Este homem de Deus que viveu em meados do século IV, e teve grande contato com homens como Evágrio Pôntico, João Crisóstomo e Leão Magno, tinha na amizade uma das mais belas experiências da vida cristã, deixando-nos consignado alguns princípios quanto a este assunto que vale a pena serem meditados :
1) a amizade é um bem tão precioso que deve ser preferido a qualquer bem material.
A amizade entre as pessoas não será duradoura se cada qual preferir seu conforto, suas riquezas ou sua saúde à felicidade do outro.
A posse ou a apropriação de bens materiais pode ser um obstáculo ao bom entendimento. A regra poderia ser a seguinte: “tudo o que é meu é teu”, e nunca “tudo o que é teu é meu”, a não ser que me faças dom ou compartilhes o que te pertence.
2) Nunca impor a sua vontade
Entre amigos, em vez de formulações do tipo “você deve” ou “está obrigado a”, são utilizadas expressões como “se você deseja”, “se você puder”.
3) Tudo o que é útil e necessário deve ceder lugar ao amor e a paz
A única razão de ser de uma comunidade cristã consiste em vivenciar o amor no mundo e mostrar que é possível viver juntos sem que as pessoas se dilacerem, tenham inveja, ciúmes e se destruam...
4) Seja qual for o motivo, nunca ficar com raiva
A ira pode transformar um homem em um demônio. A ira nos afasta de Deus e nos torna incapazes de efetuar nossa tarefa que é orar. Não é possível viver uma vida em comum entre pessoas que, mutuamente, não param de se julgar, avaliar e comparar.
5) Considerar os defeitos e pecados dos outros como seus.
Nunca acusar os outros, mas sempre se auto-acusar, não por sórdido sentimento de culpa ou masoquismo, e sim para descobrir a eficácia não violenta de tal método. Empreender a mudança em si mesmo, antes de pretender mudar os outros.
Lutar contra as injustiças existentes no mundo é começar a combater tudo o que há de injustiça em nós mesmos.... A santidade de um só incrementa a santidade de todos.
6) Pensar que, em qualquer instante, podemos emigrar deste mundo.
... o pensamento da proximidade da nossa morte que pode avivar nosso desejo de amar. A vida é curta, resta-nos o dia de hoje para amar; a proximidade da morte dá sentido, também, ao momento presente.
... o demônio é aquele que nos rouba o instante presente, ou seja, o instante favorável (kairos); cada instante é, efetivamente, uma oportunidade única, insubstituível, de amar e ter consciência de nossa atitude.
Mas há uma condição para que esta amizade se cumpra em nossas vidas:
“Entre dois seres, o que é indissolúvel é o Outro, o grande Terceiro, o Amor que existe ‘entre nós’ e, felizmente, não é nós, não depende de nossos humores, nem de nossas idéias. Sem esta referência comum a uma transcendência, nenhum casal, nenhuma comunidade, nenhuma Igreja, nenhum povo, nenhuma nação poderiam subsistir”.
A†Ω
Os trechos desta postagem foram retirados da obra de Jean-Yves Leloup, “Introdução aos Verdadeiros Filósofos”, Editora Vozes, 2ª edição, pág. 157-164.
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