adianta puxá-la
para que cresça mais depressa. Custa muito a paciência, mas ela anda de
mãos dadas com outra verdade: tudo o que é grande começou por ser
pequeno. Daí a força de uma pequena parábola diante do mais palavroso
dos discursos: a primeira está grávida de vida, o segundo adormece e
aborrece. Bem dizia aquele paroquiano que a homilia tinha sido linda, e o
que mais tinha gostado foi quando o prior dissera, por fim: “Passemos à segunda parte”!
P. Vítor Gonçalves
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