20º DOMINGO DO TEMPO COMUM - C
Rodeados de tão grande número de testemunhas
O cristão deve correr de forma decidida ao encontro da vida plena
A Palavra de Deus que hoje nos é
servida convida-nos a tomar consciência da radicalidade e da exigência da
missão que Deus nos confia. Não há meios-termos: Deus convida-nos a um
compromisso, corajoso e coerente, com a construção do “novo céu” e da “nova terra”.
É essa a nossa missão profética.
A primeira leitura apresenta-nos
a figura do profeta Jeremias. O profeta recebe de Deus uma missão que
lhe vai trazer o ódio dos chefes e a desconfiança do Povo de Jerusalém:
anunciar o fim do reino de Judá. Jeremias vai cumprir a missão que Deus lhe
confiou, doa a quem doer. Ele sabe que a missão profética não é um concurso de
popularidade, mas um testemunhar, com verdade e coerência, os projetos de Deus.
O Evangelho reflete sobre a
missão de Jesus e as suas implicações. Define a missão de Jesus como um
“lançar fogo à terra”, a fim de que desapareçam o egoísmo, a escravidão, o
pecado e nasça o mundo novo – o “Reino”. A proposta de Jesus trará, no entanto,
divisão, pois é uma proposta exigente e radical, que provocará a oposição de
muitos; mas Jesus aceita mesmo enfrentar a morte, para que se realize o plano
do Pai e o mundo novo se torne uma realidade palpável.
A segunda leitura convida o
cristão a correr de forma decidida ao encontro da vida plena – como os
atletas que não olham a esforços para chegar à meta e alcançar a vitória.
Cristo – que nunca cedeu ao mais fácil ou ao mais agradável, mas enfrentou a
morte para realizar o projeto do Pai – deve ser o modelo que o cristão tem à
frente e que orienta a sua caminhada.
LEITURA I – Jer 38,4-6.8-10
A época em que Jeremias exerce a
sua missão profética (a partir de 627 e até bem depois da queda de Jerusalém,
em 586 a.C)
é uma época muito complicada em termos históricos… Após o reinado de Josias
(morto em Meggido em combate contra os egípcios, em 609 a.C.), o reino de Judá,
servido por reis medíocres, conheceu um período de grande instabilidade. A
inconsciência dos líderes e seu aventureirismo político (que os leva a alianças
efêmeras e pouco consistentes com as potências da época) preparam a ruína da nação.
O texto que nos é proposto
situa-nos em Jerusalém, durante o reinado de Sedecias, por volta de 586 a.C.. Algum tempo antes (588 a.C.), Sedecias,
pressionado pelo partido egiptófilo de Jerusalém, negara o tributo aos babilônios.
Na sequência, Nabucodonosor pôs cerco a Jerusalém. Um exército egípcio, vindo
em socorro da cidade, provocou grande euforia; mas Jeremias apressou-se a
avisar que essa euforia não tinha qualquer razão de ser, pois o cerco iria
recomeçar, em condições ainda mais duras. De fato, o exército babilônio refez o
assédio à cidade; e Jeremias, convencido de que tinha chegado o castigo para o
pecado de Judá e de que Deus tinha entregado Jerusalém nas mãos dos babilônios,
aconselhou a não resistência aos invasores e a rendição.
Os chefes do partido da
resistência (quatro dos nomes desses chefes são referenciados em Jer 38,1)
mobilizam-se para se opor ao discurso derrotista do profeta e propõem a sua
eliminação. Sedecias, o rei, parece hesitante; mas, prisioneiro do poder dos seus
generais, consente que o profeta seja silenciado. Colocado numa cisterna cheia
de lodo e sem nada para comer, Jeremias chega a correr risco de vida; é um
escravo núbio – Ebed-Melec – que morava no palácio real, que intercede por
Jeremias e o salva.
Toda a vida de Jeremias é um
arriscar a vida por causa da Palavra de Deus e da missão profética. De natureza
cordial e sensível, Jeremias não foi feito para o confronto, para a agressão,
para a violência das palavras ou dos gestos… Mas Jahwéh chama-o nessa fase
dramática da história de Judá e confia-lhe a missão de “arrancar e destruir,
arruinar e demolir” (Jer 1,10), predizer desgraças e anunciar violência e
morte; e o profeta, assaltado pela força de Deus, procura concretizar a sua
missão com uma força e uma convicção que nos impressionam. Deus seduziu
Jeremias e o profeta pôs-se, incondicionalmente, ao serviço da Palavra, mesmo
que isso tenha significado violentar a sua própria maneira de ser, viver à
margem, afastar-se dos familiares, dos amigos, dos conhecidos, afrontar o ódio
dos poderosos.
Jeremias é o protótipo do profeta
que dá a sua vida para que a Palavra de Deus ecoe no mundo e na vida dos
homens. Ele não pensa em si, no seu comodismo, no seu bem-estar, no seu êxito
social ou profissional, no seu triunfo diante da opinião pública; ele pensa,
apenas, em anunciar com fidelidade os projetos de Deus aos homens, a fim de que
os homens possam construir a história na perspectiva de Deus.
Na parte final deste texto,
cumpre-se a promessa de Deus, expressa no relato da vocação de Jeremias: “não
tenhas medo, Eu estarei contigo para te libertar” (Jer 1,8). Através do sentido
de justiça e da coragem de um escravo estrangeiro, Deus intervém e salva
Jeremias. Desta forma, mostra-se como Deus está sempre ao lado daqueles que
anunciam fielmente a sua Palavra e como não abandona os profetas perseguidos e
marginalizados pelo mundo e pelos poderosos.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir
das seguintes linhas:
¨ A história de Jeremias não é um
caso isolado, mas é, um pouco, a história de todos aqueles a quem Deus chama a
testemunhar, com fidelidade, os seus projetos e os seus valores. Ser profeta
não é um percurso fácil, nem uma carreira recheada de êxitos humanos, nem um
caminho atapetado pelo entusiasmo e pelas palmas das multidões; mas é um
caminho de cruz, de sofrimento, de incompreensão e, tantas, vezes, de morte.
Implica o confronto com a injustiça, com a alienação, com a opressão, com o
poder daqueles que pretendem construir o mundo sobre valores de egoísmo, de
prepotência, de orgulho, de morte. O mundo de hoje – o mundo de sempre –
continua a não saber lidar com a profecia… Basta pensar em D. Óscar Romero, em
Gandhi, em Martin
Luther King, ou em tantos profetas anônimos que, todos os
dias, continuam a ser vilipendiados, insultados, perseguidos, marginalizados,
por uma opinião pública que pretende salvaguardar a sua liberdade construindo o
mundo à margem dos valores de Deus. No entanto, o profeta, convocado e enviado
por Deus, pode renunciar à missão e deixar que o mundo continue a construir-se,
alegremente, sobre valores efêmeros que apenas geram sofrimento, escravidão e
morte?
¨A história de Jeremias mostra
claramente que, mesmo incompreendido, humilhado, esmagado, abandonado, o
profeta não está só; Deus está sempre ao seu lado, como presença amiga e
reconfortante, como garantia de que a missão profética não está condenada ao
malogro e ao fracasso. A garantia de Deus (“estarei contigo para te libertar”)
deve dar ao profeta a confiança e a coragem para levar até ao fim a missão que
Deus lhe confiou, em benefício dos homens e do mundo.
¨ Sinto-me profeta, investido por
Deus da missão de construir um mundo de justiça e de paz? Sou coerente com a
minha vocação profética e procuro, com fidelidade, ser testemunha de Deus e dos
seus valores? Tenho consciência – sobretudo nos momentos mais dramáticos – de
que não estou sozinho, e de que Deus luta ao meu lado?
¨ Como são tratados e escutados
aqueles que na minha comunidade se esforçam por tornar realidade os valores do
Evangelho e que dão um testemunho coerente e sincero daquilo em que acreditam?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 39 (40)
Refrão: Senhor, socorrei-me sem
demora.
Esperei no Senhor com toda a
confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do
lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos.
Pôs em meus lábios um cântico
novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Vendo isto, muitos hão-de temer e pôr a
sua confiança no Senhor.
Eu sou pobre e infeliz:
Senhor, cuidai de mim.
Sois o meu protector e
libertador: ó meu Deus, não tardeis.
LEITURA II – Heb 12,1-4
A Carta aos Hebreus dirige-se a
cristãos (de origem judaica ou que, ao menos, estavam bastante marcados pelo
influxo cultural dos judeo-cristãos) em situação difícil, que vivem mergulhados
num ambiente hostil e que sofrem a forte oposição dos seus concidadãos. Por
isso, são também cristãos expostos ao desalento e ao desânimo, na sua fé e na
sua vida cristã… Alguns dados da carta sugerem também que se trata de cristãos
cansados, sem o entusiasmo dos inícios e instalados no comodismo e na
mediocridade. Há, ainda, referências à cedência a doutrinas estranhas, pouco
consentâneas com a fé original, recebida dos apóstolos.
O texto que nos é proposto
pertence à quarta parte da carta (cf. Heb 11,1-12,13). Aí, temos um apelo à fé
e à constância ou perseverança – o que se entende perfeitamente, no contexto em
que estes cristãos vivem.
Nos versículos anteriores (cf.
Heb 11,1-40), o autor apresentou uma galeria de figuras – desde Abraão a Moisés
– que, pela firmeza e fortaleza da sua fé, tiveram êxito e deixaram uma memória
imorredoura, apesar das dificuldades que tiveram de vencer; agora, o autor da
carta convida os cristãos a imitar tais exemplos e a perseverar na fé. Em
concreto, os quatro versículos que a leitura nos apresenta contêm uma exortação
à constância ou perseverança. A exortação começa com a imagem (clássica, na
catequese cristã dos primeiros tempos – veja-se 1 Cor 9,24-27; Ga 2,2; Flp
2,16; 3,1314; 2 Tim 2,5) da corrida (vers. 1): os cristãos devem ser como
atletas que correm de forma decidida e empenhada e que dão provas de coragem,
de força, de vontade de vencer; as figuras antes nomeadas como modelos de fé
são os espectadores que, nas bancadas do estádio, observam e animam o esforço e
a perseverança dos crentes… Para que nada atrapalhe essa “corrida” para a
vitória, os cristãos devem despojar-se do fardo do pecado (o egoísmo, o
comodismo, a auto-suficiência), pois esse peso acrescido será um obstáculo que
impedirá o atleta de chegar vitorioso à meta. Nessa “corrida”, o modelo
fundamental do crente é Cristo (vers. 2). Ele, renunciando a um caminho de
facilidade e de triunfo humano, enfrentou a cruz e venceu a morte; como
resultado, foi exaltado e “sentou-Se à direita do trono de Deus”. Dessa forma,
Ele abriu para os crentes o caminho e mostrou-lhes como proceder. O seu exemplo
deve estimular continuamente os cristãos na sua caminhada em direção à vitória
(vers. 3).
ATUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as
seguintes linhas:
¨ O caminho do cristão não é um
passeio fácil e descomprometido, mas um caminho duro e difícil, que não se
compadece com “meias tintas” nem com compromissos mornos e a “meio gás”. Exige
coragem para vencer os obstáculos, capacidade de luta para enfrentar a
oposição, compromissos profundos e radicais. Muitas vezes, os obstáculos que é
preciso vencer resultam de fatores internos: a nossa preguiça, o nosso egoísmo,
o nosso comodismo desarmam a nossa vontade de vivermos, com coerência, a nossa
fé e as exigências do Evangelho; outras vezes, os obstáculos que temos de
enfrentar resultam de fatores externos: são os ataques injustificados e
irracionais, os insultos, a incompreensão de um mundo que cultiva o comodismo e
a facilidade e que, tantas vezes, se sente incomodado com o testemunho dos
profetas… Quais são os principais obstáculos que eu tenho de vencer para viver,
com fidelidade e coerência, a minha fé? Como é que eu respondo a essas
dificuldades: com coragem e decisão ou com cedências e facilidades?
¨O cristão é convidado a não
perder de vista o exemplo de Cristo. Apesar da tentação, ele nunca cedeu ao
mais fácil, ao mais cômodo, ao mais agradável… Para ele, o critério fundamental
era o plano do Pai; e o caminho do Pai passava pelo amor radical, pelo dom da
vida, pela cruz. No entanto, ele demonstrou que o caminho da entrega da vida
não conduz ao fracasso, mas à vida plena… É este o quadro que o cristão deve
ter sempre diante dos olhos.
ALELUIA – Jo 10,27 Aleluia.
Aleluia.
As minhas ovelhas escutam a minha
voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me.
EVANGELHO – Lc 12,49-53
Os “ditos” que o Evangelho de
hoje nos apresenta são dos textos mais obscuros e difíceis de interpretar de
todo o Novo Testamento. Particular dificuldade oferece o vers. 49, formado com
palavras estranhas ao vocabulário de Lucas. Poderia ser um “dito” independente,
recolhido por Lucas… Desconhecendo-se o contexto primitivo deste “dito” e as
circunstâncias em que Jesus
o pronunciou, é impossível determinar o seu significado e saber qual o “fogo”
de que Jesus falava.
De qualquer forma, Lucas
apresenta este material no contexto do “caminho para Jerusalém” – esse caminho
que conduz Jesus ao dom total da vida. No horizonte próximo está, cada vez
mais, o confronto final com a instituição judaica e a morte na cruz. Na
perspectiva de Lucas, estes “ditos” fazem parte da catequese que prepara os
discípulos para entender a missão de Jesus, a radicalidade do “Reino” e as
exigências que daí brotam para quem adere às propostas de Jesus.
A caminho de Jerusalém e da cruz,
Jesus dá aos discípulos algumas indicações para entender a missão que o Pai Lhe
confiou (missão que os discípulos devem, aliás, continuar nos mesmos moldes). O
texto divide-se em duas partes:
Na primeira parte (vers. 49-50), entrelaçam-se os temas do fogo e
do batismo. Jesus começa por dizer que veio trazer o fogo à terra. Que quer
isto dizer?
O “fogo” possui um significado
simbólico complexo… No Antigo Testamento começa por ser um elemento teofânico
(cf. Ex 3,2; 19,18; Dt 4,12; 5,4.22.23; 2 Re 2,11), usado para representar a
santidade divina. A manifestação do divino provoca no homem, simultaneamente, atração
e temor; ora, explorando a relação entre o fogo e o temor que Deus inspira, a
catequese de Israel vai fazer do fogo um símbolo da intransigência de Deus em
relação ao pecado… Por isso, os profetas usam a imagem do fogo para anunciar e
descrever a ira de Deus (cf. Am 1,4; 2,5). O fogo aparece, assim, como imagem
privilegiada para pintar o quadro do castigo das nações pecadoras (cf. Is
30,27.30.33) e do próprio Israel. No entanto, ao mesmo tempo que castiga, o
fogo também faz desaparecer o pecado (cf. Is 9,17-18; Jer 15,14; 17,4.27): o
fogo aparece, assim, como elemento de purificação e transformação (cf. Is 6,6;
Ben Sira 2,5; Dan 3). Na literatura apocalíptica, o fogo é a imagem do juízo
escatológico (Is 66,15-16): o “dia de Jahwéh” é como o fogo do fundidor (cf.
Mal 3,2); será um dia, ardente como uma fornalha, em que os arrogantes e os
maus arderão como palha (cf. Mal 3,19) e em que a terra inteira será devorada
pelo fogo do zelo de Deus (cf. Sof 1,18; 3,8). Desse fogo devorador do pecado,
purificador e transformador, nascerá o mundo novo, sem pecado, de justiça e de
paz sem fim.
O símbolo do fogo, posto na boca
de Jesus, deve ser entendido neste enquadramento. Jesus veio revelar aos homens
a santidade de Deus; a sua proposta destina-se a destruir o egoísmo, a
injustiça, a opressão que desfeiam o mundo, a fim de que surja, das cinzas
desse mundo velho, o mundo novo de amor, de partilha, de fraternidade, de
justiça. Como é que isso vai acontecer? Através da Palavra e da ação de Jesus,
certamente; mas Lucas estará, especialmente a pensar no Espírito enviado por
Jesus aos discípulos – e que Lucas vai, aliás, representar através da imagem
das línguas de fogo.
Quanto à imagem do batismo: ela
refere-se, certamente, à morte de Jesus (cf. Mc
10,38, onde Jesus pergunta a João
e Tiago se estão dispostos a beber do cálice que Ele vai beber e a receber o batismo
que Ele vai receber). Para que o “fogo” transformador e purificador se
manifeste, é necessário que Jesus faça da sua vida um dom de amor, até à cruz.
Só então nascerá o mundo novo.
Na segunda parte (vers. 51-53), Jesus confessa que não veio trazer
a paz, mas a divisão. Lucas deixou expresso, frequentemente, que “a paz” é um
dom messiânico (cf. Lc 2,14.29; 7,50; 8,48; 10,5-6; 11,21; 19,38.42; 24,36) e
que a função do Messias será guiar os passos dos homens “no caminho da paz” (Lc
1,79). Que sentido fará, agora, dizer que Jesus não veio trazer a paz, mas a
divisão?
O “dito” faz, certamente,
referência às reações à pessoa de Jesus e à proposta que Ele oferece. A
proposta de Jesus é questionante, interpeladora, e não deixa os homens
indiferentes. Alguns acolhem-na positivamente; outros rejeitam-na. Alguns vêem
nela uma proposta de libertação; outros não estão interessados nem em Jesus nem
nos valores que Ele propõe… Como consequência, haverá divisão e desavença, às
vezes mesmo dentro da própria família, a propósito das opções que cada um faz
face a Jesus. Este quadro devia refletir uma realidade que a comunidade de
Lucas conhecia bem…
Jesus veio trazer a paz, mas a
paz que é vida plena vivida com exigência e coerência; essa paz não se faz com
“meias tintas”, com meias verdades, com jogos de equilíbrio que não chateiam
ninguém, mas também não transformam nada. A proposta de Jesus é exigente e
radical; assim, não pode deixar de criar divisão.
ATUALIZAÇÃO
Refletir a partir das seguintes
questões:
¨ O Evangelho mostra que o objetivo
de Jesus não passava por conservar intacto o que já existia, pactuando com essa
paz podre que não questiona o mal, a injustiça, a escravidão; mas o objetivo de
Jesus passava por “incendiar o mundo”, pondo em causa tudo aquilo que escraviza
o homem e o priva de vida. Como é que eu me situo face a tudo aquilo que põe em
causa o projeto de Deus para o mundo? Como é que eu me situo face a tudo aquilo
que cria opressão, injustiça, medo e morte? Com o conformismo e a indiferença
de quem, acima de tudo, não está para se chatear com coisas que não lhe dizem diretamente
respeito, ou com a coragem e o empenho de quem se sente profeta e enviado de
Deus a construir o novo céu e a nova terra?
¨ O “fogo” que Jesus veio atear –
fogo purificador e transformador – já atingiu o meu coração e já transformou a
minha vida? Animado pelo Espírito de Jesus ressuscitado, eu já renunciei, de
verdade, à vida de egoísmo, de fechamento em mim próprio, de comodismo, para
fazer da minha vida um compromisso com o “Reino”, se necessário até ao dom da
vida?
¨ A proposta de Jesus não passa pela manutenção de uma
paz podre, que não questiona nem incomoda ninguém, mas por opções radicais, que
interpelam e que obrigam a decisões arriscadas. No entanto, a Igreja de Jesus
aceita muitas vezes abençoar as ideologias que escravizam e oprimem, para
manter uma certa paz social (a paz dos cemitérios?), para “defender a
civilização cristã” (como se pudessem ser cristãos aqueles que constroem
máquinas de injustiça e de morte) ou para manter determinados privilégios.
Quando isto acontece (e tão acontecido demasiadas vezes, ao longo da história),
a Igreja estará a ser fiel a esse Jesus, que veio lançar o fogo à terra e que
não veio trazer a
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