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CRISE
A palavra sânscrita para crise é Kri ou kir e significa “desembaraçar”, “purificar”, “limpar”.
Toda situação de crise para ser superada exige uma decisão. Esta marca a trilha nova e uma direção diferente por isso a crise é prenhe de vitalidade criadora; não é sintoma de uma catástrofe eminente, mas é o “momento crítico” em que a pessoa se questiona radicalmente a si mesma seu destino, o mundo cultural que a cerca e é convocada não a opinar sobre algo, mas a se decidir acerca de algo. Sem essa decisão não há vida. Idéias, nós as temos. Mas decisões, nós a vivemos. Por isso a situação de crise é antropologicamente muito rica. Não constitui uma tragédia na vida, mas sua pujança e regurgitamento. É oportunidade de crescimento. Não é perda do chão debaixo dos pés, mas um desafio que esse chão vital lança para uma evolução ou definição melhor.
A crise não nasceu da descrença, mas do agudo sentimento de uma inadequação, provocado pela esperança exigente de um bem possível. E esse possível faz um apelo globalizante para toda personalidade e lhe exige um engajamento radical. Sem isso a crise jamais ser superada, mas sempre protelada.
Crise, portanto, é uma descontinuidade e uma perturbação dentro da normalidade da vida provocada pelo esgotamento das possibilidades de crescimento de um arranjo existencial. A crise é um processo normal de todos os processo vitais. Ela emerge de tempos em tempos para permitir a vida permanecer vida, poder crescer irradiar.
A crise não é um mal que sobrevém interrompendo o curso da vida. Ela pertence ao próprio conceito de vida de história. Tanto uma como outra (vida e história) não possuem uma estrutura linear, mas descontínua. Pertence a essência da evolução o momento e o ponto crítico e a crise. A evolução acumula energias, atinge um limiar, a partir de onde se verifica uma convulsa: dá-se a passagem de um para outro nível mais alto de vida.Há momentos na história que, para continuar, é preciso romper, entrar em processo de convulsão, de instabilidade e radical questionamento, onde não se muda algo no mundo, mas o mundo todo muda. A crise é este momento angustiante, mas profundamente criativo, que permite o evoluir histórico sobre outras bases e com outros valores.
Pertence à crise o aspecto dramático e a sensação da perda dos pontos de orientação. Por isso se impõe a coragem de saber esperar o desencantamento da água turva... Há momentos que para subir, se faz mister descer e entrar em crise. E para permanecer o mesmo, precisa-se mudar. Porém, se compreendermos que a crise é o nicho generoso onde se prepara o amanhã melhor e a penumbra que antecede o nascer do sol e ai ficamos firmes, aceitando o desfio e esperando contra toda esperança, então temos a oportunidade de amadurecer e de dar um salto para dentro de um horizonte mais rico de vida humana e divina.
A superação da crise não se faz, comumente, pelo ativismo e pela excitação exterior, mas reflexão e mediação sérias, onde as forças se recolhem para uma decisão purificada e libertadora.
“Todas as coisas grandes acontecem na crise, no turbilhão.” Platão.
A†Ω
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