19º
Domingo do Tempo Comum
11 de agosto de 2013 – DIA DOS PAIS
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“Vós
também, ficai preparados!
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Leituras: Sabedoria 18,
6-9;
Salmo 32 (33), 1.12.18-19.20.22 (r/12b);
Carta aos Hebreus 11, 1-2.8-19; ou
mais breve 11,1-2.8-12;
Lucas 12, 32-48 ou mais breve 12, 35-40.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, Jesus completa os
ensinamentos sobre o nosso comportamento dos bens do mundo, e desafia a
comunidade a estar sempre pronta em atitude de vigilância. Nos fala do
verdadeiro tesouro que é o nosso coração. Hoje nosso olhar se direciona para
contemplar a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Deus escolheu a família,
simples e humilde, para acolher o nascimento e crescimento do Salvador,
santificando assim a família como fundamento da sociedade. Lembremos, também,
nesta celebração, de todos os pais que pelo batismo são chamados a concretizar
no mundo a imagem sempre amorosa e geradora de vida de Deus Pai.
1. Situando-nos brevemente
A vida é uma caixinha de surpresa. A toda hora somos
surpreendidos pelo inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente
preparados, sobretudo para as situações desagradáveis ou, eventualmente, até
dramáticas da vida. Por isso estamos aqui e nos reunimos todos os domingos com
nosso melhor mestre, o Senhor Jesus, para ouvir e assimilar dele a verdadeira
sabedoria a fim de viver a vida com perene sentido.
Hoje celebramos o Dia dos Pais: parabéns aos pais! Com toda a
família franciscana, celebramos a memória (ou festa) de Santa Clara de Assis,
uma mulher que, com São Francisco de Assis, encontrou o verdadeiro tesouro que
dá sentido pleno à sua vida. Por Jesus Cristo se apaixonou e com ele
amorosamente se aliou para todo o resto de sua vida: Jesus Cristo, pobre
(=desapegado de tudo), humilde, crucificado.
Ainda, nesta semana, dia 14, quarta-feira, celebramos a memória
do mártir São Maximiliano Kolbe, um sacerdote franciscano que, na última guerra
mundial, preso num campo de concentração, num gesto total de desapego, entregou
a própria vida para salvar a vida um pai de família condenado à morte.
Na busca que fazemos do verdadeiro tesouro como forma de
vivermos em estado de serena vigilância “para o que der e vier”, Jesus vem ao
nosso encontro hoje com suas sábias palavras. Continuemos à sua escuta e
refletindo sobre elas.
2. Recordando a Palavra
O Evangelho de hoje é continuação do domingo passado, quando
Jesus nos prevenia de toda ambição das riquezas (Cf. Lc 22,15). Só que aqui há
um pequeno salto (Lc 12, 22-31), pois Jesus, diante da possibilidade de
entregarmos tudo e ficarmos sem nada, nos propõe a confiança no Pai, como os
pássaros e as flores que não acumulam para o dia de amanhã e, contudo, tem o
necessário para comer e para vestir.
O Evangelho de hoje nos situa neste mesmo tema, quando nos
previne: “não tenhas medo” (Lc 12,32). Ainda acrescenta a razão pela qual
podemos estar dispostos a partilhar tudo, sem “medo”: “foi do agrado do vosso
Pai dar a vós o Reino”. Aliás, esta não é a única vez que se diz que “o Reino é
dado” aos discípulos (cf. Lc 8, 10;22,29; Mt 25,34).
A palavra de Jesus se dirige ao “pequeninho rebanho”: “Não
tenhas medo, pequenino rebanho” (Lc 12,32). ‘Pequeno rebanho’ é uma imagem
bíblica clássica que representa Israel (Ez 34). Aqui Jesus usa esta expressão
para falar dos discípulos, o novo Israel, ou seja, nós!
Lucas, tanto no Evangelho como nos Atos dos Apóstolos, insiste
no valor da ‘esmola’: “Vendei vossos bens e dai esmola” (v.33). Em outras
palavras, trata-se da importância de dar os bens aos pobres (por ex.: cf. Lc
11,41; 18,22; 19, 8; 21, 1.4; At 9, 36; 10, 31; 11, 29; 24,17).
Em seguida, Jesus aconselha a “fazer um tesouro no céu que não
se acabe” (Lc 12,34). Mais uma vez, como no domingo passado, Jesus insiste
sobre o que realmente dá sentido à vida (cf. Lc 12, 13-21). Esta temática
aparece em outras passagens do Novo Testamento (cf. Mt 6, 20; Tg 6, 2-3) e se
vincula com a do “coração” (Lc 12, 33; Mt 6,21; Cl 3, 1-2).
Ao falar do “senhor” que “está servindo” a seus empregados (Lc
12,37), no fundo, figurativamente, Jesus está falando de si mesmo, como podemos
deduzir do que ele explica na cena do lava-pés (cf. Jo 13, 4-5.13). Este “senhor”
surpreende a todos. Felizes os que estão prevenidos, isto é, entram no seu
jogo, no seu sistema, no seu reino e vivem do jeito que ele vive, de forma
desprendida, generosa e humilde, com ele comungam no mesmo agir e sentir.
Este é o “tesouro” que dá sentido à vida! Por isso, no Evangelho
de hoje, por três vezes Jesus repete: “felizes” (Lc 12, 37.8) e “feliz” (v.43).
Coitado de quem for pego desprevenido pelo “Senhor” que vem, pois não estar
alerta e deixar-se seduzir pela riqueza (v.15) significa perder a vida (v.21).
Na realidade concreta da vida, o próprio povo do Antigo
Testamento já havia intuído o “sabor” do tesouro da partilha. Foi quando
experimentou “na pele” o que significa viver na escravidão, precisamente sob o
regime de um povo que, tristemente seduzido pela riqueza, colocou outro povo –
no caso, os israelitas – numa situação desumana.
De onde deu para concluir: só um regime de partilha é capaz de
dar sentido à vida. Foi o que Deus mostrou. Para viver neste glorioso regime de
amor, chamou este povo para uma aliança. Isto, no fundo, ouvimos na primeira
leitura, do Livro da Sabedoria. Neste sentido, cantamos hoje o Salmo 32, cujo
refrão soa assim: “Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!”
(v.12b).
Esta herança, para nós cristãos hoje, é vivida na fé como
esperança daquilo que não se vê, como ouvimos na segunda leitura (Hb 11,
1-2.8-19). Fé esta que “olha para o futuro, como a de Abraão, como os dos
israelitas no tempo do Êxodo, como a dos discípulos que espera a vinda do
Senhor: é esperança”.
Não deixa o homem instalar-se no presente. Este mundo não é o
termo de seu caminho. Deus preparou uma pátria melhor. O cristão é um
estrangeiro neste mundo. Leva este mundo a sério, exatamente no fato de ficar
livre diante dele (o que não exclui o compromisso com os filhos de Deus neste
mundo!) (J. Konings. Liturgia dominical,
p.441).
3. Atualizando a Palavra
É bom nos conscientizamos de que “o fim para o qual vivemos
reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de
nossa vida. Seja este fim, aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da
libertação, que encontrou os israelitas preparados para saírem, como vimos na
primeira leitura, e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado
malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada de seu patrão – como ouvimos
no Evangelho” (Id., p.443).
Podemos seguir com a oportuna reflexão de nosso irmão teólogo e
biblista Johan Konings, cujo texto que transcrevemos na íntegra.
“Devemos preparar-nos para
o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte.
Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no
que vem depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o
sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles
mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não tem filhos.
Assim como os antigos judeus colocavam sua esperança de sobrevivência nos seus
filhos, estas pessoas a colocaram na sociedade do futuro. É nobre. Mas será
suficiente? Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Ali
a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da
terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova
sociedade que construímos? Ou será, pelo contrario, uma valorização de tudo
isso? Pois mostrando como provisória a vida e a historia, Jesus nos ensina a usá-las
bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna
semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui
na terra. A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um
mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada
no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por
mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã
acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além
da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada
por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À utopia histórica, a visão
cristã acrescenta a fé, ‘prova de realidades que não se veem’ (2ª Leitura). A
fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo,
nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última –
a razão do nosso existir”
(Ibid., p.443-444).
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
Logo em seguida, nos achegaremos ao altar para explicitamente
celebrar o mistério da nossa fé, o memorial da Páscoa de Jesus. Que esta
celebração eucarística nos torne, de fato, atentos e vigilantes em comunhão com
o Senhor que vem para servir.
A Missa é a celebração do serviço de Jesus que se entregou e se
entrega por nós. Participando dela, possamos conhecer e vivenciar, mais
profundamente, o projeto de vida do nosso Deus e com ele nos comprometermos
mais e mais. Participando dela, possamos nos colocar com mais empenho a serviço
da comunidade cristã., preparando assim a plenitude do Reino que nos foi confiado.
Assim sendo, concluímos nossa participação nesta ceia memorial
do Senhor morto-ressuscitado com esta significativa oração: “Ó Deus, vosso
sacramento que acabamos de receber nos traga a salvação e nos confirme na vossa
verdade” (Oração depois da comunhão). Sim, que nossa participação nesta ceia
nos confirme na verdade do Reino de Deus vivido e transmitido por nosso mestre
maior, Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!
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