Existem dois desafios radicais na vida das pessoas em relação à própria sexualidade. A sexualidade é um assunto radical porque toca as fibras mais profundas e íntimas do nosso ser.
Para quem é casado, o desafio consiste em permanecer polarizado pelo amor que conquistou um dia seu coração, e a quem prometeu fidelidade. É difícil realmente permanecer fiel ao primeiro amor. No fio dos anos, vão aparecendo novas pessoas que seduzem o nosso coração, e parece que a pessoa com a qual nos comprometemos não corresponde às nossas expectativas, e então não vai nos proporcionar as experiências às quais temos “direito”. O que fazer para não viver o resto da nossa vida frustrados, sem faltar à nossa palavra? É realmente necessário cumprir essa palavra; não será que vai nos tirar a paz e a devida liberdade?
Para quem é consagrado ao Senhor, o desafio é suportar com paz as incitações da carne e viver com liberdade de espírito a castidade que ele prometeu a Deus. Há quem pensa que entrando no seminário ou emitindo os votos de consagração as dificuldades vão desaparecer. Mas isso não acontece, porque Deus não muda a nossa condição humana, simplesmente nos dá a graça para cumprir o voto.
Você acha que há alguma receita para viver a própria sexualidade?
Quero apresentar três tópicos que fazem a diferença: conhecer, renunciar, amar.
CONHECER
O primeiro ponto-chave do tema é o conhecimento. A maioria dos erros que se cometem nesta matéria são devidos à falta de conhecimento: a nível pessoal, conhecimento da sexualidade em si e da sua finalidade, conhecimento da psicologia do parceiro, conhecimento do projeto divino para a criatura humana.
Há uma dificuldade em se entender, sobretudo da dimensão emocional, embora às vezes também a nível fisiológico. Isto é devido ao desconhecimento da estrutura da personalidade humana. Nós temos uma dimensão fisiológica, outra psicológica e outra espiritual. Precisamos compreender que a nossa sexualidade está inserida nas três dimensões, e o mesmo amor tem uma repercussão nas três áreas. Desconhecemos o motivo real das reações emocionais e fisiológicas. Às vezes nos sentimos com reações instintivas, e a nossa razão é deixada de lado diante da “inspiração” do momento. Não sabemos que o amor não se dá, mas se constrói. Pensamos que para viver basta seguir os impulsos, embora a experiência nos diz que não é assim mesmo. Somos mais complicados do que parecemos.
Há dificuldade também para entender e aceitar o parceiro, ou os outros em gerais. Esquecemos que ele também possui defeitos e pode errar como qualquer. Desconsideramos que há uma maneira diferente de pensar entre o homem e a mulher, e podemos ser impacientes no relacionamento mútuo justamente por causa disso. É necessário conhecer o modo de ser da pessoa em geral e da outra pessoa em concreto; isto resolve muita coisa. Este conhecimento não é fruto da paixão, mas de uma reflexão ponderada, e também de um estudo através de leituras sérias.
Mas é também necessário conhecer o plano de Deus sobre a sua criatura predileta. Deus nos fez complementares homem e mulher para encontrar a plena felicidade dentro de um matrimônio onde há um amor afetuoso, cordial, generoso e desinteressado. Elementos que nós tocaremos nos seguintes pontos.
Quem é consagrado precisa conhecer a sua natureza humana com os elementos aqui mencionados. Ser consagrado não é fácil (como também casar não é fácil); a decisão precisa ser muito consciente, madura, e confirmada durante a vida. A única justificação da renúncia do plano natural de Deus é para um amor maior que vai satisfazer em modo maior a própria vida.
RENUNCIAR
O segundo tópico é a necessidade da renúncia. Tudo que vale a pena na vida tem um preço. A sexualidade bem vivida tem um preço. Deus mesmo disse ao homem que era necessário renunciar ao pai e à mãe para se unir à sua mulher. O sentido da renúncia é adquirir o domínio dos próprios impulsos para poder se entregar ao amor e adquirir uma visão reta dos demais – como pessoas humanas, não objetos de prazer. A renúncia é exigente porque o bem a alcançar é grande: o amor.
Se não aprendermos a renunciar a nós mesmos, corremos o perigo de perder o dom precioso que é a outra pessoa, porque o egoísmo leva as pessoas a afastarem-se umas das outras. Ao contrário, a renúncia manifesta que o marido ou a mulher tem mais importância que eu, e isso leva a maior unidade. É belo poder contar com uma pessoa que pensa em nós, que se preocupa de nós, que nos ama sinceramente.
Este ponto é o mais difícil dos três que estamos comentando. Não vou dizer que é o mais importante, sendo os três necessários, mas é imprescindível para construir um relacionamento estável.
O conteúdo desta renúncia é o controle dos nossos instintos olhando para a verdade da sexualidade, que precisamos descobrir. Se os nossos instintos nos levam a buscar no relacionamento inter-pessoal o prazer por acima de tudo, o controle permite respeitar a verdade que a pessoa deve ser buscada por acima de tudo. Requer às vezes deixar de alimentar os nossos sentidos internos e externos, que ficam excitados pelo prazer sensual, para serenar o nosso espírito, distraindo o concentrando-nos em outras ocupações. Requer às vezes evitar certas ocasiões em que seremos tentados, ou cuidar o nosso modo de expressar a nossa afetividade com outras pessoas, que poderia nos levar a uma intimidade que não cabe.
A dificuldade aumenta quando a paixão é mais forte. Os nossos instintos podem se comparar a um cavalo que precisa ser domado. Precisamos dar um freio para não perder o controle.
É também difícil para a alma consagrada, que sabe que haverá de renunciar para sempre a aquilo. O sentido pleno desta renúncia se encontra no terceiro tópico: o amor.
AMAR
Não é possível viver plenamente a sexualidade sem o amor. Dito de modo positivo: o amor é que da o sentido último à vida do homem, e que lhe permite viver plenamente a sua sexualidade.
Que descanso para um marido saber que ao chegar ao lar vai encontrar uma pessoa que o acolhe! São esses braços, esse beijo carinhoso, o sorriso dos filhos que lhe dão o sentido da sua vida. O amor traz a harmonia e a serenidade no lar.
Mesma coisa para o consagrado: se ele ama de verdade, não vai prestar atenção às incitações da carne, porque o que lhe interessa é ajudar e fazer o bem aos outros. E o amor sempre traz retorno, como um espelho: atrai mais uma gota de mel que um barril de vinagre. Quem ama também se sabe amado. O amor orienta as forças do coração do consagrado, sendo que o amor é uma conquista, não um elemento já dado.
O amor, como a sexualidade, se vive em três dimensões: na dimensão da paixão mais carnal, na dimensão emotiva e na dimensão espiritual, que é a doação generosa e desinteressada. O amor dá equilíbrio aos sentimentos e aos impulsos porque os canaliza nas pessoas certas e no modo certo.
Santo Agostinho bem dizia: “Ama et fac quod vis”, ou seja: ama e faz o que queiras. Quem ama de verdade sente a liberdade de expressar a sua sexualidade e a sua afetividade com todos, porque ele é puro.
Que estes três tópicos te possam ajudar a viver melhor a tua sexualidade: conhece, aprende a renunciar a você - mesmo, ama muito!
Pe. Daniel Guindon LC
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