O amor maior
“Deus é amor” não é uma sentença metafísica. É uma expressão abreviada, que quer abrir nossos olhos para a
presença de Deus na realidade do amor, e isso, sob dois aspectos: o amor
que se revela na doação de Cristo por nós (o amor como dom) e o amor
que nós devemos praticar para com os filhos de Deus (o amor como
missão), sendo que o primeiro é modelo e fundamento do segundo. Assim,
“amor” não significa, antes de tudo, que nós amamos a Deus, mas que Deus
nos amou primeiro, dando seu Filho por nós (1Jo 4,10).
Este amor, manifestado na doação do Filho de Deus, é o maior:
“Ninguém em amor maior do que aquele que dá sua vida por seus
amigos” (Jo 15,13) “Amigos”, nestas palavras de Jesus, deve
ser entendido no sentido de
“aqueles que ele ama”, pois o modelo de nosso amor é o que amou
primeiro.
O amor do Cristo é que nos tornou seus amigos. Amigos em vez
de servos. Cristo não nos amou porque éramos amáveis, mas seu amor nos
tornou amáveis (cf. Rm 5,7-11). Assim, deve ser também o nosso amor
pelos irmãos. Um pouco como aquela mulher que tem um marido não muito
brilhante, porém muito amável a seus olhos, porque ela o escolheu (cf 15,16).
O amor de Cristo por nós existe numa comunhão total, expressa, em Jo
15,15, em termos de “revelação”: Jesus nos revelou tudo aquilo que ele
mesmo ouviu do Pai (cf. Jo 1,18). É a plena clareza da amizade, não a
manipulação que caracteriza a relação servil. Quando Jesus nos envia
para produzir fruto, para expandir seu amor, não devemos considerar isso
como uma carga, mas como comunhão, participação de sua missão que o Pai
lhe confiou em união de amor.
Podemos ainda perguntar por que este tipo de amor é o maior. A
comparação sugere que existem outros amores, menores. É o maior, porque
ele não é condicionado por outra coisa, por privilégios, proveitos,
compensações – afetivas e outras – etc. É o maior, porque é gratuito e,
nesta gratuidade, vai até o limite: a doação total e gratuita de si
mesmo em favor do amado. É o amor até o fim de que falou João no início
da narração da Ceia (13,1).
Jesus nos confia a missão de repartir (e multiplicar) seu amor “para
que sua alegria esteja em nós e nossa alegria seja levada à perfeição”
(15,11). Isso, porque amar-nos até o fim é sua alegria, pois é a
realização de seu ser, de sua comunhão com o Pai. É evidente que só
seremos capazes de encontrar nossa plena alegria neste amor doado até o
fim, na medida em que comungarmos com Cristo e assumirmos seu amor total
como sendo a verdadeira vida. Quem se procura a si mesmo, não pode
conhecer a alegria cristã.
O amor de Deus, manifestado em Cristo, toma a iniciativa e vai à
procura de todos quantos possam ser amados.
Ora, procurando amar a
todos, Deus “escolhe” cada um que ele quer amar, e ama-o com amor de
predileção (para Deus, isso não faz nenhum problema, pois ele não é
limitado material e afetivamente). Deus ama o Filho. Este nos revela o
amor do Pai amando-nos até o fim. E nós somos chamados a fazer o mesmo,
para a multidão dos que podem ser nossos irmãos e filhos de Deus (e
isso, não o podem somente os que não querem). Esta é a dinâmica do amor
universal de Deus. Não ama “em geral”. Ama a cada um como amigo. Daí a
necessidade de que estes amigos sejam unidos entre si por este mesmo
amor. Este amor que forma comunidade é destinado a todos os que não se
opuserem a que Deus os ame assim.
Deus não conhece
acepção de pessoas, nem se deixa influenciar por divergências de sistema
religioso. O que ele quer mesmo é congregar todos os seus filhos num
mesmo amor pessoal. Pedro, chefe da comunidade cristã, é escolhido para
ser o instrumento desta missão, superando, inclusive, os tabus do
sistema judaico, em que ele foi criado (At 10,9-16). Ora, quando ele vai
ao encontro de seu campo de missão, já encontra os destinatários
animados pelo Espírito de Deus.
Como poderia recusar-lhes o batismo?
como diz uma música que gosto muito, "se compre densemos um pouquinho desse amor seriamos mais feliz e deixaríamos de mendigar qualquer amor."
ResponderExcluir