“Desde o início, desde o dia de Pentecostes, ela (a Igreja) fala todas as línguas.” A Igreja universal precede as igrejas particulares, e estas devem sempre conformar-se àquela, segundo um critério de unidade e de universalidade. A Igreja não permanece jamais prisioneira dos limites políticos, raciais e culturais; não se pode confundir com os Estados e tampouco com as Federações de Estados, porque sua unidade é de gênero diverso e aspira a atravessar todas as fronteiras humanas.
A invocação da Igreja “Vem Espírito Santo” é tão simples e imediata, mas de uma vez extraordinariamente profunda, que brota antes de tudo, do coração de Cristo. O Espírito, de fato, é o dom que Jesus pediu e continuamente pede ao Pai para seus amigos; é o primeiro e principal dom que nos obteve com sua Ressurreição e Ascensão ao Céu.
A presença do Espírito Santo, “onde há lacerações e onde são estranhos entre si, cria unidade e compreensão”, acionando “um processo de reunificação entre as partes da família humana, divididas e dispersas; as pessoas, muitas vezes reduzidas a indivíduos em competição ou em conflito entre eles, alcançadas pelo Espírito de Cristo, abrem-se à experiência da comunhão, que pode envolvê-los a tal ponto de fazer deles um novo organismo; um novo sujeito: a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus: A unidade”.
Disto, queridos irmãos, deriva um critério prático de discernimento para a vida cristã: quando uma pessoa, ou uma comunidade, se fecha no próprio modo de pensar e de agir, é sinal de que se afastou do Espírito Santo. O caminho dos cristãos e das Igrejas particulares deve sempre confrontar-se com aquele da Igreja una e católica, e harmonizar-se com ele.
Isto não significa que a unidade criada do Espírito Santo seja uma espécie de igualitarismo, mas que se manifesta na pluralidade da compreensão. A Igreja é, em sua natureza, una e múltipla, destinada como tal a viver em todas as nações, todos os povos, e nos mais diversos contextos sociais.
Sempre e em cada lugar, a Igreja deve ser verdadeiramente católica e universal, a casa de todos em que cada um pode se reencontrar, permanecendo autônoma de cada Estado e de cada cultura particular.
O fogo de Deus, o fogo do Espírito Santo, é uma chama que arde, mas não destrói; que, ao contrário, ardendo faz emergir a parte melhor e mais verdadeira do homem, como em uma fusão faz sobressair sua forma interior, sua vocação à verdade e ao amor.
Esta chama opera uma transformação, e por isso deve consumir alguma coisa no homem: as escórias que o corrompem e os obstáculos em sua relação com Deus e com o próximo. Mas, este efeito do fogo divino nos assusta. Temos medo de sermos 'queimados'. Preferiríamos permanecer assim como somos. Isto depende do fato de que muitas vezes nossa vida é planejada segundo a lógica do ter, do possuir e não do doar-se.
Muitas pessoas acreditam em Deus e admiram a figura de Jesus Cristo, mas quando se pede para perder alguma coisa de si mesmas, então, voltam atrás, têm medo das exigências da fé. Está o temor de ter que renunciar a alguma coisa bela, à qual estamos apegados; o temor de que seguir a Cristo nos prive da liberdade, de certas experiências, de uma parte de nós mesmos. Por uma parte queremos estar com Jesus, segui-lo de perto, e por outra parte temos medo das exigências que isso comporta.
Saber reconhecer que perder alguma coisa, mais ainda, perder a nós mesmos pelo verdadeiro Deus, o Deus do amor e da vida, é em realidade ganhar, reencontrar-se mais plenamente. Quem se confia a Jesus experimenta, já nesta vida, a paz e a glória do coração que o mundo não pode dar, e não pode tampouco tirar, uma vez que Deus no-las deu.
Sabemos, sobretudo, que esta chama – e só ela – tem o poder de nos salvar. Não queremos, por defender nossa vida, perder aquela eterna que Deus nos quer dar. “Temos necessidade do fogo do Espírito Santo, porque só o amor redime”.
(Vaticano, 23 de Maio de 2010 – Parte da homilia do Papa Bento XVI, Na Missa que presidiu pela solenidade de Pentecostes).
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