Maio
Retiro Pessoal
Na época em que viveu o profeta Jeremias, seis séculos antes da nossa era, a pequena nação de Judá, assaltada por todos os lados, procurou segurança em duas promessas do Senhor. A primeira diz respeito à Cidade Santa, Jerusalém. Fundada pela grande fé do Rei David, cujos descendentes estavam ainda no trono graças a uma «aliança perpétua» (2 Samuel 23,5; ver cap. 7), com a reputação de ser inabalável: «Deus está no meio dela, não pode vacilar; Deus irá em seu auxílio, ao romper do dia» (Salmo 46, 6).A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: Coloca-te à porta do templo do Senhor e proclama aí este discurso: «Escutai a palavra do Senhor, habitantes de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor. Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Endireitai os vossos caminhos e emendai as vossas obras e Eu habitarei convosco neste lugar. Não vos fieis em palavras de mentira, dizendo: ’Templo do Senhor, templo do Senhor! Este é o templo do Senhor’. Mas, se endireitardes os vossos caminhos e emendardes as vossas obras, se verdadeiramente praticardes a justiça uns com os outros, se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes neste lugar o sangue inocente, se não seguirdes, para vossa desgraça, deuses estrangeiros, então, Eu permanecerei convosco neste lugar, nesta terra que dei desde sempre e para sempre a vossos pais. Contudo, eis que vos enganais a vós mesmos, confiando em palavras vãs, que de nada vos servirão. Roubais, matais, cometeis adultérios, jurais falso, ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são desconhecidos; e depois, vindes apresentar-vos diante de mim, neste templo, onde o meu nome é invocado, e exclamais: ’Estamos salvos!’ Mas seguidamente voltais a cometer todas essas abominações. Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos, um covil de ladrões? Ficai sabendo que Eu vi todas estas coisas - oráculo do Senhor.» (Jeremias 7, 1-11)
Esta confiança na Cidade era reforçada pelo facto de aí se encontrar o Templo de Salomão, «a casa do Senhor». Como ninguém poderia imaginar que Deus abandonaria a Sua casa no meio do Seu povo, todos se sentiam seguros e protegidos de tudo o que acontecesse.
Contudo… estas promessas eram parte de um todo, de uma relação com o Senhor a que se chama aliança. Com esta aliança, Deus comprometeu-se a cuidar dos filhos de Israel e estes, por sua vez, prometeram escutar e colocar em prática as Suas palavras (ver Êxodo 19, 1-9), os mandamentos, recapitulados em «Dez Palavras» (Êxodo 20).
Afastados do quadro da aliança, as promessas de Deus deixaram de ter consistência; tornaram-se palavras vazias ou, até, mentiras.
Foi por essa razão que, um dia, Jeremias foi enviado a permanecer junto à porta do Templo. Observando todos os que aí entravam, procurou desmascarar a ilusão de que a existência de um edifício, ainda que sendo a casa de Deus, poderia trazer a salvação por si próprio. A sua mensagem: se não se comportar como verdadeiro membro do povo de Deus, permanecendo fiel ao Deus único e praticando a solidariedade e a justiça para com o próximo, as profissões de religião de nada servem. Pior, constituem blasfémias, porque afastam os outros do Deus vivo (ver Ezequiel 36).
Não é surpreendente que, após esta intervenção, Jeremias tenha sido preso e ameaçado com pena de morte em nome da religião (ver Jeremias 26). Não se defende, mas afirma apenas que agiu, de fato, em nome de Deus.
Séculos mais tarde, um outro homem de Israel foi condenado à morte por palavras que supostamente proferira contra a religião do Templo, transformado num «covil de ladrões» (Jeremias 7, 11; Mateus 21,13). A Bíblia mostra-nos, assim, que a separação mortal entre as expressões de piedade e a verdadeira procura do Deus vivo pode conduzir à pior das confusões: uma certa religiosidade torna-se inimiga da fé autêntica.
Fé morta e Fé autêntica
A fé precisa ser mostrada ou demonstrada de três maneiras: 1o.) Sendo confessada (Rm 10,9); 2o.) Demonstrando esperança (I Ts 1,3) e 3o.) Motivando ação (Tg 2,14-18).
Dizer que acredita em Deus é muito pouco. Por vezes, pregadores são precipitados ao declarar que alguém foi ou está salvo simplesmente porque levantou a mão durante um apelo ao final de um sermão. Claro que todos nós, pregadores, torcemos muito para que a declaração ou o gesto que sinaliza fé seja confirmado com frutos. Porém, precisamos reconhecer o que Tiago ensina, que sem obras a fé é morta, não salva.
Demônios acreditam em Deus! Eles sabem que existe um só Deus (Tg 2,19). E nem por isso recebem o direito de retornar ao céu de onde foram expulsos. Podemos dizer que há pessoas que têm "fé inútil", fé como dos demônios. Gente que acredita em Deus, mas que não tem aliança com Ele.
Abraão é o personagem escolhido por Tiago para mostrar o que é fé autêntica.
I. A fé autêntica fez de Abraão um ADORADOR (Tg 2,21).
Há vários relatos em Gênesis de Abraão adorando em altares que ele mesmo estabeleceu para honrar a Deus. O pai da fé chegou ao ponto de entregar a Deus o filho da promessa, Isaque. A oferta de adoração no Monte Moriá é apontada por Tiago como fruto da fé que justificou a Abraão.
II. A fé autêntica fez de Abraão um CREDOR DE DEUS (Tg 2,23).
Abraão creu em Deus e isso redundou em "créditos de justiça" para ele. Isso quer dizer que o Pai da Fé tornou-se credor de Deus. Sim, nossa obediência e serviço a Deus nos outorga créditos junto ao Pai.
III. A fé autêntica fez de Abraão um AMIGO DE DEUS (Tg 2,23).
O próprio Deus foi quem chamou Abraão de seu amigo. Deus tem uma estirpe especial de pessoas. Por favor, entenda, que Deus não faz acepção de pessoas, porém, há um rol de pessoas diferenciadas.
Qualquer um de nós pode adentar a este nível de relacionamento com Deus. Basta seguir este roteiro de fé. Tanto é verdade que Tiago utiliza outro personagem do Antigo Testamento em sua argumentação, Raabe. A ex-prostituta que creu no Deus de Israel, auxiliou os espias israelitas, obedeceu e alcançou justificação (Tg 2,24). Você sabe que Raabe foi inserida não somente em Israel, mas na própria família do Messias!
O Deus do Impossível, conhecido como Deus de Abraão, está pronto a manifestar seu poder junto aos seus filhos, aos herdeiros da Promessa, ao povo que é diferenciado pela fé autêntica.
Para orar:
- Em que se baseia a minha confiança em Deus?
- Que compromisso da minha parte está implicado na certeza de que Deus permanente próximo de mim?
- Como podemos nós mesmos compreender melhor, e ajudar os outros a compreender, a relação entre a fé que professamos e as consequências dessa fé na vida quotidiana?
Santo retiro
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