“Felize s os pobre s em espírito, porque deles é o reino do s céus”
Leituras: (Missa III) Sabedoria 3, 1-9; Salmo 42 (42), 2.3.5bcd; 42 (43), 3.4.5; Apocalipse 21,
1-5.6b-7; Mateus 5, 1-12.
COR LITÚRGICA: ROXA
1. Situando-nos brevemente
Neste dia rec or d a m o s , de mo d o esp e c i al, os no s s o s morto s . Faz e m o s es s a me m ó r i a no Mistério da Pás c o a de Jesus, que ven c e u definitiva m e n t e a mort e. Tod o s os que, pel o Batismo , sã o incorp or a d o s a Cristo, co m Ele res s u s c itar ã o dent e os morto s à s e m e l h a n ç a de sua res s urr ei ç ã o .
O Missal Roma n o e o Lecion ári o Dominic al apr e s e n t a m três prop o st a s difer e nt e s para a liturgia de hoj e.
De ac or d o co m as ne c e s s i d a d e s past or ai s, a co mu ni d a d e faz a sua es c o l h a . Optamos aqui pel o s texto s da Terc eir a Missa.
2. Recordando a Palavra
A palavr a da Sab e d o ri a gira e m torn o do s co nflito s justo s ver s u s injusto s , cha m a d o s de
ins e n s a t o s . O co nflito oc orria pela ho stilidad e e pers e g ui ç ã o advin d a s de pes s o a s da cultura gre g a co ntra a fé e a cultura do pov o judeu, que ha bitav a em Alexan dria do Egito, por volta do s an o s 50 a.C. Para nã o s er e m mar gin alizad o s e pers e g ui d o s , muito s deixav a m os co stu m e s e até a fé, perd e n d o a própria identida d e de pov o es c o l hid o .
Além diss o , a cr en ç a na “teol o gi a da retribuiç ã o ” esta v a em cris e. A realida d e mo s tr a v a o co ntrario. Os corrupto s e injusto s viviam so s s e g a d o s por long o s an o s . Os justo s era m atribulad o s , pers e g ui d o s , mort o s na juventud e .
Para sup er ar es s a cris e, a sa b e d o ri a afirma co m toda a co n vi c ç ã o : “as alma s (as vida s) do s justo s estã o nas mã o s de Deus, e nen hu m torm e n t o os atingirá (...). Os justo s estã o em paz (...).
Os justo s, no dia do julga m e n t o , brilharã o co m o fagulha s no m ei o da ‘palha’ e go v e r n a r ã o as naç õ e s , sub m e t e n d o os pov o s , participan d o co m o Senh or do s e n h o ri o da história”. Deus e os justo s sã o aliad o s ins e p ar á v e i s e, me s m o qu e ven h a a mort e por caus a da luta pela justiça, os justo s co ntinuar ã o viven d o .
O Salmo 4 1 (42)/ 42 (43) expr e s s a uma saud a d e ime n s a de Deus e ma nt é m no s s a esp e r a n ç a de
voltar a no s en c o n tr ar m o s co m Ele. Deus s e faz pres e n t e na vida em forma de aus ê n c i a s e ntida.
Para falar da aus ê n c i a , é us a d a a ima g e m da cor ç a bra mi n d o de s e d e . Tod o s er s e m Deus s e c a e morr e. Cante m o s est e salm o na c ertez a de qu e Deus aten d e no s s a s e d e profund a.
Ouvimo s três versí cul o s do Apoc alips e co m uma rev el a ç ã o preci o s a : “Pronto! Está feito! Acab o u!
Eis que faç o nov a s toda s as cois a s! (...). Eu sou o co m e ç o e o fim. O ven c e d o r rec e b e r á a
her a n ç a!”. Quand o tudo par e c e r ac a b a d o , nov a s cois a s surgirã o, e qu e m s e ma nt e v e fiel rec e b e r á sua her a n ç a . Será tudo nov o , s e m dor, s e m ch or o , s e m luto. Nem mort e hav er á .
No Sermã o da Montanh a (cf. Mt 5, 7- 27), Mateus reún e a nov a justiça trazida por Jesus. As b e m ave ntur a n ç a s abr e m es s e s er m ã o , anun ci a n d o a felicida d e verd a d e ir a de s er m er e c e d o r do Reino. São pro cla m a ç õ e s de salva ç ã o para aqu el e s qu e ad er e m à co mu ni d a d e do s s e g uid o r e s de Jesus Cristo.
Existe o texto paral el o de Lucas 6, 20- 26. São dua s formula ç õ e s da s palavr a s de Jesus. Em
Mateus, sã o oito b e m- av e ntur a n ç a s e mai s uma a s e realizar co m qu e m s e g u e Jesus; em Lucas sã o quatr o b e m- av e ntur a n ç a s e quatr o infelicida d e s . Ess e g ê n e r o (ashr ê e m he br ai c o) é freqü e n t e no s salm o s e na po e si a sapi e n ci al. São ma n d a m e n t o s co m o o de c ál o g o do Sinai.
Revel a m uma felicida d e qua s e que hum a n a m e n t e inco m pr e e n s í v e l . Reún e m pro m e s s a s de b e n s exc el e nt e s e exig ê n ci a s extra or din ária s .
Mateus fala em “po br e s e m espírito!”. É uma no ç ã o qu e ve m do profeta Sofonia s. São os ana wim , os qu e bus c a m Deus e a sua justiça, que ma nt é m viva a Alianç a na esp e r a do Messias. Ess e espírito nã o é a intelig ê n ci a ou o Espírito Santo, ma s é o c e ntr o, o cor a ç ã o , a totalidad e da pe s s o a . Essa expr e s s ã o , de ac or d o co m a m e n t alid a d e bíblic a, significa dina mi s m o , so pr o, forç a vital.
Ess e s po br e s sã o os que, por s eu s sofrim e n t o s e car ê n ci a s , apr e n d e r a m a co nfiar so m e n t e em Deus e co ntar co m s eu so c o rr o . “Em espírito” indica a interiorida d e co n s ci e nt e : sa b e m qu e sã o po br e s e tamb é m rejeita m a co bi ç a e a gan â n ci a. O Reinad o de Deus é para el e s . A ev a n g e liz a ç ã o do s po br e s foi o sinal dad o por Jesus ao s discípul o s de João Batista, para rec o n h e c e r e m que Ele era o Messias.
3. Atualizando a Palavra
A Palavr a de Deus é um ap el o para s er m o s po br e s em espírito e no s prop õ e o asp e c t o dinâ mi c o do s er hum a n o , de bus c ar a inteirez a do s er. Expres s a muita exig ê n c i a e nã o ap e n a s de s pr e n di m e n t o do s b e n s mat eri ais. Ser po br e “em espírito” no s leva a transfor m a r a refer ê n ci a de uma situaç ã o ec o n ô m i c a e so ci al e m uma atitud e para ac eitar a Palavr a de Deus.
Este é um tem a c e ntr al das Sagrad a s Escrituras, que no s co n vid a a viver e m total disp o ni bilidad e à vonta d e de Deus e faz er dela no s s o alime n t o . É uma atitud e de filhos e filhas, irmã o s e irmã s do s de m a i s filhos de Deus; s er po br e e m espírito é s er discípul o de Cristo. O discipulad o exig e ab ertura ao do m do am o r de Deus e solidari e d a d e prefer e n ci al co m os po br e s e oprimid o s .
As de m a i s b e m- av e ntur a n ç a s refer e m- s e a outras atitud e s do discípul o, do po br e: b o m trato, afliçã o pela aus ê n c i a do Senh or, fom e e s e d e de justiça, mis eri c ór di a, co e r ê n c i a de vida, co n struç ã o da paz, pers e g ui ç ã o por caus a da justiça. Elas enriqu e c e m e aprofun d a m a primeir a b e m- av e ntur a n ç a .
Neste dia de esp e r a n ç a , de co m u n h ã o co m qu e am a m o s e co ntinua m o s am a n d o os que termin ar a m sua per e g rin a ç ã o terren a , m e s m o s e m a pre s e n ç a física, a Ressurr ei ç ã o de Jesus é uma luz cintilant e para no s s a fé na vida. Tem o s c ertez a qu e tod o mal já foi ven ci d o e no s agu ar d a um futuro on d e a mort e nã o existirá mai s. É es s a tamb é m a c ert ez a que tem o s qua n d o a no s s o s pais, irmã o s , ami g o s e a tod o s qu e ad or m e c e r a m no Senh or.
Tem o s que co n struir o nov o c éu e a nov a terra durant e o temp o de no s s a história, ma s tem o s a co nfian ç a qu e que m morr eu, tend o guar d a d o a fidelida d e a Jesus Cristo, já pod e usufruir do nov o c éu e da nov a terra s e m fim.
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
Damo s graç a s ao Pai, Santo e fonte de toda a santida d e , participan d o do me m o ri al da mort e eres s urr ei ç ã o do Cristo, o Bem- av e ntur a d o do Pai, o Alfa e o Ôme g a , princípio e fim, que no sofer e c e , gratuitam e n t e , a fonte de águ a viva, s eu Espírito Santo.
Antecipa m o s no s s a participa ç ã o na as s e m b l é i a c el e st e co m tod o s os irmã o s e irmã s que partiram, os sant o s e santa s que ent o a m inc e s s a n t e m e n t e a Deus o louv or pas c al e qu e respla n d e c e m co m o faísc a s lumin o s a s , prov a d o s co m o ouro no cadin h o .
Suplica m o s ao Pai, na c ert ez a da res s urr ei ç ã o , qu e no s s o s falecid o s goz e m da imortalida d e , da ale gria plen a pro m e tid a.
Nesta Eucaristia, reto m a n d o no s s o Batismo , o Espírito Santo realiza tamb é m em nó s es s a
esp e r a n ç a , participan d o da vitória pela qual Cristo no s faz co ntinua m e n t e co m el e reviv er.
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