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Quero apresentar para vocês a figura de Maria como mulher nova.
É interessante considerar que no relato da criação, Eva vem apresentada como “a mulher”. Deus pergunta “à mulher” porque ela tomou do fruto proibido. Isto para fazer-nos entender que em Eva estão representadas todas as mulheres, como em Adão estão presentes todos os homens. Não é só Eva que pecou, somos todos nós. Do mesmo modo que dizemos que não são somente os judeus crucificaram Jesus, mas os pecados de todos nós.
Tendo claro isto, maravilha-nos descobrir esta mesma expressão “mulher” no evangelho de São João em duas ocasiões, e referidas a Nossa Senhora. E é o mesmo Jesus que chama assim à sua mãe. A primeira vez acontece em Caná de Galiléia, quando na boda faltou vinho. Maria se aproximou de Jesus para pedir que fizesse um milagre. Jesus responde: “Mulher, o que há para mim e para ti. A minha hora ainda não chegou.” A segunda ocasião é na crucifixão. Jesus vê ao pé da cruz a sua mãe e o discípulo amado. Então fala para ela: “Mulher, eis ali o teu filho”.
Nós precisamos entender que São João não colocou casualmente esta expressão na boca de Jesus. Jesus Cristo é o novo Adão, como São Paulo o explica nas cartas (Rm5,12 ss). Mas não é só a figura do homem que é redimida, mas também a figura da mulher. Maria encarna o modelo da mulher nova que surge a partir da Redenção.
Não só a culpa de Adão precisa ser reparada, mas também a de Eva. Eva dialogou com Satanás e desobedeceu à lei de Deus, tornando-se causa da entrada do pecado no mundo. Maria não dialoga com Satanás, mas com o anjo enviado por Deus, Gabriel. À sua palavra ela responde “sim, sou a escrava do Senhor”. Ela obedeceu e assim se transforma em causa material da graça, porque do seu seio nasce o Salvador.
Com este preâmbulo podemos explicar agora os dois textos do evangelho de São João que se referem a Maria como mulher. Em primeiro lugar, consideramos o banquete das bodas de Caná: este simboliza a nossa relação com Deus. Pois quando no antigo testamento Deus selou a aliança com Moisés, entregando-lhe as tábuas da lei, Moisés e o povo comeram na presença de Deus. O sangue do sacrifício do cordeiro representou o selo do pacto. Mas o povo não cumpriu a aliança e foi infiel aos mandamentos de Deus. Assim, o povo quebrou a aliança, e a comunhão com Deus foi rompida. Na passagem de Caná, Jesus diz para a sua mãe, tendo em conta esta alegoria: “Mulher, não tem vinho e não é nem a tua culpa nem a minha, porque nós somos as únicas criaturas que não têm pecado. A minha hora de reparar o pecado e de reconciliar a humanidade com Deus ainda não chegou. Não está na hora de comer e de beber.” Mas Maria, a mulher nova, insiste para Jesus, o novo Adão, e é causa do milagre da água transformada em vinho.
Na cruz, Jesus chama a sua mãe por segunda vez de “mulher”. A sua hora chegou por fim. Ele, o novo Cordeiro de Deus, derrama seu sangue para purificar os nossos pecados. É como se, vendo a sua mãe sofrendo penosamente pela sua morte, dissesse para ela: “Mulher, agora sim da para comer e beber, porque com a minha obediência restabeleço a comunhão entre Deus e a humanidade. Você não é simplesmente a minha mãe. Você é a nova Eva, a mãe de todos os viventes, os renascidos pela graça: eis aqui o teu filho.”
São João por fim, no Apocalipse ao capítulo 12, apresenta esta mulher na glória do Céu: “uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas na sua cabeça”. As doze estrelas representam as doze tribos de Israel, quer dizer, o novo povo que é a Igreja.
Maria é a mulher nova. Ela nos ensina com seu “sim”, com toda a sua vida de entrega e de generosidade como é a mulher da nova vida. Nós queremos colocar-nos sob o seu manto, para que ela nos proteja do inimigo. Queremos olhar para ela e tomá-la como exemplo, como modelo de mulher e de mãe valente, generosa, autêntica, fiel, cheia de amor para com Deus e com a humanidade.
Pe. Daniel, L.C.
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