CRESCER EM FRATERNIDADE
Nossas Comunidades, albergues do Ressuscitado.Com este tema quero apresentar em partes um caminho de reflexão quanto à vida fraterna para as nossas Novas Comunidades.
Talvez não seja eu o mais perito, capacitado ou digno de tal reflexão , ainda não vivo plenamente o meu ser fraterno e comunitário mesmo nestes 19 anos de vida em Comunidade na Comunidade católica Alpha e Ômega. Na verdade a cada dia mais acredito que é um desafio constante e necessário a convivência e não somente a coexistência.
A Fraternidade é o lugar privilegiado da formação permanente. Cada irmão, a começar pelo coordenador, formador ou guardião, tem o dever de fazer com que a vida ordinária da fraternidade promova a formação continuada.
“A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade sua o que possuía. Tudo entre eles era comum. Com grande eficácia os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus e todos os fiéis gozavam de grande estima” (At 4,32)
A comunidade cristã não é um sanatório espiritual (Dietrich Bonhoeffer).
O sujeito, com seus desejos e suas necessidades, acha-se no centro das expectativas e aspirações sempre mais difundidas nas diferentes culturas do planeta. A visão de uma vida fraterna em comunidades novas nos permite dialogar com tais desejos e tais necessidades, em primeiro lugar devido à importância que ela reserva ao indivíduo, visto como uma pessoa original e única, capaz de conhecer e, sobretudo de amar.
Nesta perspectiva cada um se descobre chamado a uma vida intensa, um caminho aberto no sentido do relacionamento com os outros e na linha da descoberta de uma verdade, que cresce e da qual não somos ciumentos proprietários.
Esta visão permite proteger e promover a riqueza da multiplicidade e da diferença diante de tentativas de homologação. A Fraternidade-Comunidade é o lugar onde devemos começar a aprender a articular a dimensão pessoal e comunitária: ela permanece sendo, com efeito, o lugar privilegiado do reconhecimento e da acolhida da vontade de Deus chamados à Liberdade.
1. Nesta trajetória do ano, mais uma vez tivemos a graça de viver o alegre e jubiloso tempo pascal. As trevas se foram e despontou a luz da ressurreição. Muitos textos da liturgia destes dias nos levaram a buscar os “lugares” da presença do Ressuscitado. Um dos mais privilegiados desses espaços, onde o Senhor se torna presente é o da comunidade e da fraternidade.
Lucas descreve a comunidade ideal (utópica?): “Eles freqüentavam com perseverança a doutrina dos apóstolos, as reuniões em comum, o partir do pão e as orações” (Lc 2,42). Nossas fraternidades-comunidades são sempre espaços onde pode morar o Senhor Ressuscitado. “Continuando a reunir-se depois da morte e ressurreição de Jesus, e animada por seu Espírito, a comunidade procurava viver em unidade perfeita: um só coração e uma só alma. Colocavam seus bens em comum, ninguém considerava seu o que possuía, e assim não havia carência no meio deles. Comunhão de bens materiais, mas também dos bens intelectuais, afetivos, espirituais. O que chamamos fraternidade era realidade entre eles. Não eram uma mera agremiação piedosa. Era uma união de vida” (J.Konings, Liturgia Dominical, Vozes, p.244).
2. Esse colocar em comum a vida e os bens tem tudo a ver com a vida consagra-religiosa. “Para as pessoas consagradas, feitas um só coração e uma só alma, por este amor derramado nos corações pelo Espírito Santo, torna-se uma exigência interior colocar tudo em comum: bens materiais e experiências espirituais, talentos e inspirações, como também ideais apostólicos e serviço caritativo. Na vida comunitária, a energia do Espírito, que existe numa pessoa, passa contemporaneamente a todos. Nela não só se usufrui do dom próprio, mas este é multiplicado quando se participa aos outros, e goza-se tanto do fruto do dom alheio como do próprio (Citação de S. Basílio).
Na vida de comunidade também deve se tornar de algum modo palpável comunhão fraterna; antes de ser um instrumento para uma determinada missão, é espaço teologal, onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado. Isto verifica-se graças ao amor recíproco de quantos compõem a comunidade: um amor alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, purificado no sacramento da reconciliação, sustentado pela invocação da unidade, especial dom do Espírito para aqueles que se colocam numa escuta obediente ao Evangelho ( Vita Consecrata, n.42). Quantos elementos para o crescimento da Fraternidade!
3. Uma vez mais, pois, somos convidados a refletir sobre o tema da fraternidade, especialmente sobre o crescer na fraternidade, à luz da presença do Ressuscitado. Por vezes experimentamos um certo cansaço de tanto ouvir falar em vida fraterna, vida de comunidade, viver em comum. Certas experiências doloridas que vivemos aqui ou ali talvez tenham arrefecido nosso ânimo e deixado um gosto amargo no canto de nossos lábios. O gênero de cada comunidade nova e seu estilo, suas regras e suas formas de vida e de viver, no entanto, tem como ponto fulcral a vida em fraternidade.
Esta é lugar de conversão e plataforma da missão. Tal afirmação, se levada a sério, desenha o perfil do porque nos reunimos.
Irmãos, em estado de penitência, indo pelo mundo afora. A renovação da vida fraterna poderá significar a restauração do tecido fraterno que deve ser o da Igreja toda. Nós, Comunidades Novas, somos responsáveis em propagar na Igreja a dimensão fraterna.
4. Não podemos imaginar que, no final de nossa formação inicial, já tenhamos conseguido “apreender” a dimensão fraterna de nossas comunidades e de seu modo próprio de viver em fraternidade. Será preciso trabalhar no seu crescimento, dar tempo ao tempo, deixar que a vida faça seu trabalho em nós. Há muitos fatores que devem ser levados em consideração: o tempo da existência, as experiências vividas em nossas casas e em nosso trabalho pastoral, as crises mais ou menos violentas, vividas em silêncio, os sucessos e insucessos, a saúde e a doença, os rótulos que são afixados na fronte de uns e de outros, o desalento de um lado e, de outro, certos arroubos. No momento de tentar fazer nossa biografia espiritual deveríamos poder escrevê-la a partir da vida que vivemos em fraternidade.
Acolhemos irmãos que chegavam, ajudamos alguns a carregarem seus fardos pesados, levamos alguns para o cemitério e fomos vivendo como irmãos.
Quais as grandes experiências fraternas que vivemos dentro e fora de nossas casas?
Padre Emílio Carlos Mancini +
O irmão menor grãozinho de areia
Continuaremos em próximas postagens.
Valeu Padre, muito útil este texto, joga luz em nossas vidas.
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