22º
Domingo do Tempo Comum
|
“Então
serás feliz, pois estes não têm como te retribuir!”
|
Leituras: Eclesiástico 3, 19-21.30-31;
Salmo
67;
Carta aos Hebreus 12, 18-19.22-24a;
Lucas 14, 1.7-14.
COR LITÚRGICA: VERDE
Iniciando o mês da Bíblia, somos convidados a
refletir que a Boa-Nova não proíbe afeição aos familiares e amigos, mas o amor
gratuito de Deus requer algo mais: no convite a tomar parte do banquete da
vida, optar, solidariamente, pelos que são esquecidos e tidos como menos
importantes. Nesta semana da Pátria, lembremos os milhões de brasileiros que
estão fora da mesa dos bens necessários à vida de cidadãos.
1. Situando-nos brevemente
Neste 22º domingo do Tempo Comum, nos reunimos para louvar e
bendizer nosso Deus uno e trino.
O dia do Senhor – como foi
definido o domingo, desde os tempos apostólicos -, mereceu sempre, na história
da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o
próprio núcleo do mistério cristão. O domingo, de fato, recorda, o ritmo
semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na
qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte (encíclica Dies
Domini, n.1).
Hoje começa o mês de setembro, denominado o Mês da Bíblia por
causa de São Jerônimo, o tradutor das Sagradas Escrituras, cuja festa
celebramos no dia 29. O tema escolhido releva o Evangelho do Ano Litúrgico C e
os cinco aspectos fundamentais do processo do discipulado: o encontro com Jesus
Cristo, a conversão, o seguimento, a comunhão fraterna e a missão propriamente
dita. O lema indicado pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência dos
Bispos do Brasil (CNBB) é: “Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido”
(cf. Lc 15,9).
No próximo sábado, 7 de setembro, é o Dia da Pátria. O amor à
Pátria é também uma obrigação dos cristãos. Este não é um sentimento vazio a
uma pátria imaginária, mas um amor doação que se concretiza no bem que fazemos
aos irmãos e irmãs que constituem nossa comunidade e, constituindo-se formam
uma pequena parcela de nossa grande comunidade brasileira.
2. Recordando a Palavra
No Evangelho de hoje, Jesus, convidado pelo fariseu, encontra
naquele ambiente de festa pessoa que se consideravam umas melhores do que as
outras. Cada qual queria superar seu vizinho em importância. Jesus, ao ver tal
situação, toma uma atitude para levá-los a refletir sobre o que é realmente
importante, sob a ótica misericordiosa de Deus.
A parábola contada por Jesus deve ter chocado a todos, pois ela
se contrapõe àquilo que os fariseus
consideravam socialmente certo. Jesus lhes diz que aqueles que se consideram
“os tais” cairão do alto de seu orgulho e ficarão envergonhados ao perceberem
que seu lugar é o menos importante. Mais ainda, Jesus diz que os melhores
lugares estarão reservados aos que são automaticamente humildes.
Por que isto? Porque os que se consideram, grandes, os maiores e
melhores, são pessoas “cheias de si”, como diz comumente. Elas estão com o
espírito e autossuficiência que, em seu interior, não sobre espaço para
praticarem as virtudes evangélicas, especialmente a caridade. A festa a que
Jesus se refere, com certeza, não é uma festa como as que realizamos em datas
comemorativas. Jesus se refere à grande festa que acontecerá no céu ao final dos
tempos.
Nela, os convidados não serão nem os orgulhosos, nem os
autossuficientes, nem os egocêntricos. Para ela, receberão convite os mais humildes,
simples, que reconhecem sua fraqueza e se deixam guiar pela mão de Deus; os que
se reconhecem simples e humildes e por isso são capazes de olhar seus irmãos.
São Paulo nos fala desta festa celestial, reunião festiva de
milhões de anjos, dos espíritos que chegaram à perfeição. Obviamente, o caminho
da perfeição não será o seguido pelos orgulhosos fariseus, mas o trilhado pelos
humildes. Na própria resposta que damos à Palavra proclamada, dizemos isto a
nosso Deus: ”com carinho preparaste esta terra para o pobre”.
É importante também percebermos que Jesus, nessa ocasião,
ensinou com palavras. No entanto, em muitas outras situações, ele próprio
vivenciou aquilo que disse. Jesus é nosso modelo de humildade e doação. Qual
humildade pode ser mais forte, mais autêntica do que a praticada por alguém
que, embora sendo de condição divina, tornou-se humano como nós, tornou-se um
conosco?
Fica-nos ainda a lição do Livro do Eclesiástico: encontraremos
graça diante do Senhor, ao praticarmos autenticamente a humildade, pois o Pai
escolheu os humildes para a eles revelar seus mistérios.
3. Atualizando a Palavra
Como fica claro no Evangelho de hoje, a humildade nada tem a ver
com fraqueza. Ela não é o contrário de ser forte, mas o contrário de ser
poderoso e orgulhoso. Certamente, tantos santos e santas, que nos servem de
exemplo no seguimento de Jesus, tiveram que ser muito fortes e firmes para não
se afastarem de seu ideal maior, para não abandonarem a busca do reino de Deus
em troca de atrativos materiais, de grandezas humanas. Conservaram-se humildes
e simples.
O Espírito Santo permitiu que, neste ano de 2013, tivéssemos, à
nossa frente, dois fortes e concretos exemplos de humildade.
Primeiro, no mês de fevereiro, o Papa Bento XVI renunciou à
cátedra de Pedro. Na ocasião, o comentário foi geral: “ele nos dá um grande
exemplo de humildade, de despojamento, de não estar aferrado ao poder”.
Comentava-se também que o Papa, um homem muito culto e muito humilde, teve a
coragem de tomar uma forte decisão.
Sem dúvida alguma, o último gesto de Bento XVI foi um dos
momentos mais altos do seu magistério. Reconheceu que a Igreja está nas mãos de
Jesus e não nas mãos dos homens e das suas estruturas. Que grande exemplo de
verdadeira humildade: reconhecer-se pequeno; ser simples; saber que o poder não
lhe pertence, pois é de Deus, despojado como Maria na aceitação do que lhe é
pedido; tornar-se, como Jesus, obediente à vontade do Pai.
Assume então um novo Papa, Francisco, exemplo de humildade,
desde o nome escolhido. Ele disse em uma das suas primeiras homilias: “Humilde
não é aquele que caminha cabisbaixo pelas ruas, mas o que segue o caminho da
humildade indicado por Deus – o único caminho possível. Os ídolos se mostram
fortes, seguros de si. Deus não precisa disso, porque é o único verdadeiro”.
Depois, o Papa Francisco assim concluiu a homilia: “Quando vamos com esta magnanimidade e
também com esta humildade, quando não estamos com medo das coisas grandes e
também fazemos as coisas pequenas – a humildade, a caridade quotidiana – o
Senhor confirma a Palavra, E vamos em frente. O triunfo da Igreja é a
Ressurreição de Jesus. Mas a Cruz está antes. Peçamos hoje ao Senhor para que
nos tornemos missionários na Igreja, apóstolos na Igreja, mas com este
espírito: uma grande magnanimidade e também uma grande humildade. Que assim
seja”.
Eis o caminho a seguir, nada fácil nos tempos atuais. No
entanto, possível se efetivamente nos deixamos guiar pelo Espírito Santo e
abraçamos, de modo incondicional, a nossa fé, adesão à pessoa de Jesus e à sua
mensagem.
4. Ligando a Palavra com ação
litúrgica
A Palavra, que hoje acolhemos em nossos corações, nos coloca em
um clima de humildade. Em outros diversos momentos desta celebração, faz-se
presente a inter-relação entre as leituras proclamadas e as orações que
elevamos ao Pai. Ainda nos ritos iniciais, na oração do dia, pedimos a Deus
“alimentar em nós o que é bom”, incluindo, pois, a humildade, uma qualidade
cristã a ser cultivada. Na oração sobre as oferendas, solicitamos que o “poder
(de Deus) leve à plenitude o que realizamos nesta liturgia”.
Expressamos, pois, nosso desejo de viver o que celebramos e com
humildade reconhecemos que isso só se torna possível pelo poder de Deus. No
prefácio, elevamos nossa oração a Deus, Pai santo, Senhor do céu e da terra e
lembramos que Jesus nos convidou a seguir seus passos.
Nos ritos finais, o sacerdote, representando toda a assembléia
reunida, dirige a Deus um último pedido: “que este alimento da caridade fortifique
os nossos corações e nos leve a vos servir em nossos irmãos e irmãs”.
Concluímos, pois, com uma súplica para viver a autêntica humildade, porque só
sendo humildes de coração podemos servir nossos irmãos e irmãs e,
consequentemente, servir nosso Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário