É essa pronúncia que nos torna filhos de Deus.
São João da Cruz diz que: " Deus em toda a sua vida pronunciou uma única palavra, e essa palavra é seu Verbo, gerado no silêncio, e apenas no silêncio haveria de ser escutada”.
Vejam bem, meus caros: a Palavra é concebida no silêncio, lá onde somos nós mesmos, lá onde o presente delineia o futuro, lá onde o horizonte se abre e nos enche de esperança para que a vida aconteça valendo à pena.
É preciso que encontremos a Palavra ali, no interior de nossa vida, nas suas reclamações, no interior de nós mesmos, no meio dos demônios, que se alimentam do nosso nada.
Lá, ele diz: “Que tens a ver conosco, Filho de Deus?” Da mesma forma, que a pronúncia da Palavra de Deus cria o universo do nada, essa mesma pronúncia nos recria sempre a partir de nosso nada!
Para tanto, é preciso que Jesus, homem sem pecado (seria absurdo porque gerado dentro da própria natureza divina; Ele é, pois, o alvo!) entre em nossa vida, visite-a, como visitou aquela região inóspita.
Afinal, que tem Ele a ver conosco? Que tem Ele a ver com nossas sepulturas, por meio das quais continuamos a andar, em lugares onde ninguém pode chegar perto, sob pena de haver uma violência? Que tem ele a ver com nossos demônios e nosso inferno?
Diz São João Crisóstomo: “Jesus Cristo entrou no abismo conquistando os infernos. Naquele dia, ‘Ele despedaçou as portas de bronze, quebrou os ferrolhos de ferro’, como disse Isaías (Is 45,2)”. Esse é um trecho de sua homilia sobre a palavra “cemitério” e sobre a cruz.
São João Crisóstomo se refere à descida à Mansão dos Mortos. Essa descida se deu hoje, no coração do endemoninhado de Gerasa, em meu coração, e em teu coração. Hoje, ele quebrou trancas de ferro, arrombou portas de bronze.
Somos livres. E nossa liberdade consiste nisto: em escutá-lo, em transfigurarmo-nos conforme a moção do seu Espírito (Sopro, Voz) em nosso interior. Escutemo-lo, para não sermos mais joguetes dos demônios.
E rezemos com o salmista (Salmo 106):
– 10 Alguns jaziam em meio a trevas pavorosas, *prisioneiros da miséria e das correntes,
– 11 por se terem revoltado contra Deus *e desprezado os conselhos do Altíssimo.
– 12 Ele quebrou seus corações com o sofrimento; *eles tombaram e ninguém veio ajudá-los!
– 13 Mas gritaram ao Senhor na aflição *e Ele os libertou daquela angústia.
– 14 E os retirou daquelas trevas pavorosas, *despedaçou suas correntes, seus grilhões.
– 15 Agradeçam ao Senhor por seu amor *e por suas maravilhas entre os homens!
– 16 Porque ele arrombou portas de bronze *e quebrou trancas de ferro das prisões!
– 17 Uns deliravam no caminho do pecado, *sofrendo a conseqüência de seus crimes;
– 18 todo alimento era por eles rejeitado *e da morte junto às portas, se encontravam.
– 19 Mas gritaram ao Senhor na aflição *e Ele os libertou daquela angústia.
– 20 Enviou sua palavra e os curou *e arrancou as suas vidas do sepulcro.
– 21 Agradeçam ao Senhor por seu amor *e por suas maravilhas entre os homens!
– 22 Ofereçam sacrifícios de louvor *e proclamem na alegria suas obras!
– Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo,*
Como era no princípio, agora e sempre. Amém!
A†Ω
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