Retiro
Pessoal – Junho 2012
A
tua palavra sobre mim e em mim
(Deuteronômio 11,18-21)
Gravai, pois, estas minhas
palavras no vosso coração e no vosso espírito; atai-as aos braços como um
símbolo, trazei-as como filactérias entre os olhos. Ensinai-as aos vossos
filhos, repetindo-as, quando estiverdes a descansar em casa e quando fordes em
viagem, ao deitar e ao levantar. Escrevei-as nas ombreiras da vossa casa e nas
vossas portas. Então se multiplicarão os vossos dias e os dias dos vossos
filhos na terra que o Senhor jurou dar a vossos pais. Serão como dias de céu
sobre a terra! (Deuteronômio 11,18-21)
Palavra é um dos termos mais essenciais
da fé hebraica.
Deus cria através da sua palavra: «A
palavra do Senhor criou os céus, e o sopro da sua boca todos os astros. (…)
Porque ele disse e tudo foi feito, ele ordenou e tudo foi criado.» (Salmo 33
6,9).
Quando Deus fala, cria algo novo.
Oferece a vida e essa vida surge através de dois «mensageiros»: a palavra e o
sopro, davar e ruah em hebraico.
As Suas palavras são portadoras de
vida, porque dão estrutura ao mundo e impedem que colapse sobre si mesmo.
Como as constantes da física moderna,
que funcionam de forma a que as diferentes forças (nuclear, gravitacional…) não
se anulem entre si, mas trabalhem em conjunto para manter um equilíbrio
indispensável à vida, as palavras do Senhor são lei, são retas (Salmo 19), de
forma a tornar a terra habitável.
Em hebraico, os Dez Mandamentos são
denominados Dez Palavras.
Guardar as palavras de Deus é, então,
associar-se à sua vontade criadora. Significa redescobrir as «grandes
maravilhas» (Salmo 136) que Deus realizou no passado para libertar o seu povo
da escravatura.
E, agora que Israel chegou ao seu
destino, o Deuteronômio relê a experiência da travessia do deserto e exorta o
povo à humildade e à vigilância. «Lembra-te de onde vens» parece ser o lema
deste livro: És quem és apenas porque Deus o tornou possível.
Na mesma linha, Paulo dirá mais tarde:
«Que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te glorias,
como se não o tivesses recebido?» (1 Cor 4,7).
Assim, guardar a palavra é recordar que
a nossa vida só foi possível por um dom. É esta generosidade que não devemos
esquecer e é esta a razão pela qual deveria ser gravada na fronte, no braço, no
coração, na alma, nas portas.
O crente judeu é rodeado, envolto pelas
palavras do seu criador: a sua mente (a fronte), a sua força (os braços), os
seus pensamentos (o coração), a sua personalidade (a alma), a sua intimidade
(as suas portas) são revestidos da memória do dom da vida.
Paulo não dirá diferente quando exorta
de maneira similar os discípulos de Jesus: «Pelo contrário, revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo» (Rm 13,14).
Porque Jesus é a Palavra que vem ao
mundo (Jo 1). No Novo Testamento, a Palavra penetra no crente ao ponto de aí
fazer habitar o próprio Deus: «Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis
no meu amor, assim como eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai,
também permaneço no seu amor» (Jo 15,10).
Permitir a Deus tomar gradualmente o
Seu lugar de Deus em nós, deixar soar em nós o Seu apelo à vida, dar-lhe espaço
para manifestar a sua força criadora e estruturante: é essa a nobre tarefa da
oração.
II.
FAÇA-SE EM MIM A TUA
PALAVRA (Lc 1,26-38)
Por um faça-se apenas o Verbo divino, se
encarnou no seu seio puríssimo e virginal! É portanto, pelo seu sim que Deus se
fez homem. E deste modo, formou-se no seio puríssimo da Virgem Maria, por força
do Espírito Santo, o Corpo de Cristo, unindo-se ao corpo a sua alma humana
criada do nada, e, consequentemente a Divindade unindo-se ao Corpo e à alma de
Deus humanado – Jesus Cristo – passa a receber de Maria sangue do seu sangue,
carne da sua carne! Assim, a partir daí, Aquele que é Deus verdadeiro,
tornou-se também verdadeiro Homem, num mistério chamado hispostático, e a
bem-aventurada Virgem Maria, tornou-se na realidade a Mãe verdadeira de Deus!
Meu irmão, minha irmã veja que se
observarmos na história do mundo e na história dos homens encontraremos dois
faça-se ou sim. O primeiro,
no ato da criação, o próprio Deus pronunciando, faça-se – e todas as coisas
aparecerem do nada! E no final a Bíblia afirmar que Deus viu que todas as
coisas eram boas!
O
segundo faça-se, é o
de Maria: uma resposta obediente, belíssimo o segundo!
Com
o primeiro, Deus tirou
do nada o Universo com a sua perfeição e ordem: “Os céus proclamam a glória de
Deus e o firmamento a obra das suas mãos” (Sl 18,1).
Com
o segundo – o de Maria
– “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo1,14), num mistério de duas
naturezas em uma e mesma pessoa!
Quero lembrar-te de que o teu sim ou
faça-se, pode transformar vidas, libertar as pessoas dos vícios, das drogas, da
prostituição, do álcool, do adultério, da ganância, do roubos; pode curar os
doentes e ressuscitar os mortos. Pode introduzir os teus na nova terra e céu.
Assim como nossa Mãe, Maria, nós somos
chamados para levar a Boa Nova a todas as pessoas do mundo, para irradiar neles
o amor que Jesus nos proporciona junto com nossa Mãe.
Neste mistério aprendamos com Ela, o
espírito de serviço para com o próximo.
O exemplo dela e reconhecendo a
humildade de Maria no Magnificat, prometamos que seremos humildes e caridosos
para com o nosso próximo.
Ainda mais quando demos nosso faça-se,
nosso sim, ao chamado especial de Cristo. (João Paulo II).
b.Deus
pode fazer do nada.
Para Deus “é mais fácil fazer do nada
que converter uma alma!”(São João da Cruz);pois o nada não tem vontade enquanto
a alma deve submeter-se a sua Voz, portanto deixemos-nos submeter a voz de Deus
, assim como no caos exterior pronunciada e o espírito deram foram e vida ,
sobre nós lançada , profetizada ela criará e dará vida em plenitude
transformando-nos.
Pois o homem é o ser que é capaz de ler
a mensagem do mundo.
Jamais é um analfabeto. É sempre aquele
que, na multiplicidade de linguagens, pode ler e interpretar.
Viver é ler e interpretar. No efêmero
pode ler o Permanente; no temporal, o Eterno; no mundo, Deus.
Então o efêmero se trans-figura em
sinal da presença do Permanente; o temporal em símbolo da Realidade do Eterno;
mundo em grande sacramento de Deus.
Quando as coisas começam a falar e o
homem a ouvir suas vozes, então emerge o edifício sacramental. Em seu
frontispício está escrito: todo real é senão um sinal. Sinal de quê? De uma
outra realidade, Realidade fundada de todas as coisas,de Deus.
c.A
esperança quer se encarnar em nossas vidas
Para que esse agir libertador de Deus
na história se torne realidade, algumas condições são necessárias, como
contrapartida humana.
Em
primeiro lugar, Maria,
que representa todas as pessoas excluídas que esperam por um novo tempo, uma
vez que é mulher, virgem, de uma aldeia periférica e pobre, não pode ter medo.
O medo paralisa qualquer iniciativa emancipatória. "Não tenhas
medo!", disse Gabriel a Maria (Lucas 1,30). Que medos precisamos vencer para
nos colocar, como Maria, a serviço da palavra?
Uma
segunda condição é ter
forte experiência com o Deus do Êxodo, presença salvadora no meio de seu povo.
Da mesma forma como no passado a nuvem de Deus projetara sombra sobre a tenda
de Javé e acompanhara a caminhada pelo deserto em direção à terra da liberdade
(Êxodo 40,34-38), assim "o poder do Altíssimo te cobrirá com sua
sombra" (Lucas 1,35), tornando possível a encarnação libertadora de Deus
na história. Também a saudação de Gabriel em Lucas 1,28 ("O Senhor está
contigo") é igual ao que Deus diz a Moisés no Êxodo (Êxodo 3,12) e aos
profetas (Jeremias 1,8.19). O que impede deixar-nos envolver pela nuvem de Deus
para que nos transfigure, revelando em nosso ser, como Maria, a presença do
Deus Emanuel?
Uma
terceira pressuposição
é que haja da parte humana uma atitude de fé, isto é, acreditar que é possível
a ação divina em nós. É o que Isabel dirá logo adiante a Maria: "Feliz
aquela que acreditou" (Lucas 1,45). Nós cremos, Senhor. Mas, como Maria,
queremos avançar mais em nossa fé. Por isso, ajuda-nos na nossa incredulidade
(Marcos 9,24).
Por
fim, uma quarta condição
é nossa postura de serviço: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim
segundo a tua palavra" (Lucas 1,38). E, imediatamente, Maria se pôs a
serviço de Isabel, a idosa que gestava o precursor da missão profética de seu
filho Jesus (Lucas 1,39-45).
Ó Deus, que te revelas na fragilidade e
na ternura da criança, queremos abrir a porta de nosso coração à tua graça e
deixar-nos transformar na intimidade do teu amor. Amém!
Para
Você rezar:
·
Lembrarmo-nos do que recebemos: de que forma
este apelo que atravessa o livro do Deuteronômio atravessa, também, a minha
vida?
·
Através de que sinais concretos posso
expressar a importância de Deus e da sua Palavra no espaço em que vivo? Na
minha agenda?
·
Que
medos precisamos vencer para nos colocar, como Maria, a serviço da palavra?
Santo
retiro +
Nenhum comentário:
Postar um comentário