Considerações finais
O espaço previsto para este texto finda. Permanece, no entanto, clara a impostação positiva da Igreja Católica em relação à sexualidade. Integrá-la buscando amadurecer, como processo que perpassa a vida toda, dá à sexualidade sua real amplitude e importância.
Por isso, não é possível cair em visões parciais, reducionistas, fragmentadas que transformam a sexualidade em objeto, de uso e abuso. A sexualidade não se reduz a uma de suas dimensões por mais importante que seja; ela sempre remete para o todo do humano, para a totalidade da pessoa. O ser humano não se reduz a um “fragmento” nem a uma “miniatura”, nas quais resvalam não raras vezes a modernidade e a pós-modernidade.
A sexualidade é mais do que uma pulsão ou os instintos, mesmo que estes estejam inscritos na natureza humana e façam parte dela. No entanto, esta mesma natureza distingue-se no humano pela sua capacidade reflexiva e pelo seu discernimento moral. O ser humano não pode renunciar a este distintivo no concerto da criação. Enquanto ser consciente, é capaz de reflexão e avaliação; enquanto ser moral, é capaz de escolher os meios e adequá-los aos fins; enquanto ser social, é capaz de buscar o bem das pessoas, das famílias, das comunidades, enfim da sociedade; enquanto ser espiritual, é capaz de transcender, de ir além, de não parar num patamar ou resvalar num reducionismo para cair no vazio das meras caricaturas da sexualidade, traindo a grandeza da dignidade na qual ele foi dotado pelo próprio Criador.
Deixemos o Documento de Aparecida, fruto dos trabalhos da V Conferência geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, nos dedicar umas palavras: “Vivemos uma mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural. Dissolve se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus [...] .
Surge hoje, com grande força, uma sobrevalorização da subjetividade individual[...]. O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel primordial à imaginação [...].
Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte” (34).
A vida nova de Jesus Cristo atinge o ser humano por inteiro e desenvolve em plenitude a existência humana ‘em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural’ [...]. Só assim será possível perceber que Jesus Cristo é nosso salvador em todos os sentidos da palavra [...]. A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos, o entusiasmo para progredir, o gosto de trabalhar e aprender, a alegria de servir a quem necessite de nós, o contato com a natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia como sinais de seu sincero amor(35).
Prof. Dr. Nilo Agostini(*)
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(*) Nilo Agostini é frade franciscano (OFM), sacerdote, doutor em Teologia pela Universidade de Ciências Humanas de Strasbourg, França, Professor de Teologia, pesquisador e autor de mais de uma dezena de livros e várias dezenas de artigos em revistas especializadas.
Referências Bibliográficas
(34) V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, Documento de
Aparecida, n° 44.
(35) Ibidem, n° 356.
AGOSTINI, N. Ética e evangelização: A dinâmica da alteridade na recriação da moral. 3ªed. Petrópolis: Vozes, 1997.
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