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De coração a coração
Nossa verdade é sempre o ponto de partida para a realização do novo.
"Lidar consigo mesmo é trabalho de artesão, fio a fio e leva tempo, pra dominar o coração...”
Essas palavras são da Ziza Fernandes, na música “De coração a coração”. Eu as tomo emprestadas para falar da bela e desafiante arte de lidar conosco mesmos.
Talvez você, como eu, até já encontrou soluções fáceis para problemas considerados difíceis na vida de outras pessoas. Mas quando a vida exige de nós uma autocompreensão, somos colocados frente a um grande desafio. É um trabalho realmente comparado ao do artesão, não acontece do dia para a noite, nem da maneira que talvez esperávamos. É mesmo uma obra de arte, feita fio a fio, ponto a ponto e leva-se um longo tempo para contemplá-la por inteiro; se é que a contemplaremos.
Com freqüência ouvimos falar que os problemas de ordem física e espiritual, que assolam a humanidade, estão estreitamente ligados às dores da alma. Ou seja: sofrimentos e traumas interiores que não foram partilhados, resolvidos ou curados, dos quais se destacam a depressão e as síndromes do medo e do pânico.
E daí vem a pergunta: mas o que fazer diante disso? E este é nosso principal desafio: mostrar alternativas para nós mesmos e para os que nos procuram em busca de ajuda. Volto à música que citei no início do texto: “Renúncia, dor e alegria, surpresa, perdão, euforia.
Só podem partir de um lugar, vêm do coração…
Capaz de sorrir, capaz de odiar, destruir e recomeçar...
O coração foi feito somente pra amar. Capaz de acolher, capaz de chorar. Se perder e reconciliar. O coração foi feito somente pra amar...”
Ou seja, tudo parte do coração, que foi feito somente para amar. É exatamente por essa razão que ele precisa estar centrado em Deus, fonte absoluta de todo amor e, portanto, de todo bem.
Acontece que, em meio a tantas ofertas e ruídos, não é tão fácil centrar o coração em Deus. Naturalmente, a vida vai exigindo de nós respostas, posturas e decisões que revelam o que somos e fazemos neste mundo.
Essas exigências naturais – somadas às nossas fraquezas, medos, carências, ansiedades, sentimentos de rejeição, de auto-suficiência, de frustrações – fazem uma combinação na qual fica em evidência nossa insegurança. Por isso, com freqüência, falta-nos arte para lidar conosco mesmos e corremos o risco de nos perder procurando nos encontrar.
É preciso pedir ao Senhor sabedoria para superar o desafio de “lidar conosco mesmos”, sem nos prejudicar nem ferir os que estão ao nosso lado. Já que a tendência é transferirmos nossas culpas para outros e até fugirmos do espelho que aponta nossa verdade.
É também necessário ter calma, pois quando não conseguimos administrar as exigências que sofremos, nosso físico se manifesta por meio de enfermidades e desequilíbrios; não raras vezes desviando-nos da meta que Deus traçou para nós.
A exemplo do artesão, precisamos ser pacientes. Por essa razão, concordo com a afirmativa: “Lidar consigo mesmo é uma arte, que requer paciência, sensibilidade e, principalmente, uma pedagogia que somente Deus pode nos dar”.
É essencial ter a consciência de que quanto mais mergulharmos em Deus, tanto mais contemplaremos a nós mesmos e seremos por Ele restaurados.
Recorramos, portanto, ao auxílio da graça divina para lidar com esse mistério que somos nós mesmos.
Considerando nossa história e valorizando nossas raízes, podemos compreender melhor nossas fragilidades e assumir nossa identidade.
Acredito que essa seja a condição fundamental para alcançarmos a cura interior e a maturidade emocional. Quem não assume o que é, vive fugindo e, portanto, não é feliz nem se encontra com ele mesmo. Nossa verdade é sempre o ponto de partida para a construção da obra nova, que Deus quer realizar em nós a cada dia.
Que tenhamos hoje a coragem de pensar sobre quem realmente somos, do que temos fugido e onde está a raiz dos sentimentos que habitam nosso ser.
Diante dessas descobertas, mergulhemos em Deus que, de Coração aberto, sempre nos espera.
A†Ω
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