Deus é amor
Neste domingo, a liturgia proclama, na 2ª leitura, a palavra do
apóstolo João: “Deus é amor”. E o evangelho – continuação de domingo
passado – apresenta Deus como a fonte do amor que animou Jesus a dar
sua vida por nós, ensinando-nos a amar-nos mutuamente com amor radical.
”Deus é amor” não é uma definição filosófica. É a expressão da mais
profunda experiência de Jesus. A experiência de Deus que Jesus teve
foi uma experiência de amor. Essa experiência, ele a fez transbordar –
sobretudo pelo dom
da própria vida – sobre os discípulos, que a proclamaram para a
comunidade. “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo. Permanecei no
meu amor. [...] Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim
como eu vos amei” (Jo 15,9.12). Amar é participar do mistério de Deus
que se manifesta em Jesus. Amar, recebendo e dando amor. Pois o amor é
dom que recebemos do Pai, no Filho, e missão que consiste em partilha-lo
com os irmãos. Nisso está nossa alegria (15,11).
Aprofundemos mais esse dom gratuito do amor de Deus por nós. “Ninguém
tem amor maior que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (15,13).
Amigos, não no sentido de parceiros (com interesses comuns, comparsas de
máfia…), mas no sentido de amados – amados por serem filhos de Deus. O
amor que se tem mostra-se no dom da própria vida. Isso se verifica em
Jesus. Nele, “Deus nos amou primeiro”(1Jo 4,10). Não tínhamos nada a lhe
oferecer, mas seu amor nos tornou amáveis.
O amor de Cristo por nós existe na comunhão total: Jesus nos revelou o
que ele mesmo ouviu do Pai (Jo 15,15): na amizade de Cristo reinam
plena clareza e transparência. Nada de manipulação ou de submissão.
Assim, quando Jesus nos envia para produzirmos fruto (15,17), isso não é
uma carga que ele nos impõe, mas participação na missão que o Pai lhe
confiou. Para isso, ele nos escolheu. Em Jesus, o amor de Deus nos
escolheu.
Ora, amor é comunhão. Não vem de um lado só. Assim, como o amor de
Deus veio até nós em um irmão, Jesus, assim ele frutifica nos irmãos e
irmãs que amamos. Deus, fonte inesgotável de amor, não precisa de
compensação pessoal por seu amor. Ele se alegra com os frutos que nosso
amor produz quando comunicamos o amor em torno de nós (15,8).
Que Deus seja protagonista da criação do universo e da humanidade por
amor é questionado hoje. Não é o universo um caos que se organiza
através de violentas explosões? Não é a vida animal e humana uma luta de
sobrevivência na competição? Este modo de ver está por trás da
ideologia neoliberal. Nós respondemos: o amor não é dado, pacificamente,
desde o primeiro dia da criação. Ele é a última palavra de Deus, e tem a
forma de Jesus, que conheceu o conflito, mas venceu o ódio, sendo fiel
até à morte, conseqüência do amor que ele mostrou e deixou como legado
aos seus discípulos.
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