DOMINGO X COMUM Ano B
“Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura.” Mc 3, 32
Procurar
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De duas procuras nos falam as leituras de hoje. A de Deus, que
procura o homem recentemente criado e já distante e prisioneiro de uma
autosuficiência que gerou o medo, e a dos irmãos e da Mãe de Jesus que,
ouvindo falar do que dizia e fazia, não entendem e julgam-n’O “fora de
si”. A primeira parece uma síntese do que vai ser o constante movimento
de Deus à procura da humanidade, de cada um de nós, de mim e de ti, que
teimamos em pensar que Ele é inimigo da nossa felicidade. A segunda
permanece um pouco enigmática mas revela a dificuldade de, até os mais
próximos de Jesus, entenderem a radicalidade da sua missão e a ousadia
do seu projecto de amor e de libertação. E temo que, às vezes, alguns
dos que somos hoje “da sua família”, também pensemos assim e O queiramos
deter!
Viver é procurar. E se alguns encontros envolvem a vida toda, há
procuras que são constantes. Saber mais, maravilhar-se com a beleza,
conhecer-se a si próprio e outros, trabalhar realizando sonhos e ideias,
construir comunhão e conhecer Deus, são procuras essenciais. No meio do
relvado do Rock in Rio Lisboa 2012, com aquela música que entrava por
todos os poros e a agitação de uma multidão imensa dei-me a perguntar:
“o que se procura” na envolvência e no espectáculo de concertos como
estes? Para lá dos diferentes gostos, dos fenômenos de massas, do
consumo, da catarse ou alienação, de muitas explicações fundamentadas,
há ali uma sede de partilha e comunhão que me interpela. As músicas
ouvidas na intimidade são cantadas agora por incontáveis vozes, os
cantores e músicos fazem ali, diante dos olhos, o que antes era apenas
audível, improvisam, podem ser tocados e para eles se estendem milhares
de mãos: são experiências únicas, como todos dizem! E muitos, senão
todos, encontram no ouvir juntos, no estar com os artistas e com outros,
uma comunhão difícil de traduzir em palavras.
Sei que Deus não se cansa de nos procurar. Com o carinho de quem ama,
não força, não obriga, não ameaça.
Espera, atento ao menor sinal, para
se lançar nos nossos braços. Sabe que o mal e o egoísmo têm força mas já
nos mostrou que eles foram vencidos em Jesus. Convida à comunhão com os
outros, desafia a abrir-lhes o coração, a descobrir os seus dons e a
partilhar os nossos, a saborear a alegria de sermos responsáveis. Pois
Ele habita a comunhão. E não O procuramos também nós? Com tanta força e
desejo! Podemos dar-lhe mil nomes, mas sofremos com tantas imagens
deformadas d’Ele. Até Jesus parece irremediavelmente pregado na cruz
quando os que dizemos acreditar n’Ele não partilhamos alegria, esperança
e amor. Quando acolhemos friamente quem nos procura e só saímos dos
nossos castelos para falar do mal do mundo. Quem encontra Deus sabe-se
amado no presente e não só no futuro, libertado de preconceitos e
julgamentos, animado a ser autêntico e a banir o fingimento. Descobre-se
convocado a transformar o mundo pelo amor que Deus lhe tem, incendeia a
realidade com a verdade e a justiça, vai percebendo que a vontade de
Deus tem traços de loucura. E não desiste de procurar!
P. Vitor Gonçalves
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