Vigiai
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Deus vem: na vida humana surge um acontecimento que transtorna tudo, lança por terra todas as nossas seguranças e nossos projetos. Repentinamente ele se aproxima de nós e faz parte da nossa história; reconhece-o presente aquele que tem os olhos abertos, que espera e prepara um mundo novo. O anúncio profético parte de uma realidade decepcionante: um pequeno povo, sem importância para ninguém, será o centro religioso e espiritual de todos os povos, finalmente em paz. Isso só pode ser obra de Deus, inspirador, norma e termo do caminho da humanidade. E só aos olhos da fé é possível discernir o desígnio que se vai formando através dos acontecimentos banais, obscuros, pouco significativos; um desígnio que Deus revela como proposta sua para o crescimento e o bem de seus filhos, uma realização cujo acabamento não nos é dado conhecer, mas que um dia certamente se completará.
Ficai preparados
Na expectativa daquele dia é preciso vigiar, ficar preparados, agir com prudência e desapego, mas com empenho, pois no seio da história amadurece o plano de Deus. O tempo que se estende entre a vinda de Cristo e a sua manifestação na glória é reservado à conversão dos homens (At 3,19-21; Rm 11,25; 2Cor 6,2) e ao fortalecimento dos que creem (Ef 6,13; Rm 8,11), um tempo humano contendo em si o tempo de Deus, permitindo viver já na eternidade.
Só a graça de Deus e a conversão nos podem libertar das trevas e introduzir na "luz" da salvação. Por isso, Paulo fala em "acordar": a noite já passou; ninguém se comporta durante o dia como se estivesse dormindo!
A situação descrita pelo evangelho como insensatez e imprevidência - comer e beber, divertir-se, dormir, disputar, todos os desejos da carne - repete-se em nossas comunidades e em cada um de nós, e nos caracteriza perante o Deus que vem. Trata-se de tomar uma decisão fundamental, que depois encontrará nos diversos momentos a sua expressão concreta: tomar consciência da nossa pobreza, para esperar o Salvador; tomar consciência da responsabilidade que Deus nos confiou, despertando-nos do sono e iluminando-nos com sua palavra; esperar vigilantes sua vinda definitiva, quando se cumprirão todas as promessas e nos encontraremos com ele, a quem amamos sem tê-lo visto e no qual pusemos nossa fé (1 Pd 1,8).
A queda de Jerusalém surpreenderá os judeus como o ladrão da parábola surpreendeu o proprietário. Mas só para os negligentes, como eram os contemporâneos de Noé (evangelho), a vinda de Cristo se parecerá com a de um ladrão; para os que estiverem "vigilantes" na expectativa dos primeiros sinais do Reino, Cristo virá como um amigo (Ap 3,20-21).
Esperar o Cristo...
O ritmo da vida atual, cada vez mais agitado, as engrenagens de um sistema que pretende planejar todos os momentos do homem, mesmo o que há de mais privado, reduzem cada vez mais os limites do imprevisto. Tudo deve ser passado pelo computador, classificado, neutralizado, assegurado. Mas para o cristão, Cristo continua a ser um acontecimento revolucionador: quando irrompe em sua vida, impõe uma mudança radical que quebra e transforma a rotina cotidiana. Cristo não pode ser programado; deve ser esperado; devemos deixar em nossa vida um espaço para sua presença. A vigilância cristã permite ler em profundidade os fatos para neles descobrir a "vinda" do Senhor. Exige coração suficientemente missionário para ver essa vinda nos encontros com os outros.
...Senhor de Paz
O Senhor não vem no meio do ruído, não se encontra na agitação e na confusão. Veio na paz e para a paz. Uma palavra tão usada que se tornou banal: chama-se "paz" uma espécie de equilíbrio provocado pelo medo; todos falam de paz numa sociedade impregnada de violência e de opressão do homem pelo homem. Hoje desaparece até a paz mais simples, a da família. Só Cristo pode reunir os homens dispersos pelo egoísmo e fazer de todos um único povo pacifico a caminho do monte de seu Templo.
A hora de Deus chega até nós, porque cada instante da nossa vida contém a eternidade de Deus. É preciso não nos basearmos unicamente na sabedoria humana, e não esperarmos a intervenção ostensiva da parte de Deus. E no momento atual que é dada a salvação. Toda opção que se faz no presente, entre a luz e as trevas, é um sinal da vinda do Filho do homem.
A assembleia eucarística é a Igreja em estado de vigilância, que aprende a ler a vinda do Senhor nos acontecimentos e que encontra o Senhor da glória na história da salvação e na dos homens.
A†Ω
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