Os sinais dos Tempos
Como seres inteligentes pautamos nossa vida a partir do Invisível. Temos a certeza de que o essencial é invisível aos olhos. Olhamos, com a visão da inteligência e com a perspicácia da fé, para além das aparências. Constatamos algo que nos surpreende, anima e orienta. Estamos, no caso, entendendo, o que etimologicamente se expressa por intus-legere: ler o que está por dentro.
Comecemos pela vida humana. À primeira vista deparamo-nos com muitos órgãos, que atuam admiravelmente, cada um com sua função específica: olhos para ver, ouvidos para ouvir, nariz para cheirar, mãos para apalpar... Podemos esmiuçar estes órgãos e, inclusive, transplantá-los. Logo se põe a questão da relação entre o órgão e sua função. Se nos perguntarmos acerca da precedência, há quem a dê para o órgão, uma vez que qualquer avariação atinge a função. Mas, examinando melhor, verificamos que a relação é inversa. A prioridade é da função. Ela é que, por assim dizer, se esmera na produção do órgão. E se, por uma razão ou outra, o órgão falhar, a função tenta expressar-se, de algum modo, por outro órgão. Faltando os olhos se aguçam os demais sentidos...
Ficando ainda na superfície, poderíamos perder-nos no emaranhado das percepções e das funções. Mas, aprofundando seu significado, notamos que elas não são senão a expressão da vida. É, pois, ela que se expressa pelas diversas funções e estas se servem de uma multiplicidade de órgãos. Chegamos assim ao mistério da vida, mais profundo que os órgãos e suas funções. Na verdade é invisível. Manifesta-se, contudo, de algum modo, através do visível. Por isso se diz, com razão, que nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos.
Chegamos agora ao âmago da questão. Notamos que todo sensível - e nele incluo tudo o que nos é proporcionado pelos sentidos - envolve uma realidade insensível, que é sua essência. Exprime algo que nos põe em contato com o mistério da vida. O que percebemos nos leva à descoberta de algo mais profundo, que nos envolve. Dentro de nós, este mistério é nossa própria vida, que se revela com uma consistência impressionante. Além de nós colocamo-nos em contato com uma fonte, que proporciona vida. Descobrimos um princípio na origem e no destino de tudo. Falamos de Deus.
Jesus nos advertia acerca da importância de discernir os sinais dos tempos. Queria chamar a atenção para enxergarmos o que há por detrás dos acontecimentos, para chegar até ao Plano divino. Começamos pelos órgãos. Nossa inteligência nos leva a aprofundar suas funções, como razão de ser deles. Mas não nos permite ficar na observação das funções. É preciso chegar até à fonte para desvendar o segredo da vida, que lhes dá consistência e unidade. Chegamos à imanência. Na profundidade de nosso eu somos desafiados a transcender-nos. O que até aqui vislumbramos não passa de sinais. Indicam algo mais importante e fundamental, na sua origem e destino. Chegamos a Deus, fonte da vida. Encontro-o mais eu que eu mesmo.
Esta descoberta nos leva a perceber outros sinais, que tornam Deus perceptível. São sinais de sua presença entre nós, através de Jesus Cristo, ou seja, através do próprio Deus, que entrou no tempo e se fez sinal palpável para nós. Tornou-se visível e se fez ouvir entre nós. E nós o vimos e ouvimos e, por isso, testemunhamos. Estabeleceu muitos sinais concretos para isto. Entra por nossos sentidos, chega ao intelecto, penetra na vontade e move os sentimentos. Abrindo-nos às maravilhas de sua presença - pela criação e pela encarnação - sentimo-nos impulsionados a prestar-lhe homenagem.
A†Ω
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