11º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
17 DE JUNHO DE 2012
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“O justo
brota como a Palmeira, cresce como o cedro do Líbano, plantado na casa do
Senhor.”
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Leituras:
Ezequiel 17, 22-24;
Salmo 91 (92);
Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 5,
6-10;
Marcos 4, 26-30.
COR LITÚRGICA: VERDE
A
liturgia de hoje nos coloca diante da plenitude do reino de Deus na vida
futura, pois esse reino é uma realidade da nossa vida presente, inspira nossa
esperança ativa e amorosa de Cristo entre nós. O reino cresce na história, na
sociedade e em nosso coração pela graça do Senhor. Precisamos cooperar com essa
graça deixando prevalecer a justiça, a verdade, o amor e a liberdade, que são
sinais reais deste Reino de Deus.
1. Situando-nos
brevemente
Celebrando a Páscoa de Cristo, reunidos em comunidade,
necessitados da graça do Senhor para vivermos conforme sua vontade e trilharmos
os seus caminhos, na alegria e na esperança de um mundo novo e ressuscitado.
A Palavra do Senhor nos fortalece. Ajuda-nos a descobrir
as pequenas manifestações de sua presença entre nós. O crescimento do Reino
ultrapassa nossa fragilidade e não se baseia na eficiência das organizações e
dos inúmeros programas bem elaborados. Está intimamente ligado à escuta atenta
da Palavra de Deus, à confiança em sua graça e ao confronto freqüente com o
Evangelho, na humildade e na oração.
E, qual insignificante semente lançada pela iniciativa
gratuita de Deus, o Reino aguarda nosso empenho laborioso, movido pela sua
graça, para atingir seu crescimento em nós e na humanidade.
Uma alegria nos acompanha e nos invade: a semente da
Palavra, a força do crescimento do Reino mora em nós, cresce na comunidade e já
produz tantos frutos. Continua o milagre da multiplicação dos Paes e nos leva a
bendizer a Deus e a nos alegrarmos com a realização do seu Reino.
2. Recordando a
Palavra
Jesus manifesta o mistério do Reino
escondido e revelado aos discípulos e à multidão durante o seu ministério. Usa
uma pedagogia para transmitir ao povo seus ensinamentos. Quando fala a grupos
maiores, serve-se de comparações, fazendo relações com elementos conhecidos:
objetos, fatos da vida, plantas... São as parábolas que ajudam a assimilar o
projeto de Deus.
A parábola da semente lançada na
terra que, depois de cumprido seu ciclo de germinação e maturação, será
colhida. Somos nós esta semente que o Pai lança na terra. Cumprido nosso ciclo
de vida, Ele vir nos colher.
A parábola se fixa no ritmo do
crescimento do Reinado de Deus. A ele compete passar a foice no momento exato,
à hora da messe, no momento escatológico. A parábola é uma resposta à crise que
Jesus enfrentava com seus adversários, e também presente nas primeiras
comunidades. Em meio a oposições, hostilidades e resistências, é preciso
continuar semeando. É o que Jesus fez e o que devem fazer os cristãos de todos
os tempos.
O processo é lento. Para os
apressados e os que querem tudo pronto, essa parábola é um alerta. É necessário
deixar espaço para o Espírito agir. E, quando as comunidades estão sufocadas
pela burocracia e estruturas estreitas, a semente do Reino pode não crescer.
A parábola sublinha ainda a
desproporção entre o tamanho da semente e a planta na qual se transforma. Nas
colinas do mar da Galileia, o pé de mostarda atingia três metros de altura,
porém a sua semente é minúscula. Ao descrever a planta, a parábola se apóia em
Ezequiel 17,23: “... estenderá ramos, produzirá frutos, tornar-se-á um cedro
magnífico. Todos os tipos de aves ali habitarão; eles habitarão à sombra de
seus ramos” (cf. Ez 31, e Dn 4,12-21). O Reino de Deus é uma árvore frondosa,
larga e acolhedora.
A parábola do grão de mostarda
apresenta o contraste entre o início e o desenvolvimento da ação de Jesus e dos
cristãos. A proposta do Reino, pequena no inicio, insignificante por causa dos
conflitos e resistência, torna-se proposta universal, aberta a todas as aves do
céu: as nações e povos que vão aderindo ao projeto de Deus, semeado por Jesus
em benefício de toda a humanidade. O Reinado de Deus é o ponto de encontro de
todos os povos, realização plena da humanidade no decorrer da história.
A conclusão da parábola mostra a
pedagogia de Jesus, adaptando seu ensino à capacidade da multidão e aos amigos,
discípulos que o seguiam de perto. Não se trata de capacidade intelectual
apenas, mas da adesão livre e consciente.
A primeira leitura e o Evangelho se
completam. Ezequiel, deportado no ano 597 para a Babilônia, vive o peso da
opressão: de sacerdote do Templo, transforma-se em agricultor e profeta para
transmitir esperança e animar o povo exilado. Apresentando Deus como
agricultor, anuncia que Ele tira um galho da copa do cedro e o planta sobre o monte
onde se encontra o Templo de Jerusalém. É Deus quem o fará crescer.
A história não sai dos trilhos. O
futuro está em suas mãos: faz a “árvore” elevada abaixar-se, eleva a que
rasteja e torna verde tudo o que está seco. A destruição de Israel, de sua monarquia,
de seu Templo e de sua capital, não é motivo para duvidar da fidelidade de Deus
em cumprir sua promessa. A descrição da árvore majestosa, cheia de frutos, com
pássaros se aninhando em seus galhos e à sua sombra, aponta para a sociedade de
iguais, acolhedora de todos os povos, sonho e promessa de Deus.
O Salmo 91 (92) é uma ação de
graças pelo nome do Altíssimo, pelo seu amor fiel e sua justiça. É bom
agradecer, tocando instrumentos e anunciando seu amor e fidelidade. No salmo, a
ação de graças é constante, dia e noite, a vida inteira, porque a bondade de
Deus manifesta-se em todas as coisas que Ele criou, principalmente, para nós,
em sua ação na Ressurreição de seu Filho, que a liturgia nos recorda e convida
a contemplar.
A segunda leitura mostra-se como
reminiscência do exílio da Babilônia, uma experiência histórica, exemplar e
dolorosa. A história que vivemos enquanto moramos no corpo é comparável ao
exílio, uma existência longe do Senhor, caminhando na fé e não na visão de
Deus.
“Habitar junto do Senhor” será a
recompensa para quem tiver feito o bem quando estava no corpo, colocando-se na
caminhada ascendente da história, como quem deixa o exílio e volta para pátria.
A história tem sentido e a pós-historia pode ser o seu grau máximo de plenitude!
3. Atualizando a
Palavra
A Palavra nos incentiva à fé na ação de Deus na
história. Ela torna a história prenhe de sentido, grávida do Reino, aberta a
toda humanidade. Chama-nos à esperança no processo lento do crescimento da
semente e do broto do Reino, frágeis e pequenos, mas resistentes pela ação
constante de Deus.
O Reinado de Deus não crescerá pelo esforço humano nem
se desenvolverá com força e violência; seu desenvolvimento é misterioso como o
crescimento da semente plantada no silêncio da terra. Exige esperança e
paciência, como acontece com quem prepara a terra e planta, pois a vitalidade,
a capacidade de crescer se encerra na semente embora cultivemos, plantemos e
cuidemos do terreno.
O poder escondido e misterioso da vida acontecerá a seu
ritmo. Foi Deus quem inseriu a força vital e é Ele que continua agindo na
semente. É Deus quem faz crescer o Reino (cf. Tg 5,7; 1Cor 3, 6-7).
Ele foi plantado na terra pela encarnação, vida e ação
de Jesus Cristo. Ele crescerá em direção ao projeto indestrutível de Deus, O
acontecimento “Jesus” jamais será apagado da historia. Essas são a fé e a
esperança inquebrantáveis. Muitos homens, mulheres e seus projetos podem
recusar a realidade trazida por Jesus de Nazaré, mas não serão capazes de
destruí-la jamais!
Jesus de Nazaré e seu projeto são sementes de mostarda
pequenas, mas fecundas. Ele é o novo ramo de cedro; é a árvore frondosa,
nascida de pequena semente verde, e onde todos podem se abrigar, principalmente
os pobres e marginalizados.
Nossa esperança não é risco, mas uma certeza. Jesus é o
Senhor da história e de sua meta final, mesmo que os projetos grandes e
opressores da terra teimem em desmentir essa verdade esperançosa. A luta da
comunidade cristã para a transformação do mundo não é medida pelos êxitos e
fracassos, mas pela confiança com que adere ao Senhor e caminha nos seus
passos.
A Palavra de Deus nos desliga da ideologia de um reino
ostensivo, de uma religião triunfalista, que se anuncia com ufanismo, grandeza
visível e numérica. Mas nos convida a nos decidir à missão e ao serviço na
comunidade que cresce organicamente, a partir do que é pequeno e, às vezes, até
invisível ao mundo.
4. Ligando a Palavra e
a Eucaristia
Na celebração, fazemos memória de Jesus que assumiu a
fraqueza humana, pequeno grão lançado na terra pelo Pai e que, na força do
Espírito, rompeu-se e desabrochou vitorioso no mistério de sua Páscoa.
Inaugurou um Reino de muitos, aberto a todos, a partir dos pequenos, eliminando
os limites de espaço e de tempo.
Hoje, confessamos confiantes e humildes nossa
fragilidade e pequenez, mas nos alegramos porque Ele nos reúne em seu amor,
como povo consagrado para o serviço de seu Reino.
Bendizemos ao Pai por tantos sinais do Reino presentes
entre nós. Suplicamos que o Senhor multiplique o pouco que somos, segundo a
medida de seu amor.
Damos graças, unindo-nos a todos que se fizeram sementes
do Reino, doando sua vida na radicalidade de sua fé, a serviço da vida.
Alimentados pelo pão da Palavra e pelo pão da
Eucaristia, voltamos à missão para viver o que celebramos, conscientes do
crescimento da semente de mostarda na vida e na história, inspirados na oração
do dia: “...força dos que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo e, como
nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça”.
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