DOMINGO II DO ADVENTO
“Apareceu João Batista no deserto a proclamar um baptismo de penitência.” Mc 1, 4
Ir mais fundo
João Batista não devia ter o ar simpático e ternurento das imagens das festas de Junho. A sua popularidade seria mais da ordem do excêntrico e talvez se aproximasse de alguns personagens que, de vez em quando, nos parecem loucos anunciadores do fim do mundo. Se viesse hoje talvez tivesse direito a uma notícia efémera numa televisão mas seria facilmente esquecido. Mas se percebesse de economia, se soubesse comentar o sobe e desce das bolsas, se apontasse medidas salvadoras das finanças (sem sacrifícios!) teria enorme audiência.
A crise de Israel seria também económica (não são todas?), e muitos ansiavam soluções milagrosas (não era um “messias milagreiro” quem esperavam?). Subjugado pelo império romano (que bem sabia dominar pela força e pelos impostos) Israel é governado por pequenos tiranos e refugia-se numa religião saudosista e acomodada. João Batista vai mais fundo. Não se “arma” em salvador, fala de penitência e conversão (pouco se muda sem reconhecer erros, e sem escolher critérios novos de vida), batiza em água para preparar o baptismo no Espírito Santo. Escolhe o deserto como casa e a pobreza como condição. Quer acordar as consciências para algo novo, para uma vinda surpreendente, que será também para ele, mas insiste que é preciso “preparar o caminho”. É duro com os poderosos, da política e da religião, denuncia a hipocrisia, mas acolhe todos os que procuram Deus. Aceita diminuir para que o Outro cresça!
É sempre mais fundo que é preciso mudar. Dentro de cada um, das instituições, da sociedade. A cosmética é uma ilusão que tem data de validade muito curta. A primeira tentação é arrasar o que estava feito, sem discernir o que foi bom daquilo que foi mau, sem acolher a luz que mesmo algumas noites trazem dentro de si. Quando aprenderemos que não é fazendo de nós o centro do mundo que somos mais felizes? Ir mais fundo, para renovar o mais que pudermos, implica uma humildade que só Jesus nos pode ensinar. Ele que gostava de mergulhar nas almas de quem sofria para ir salvar o que estava perdido! Mas para isso é preciso preparar o caminho, levantar os vales e abater as montanhas, tornar acessíveis as vias de comunicação para que nos encontremos na verdade e no respeito profundo por cada pessoa.
Batismo é mergulhar e emergir. É movimento de descida e ascensão. É risco que reclama coragem para rever as seguranças e apostar no novo. Desde a água deitada na nossa cabeça que andamos a aprender este mergulho. A ir mais fundo na relação com Deus e com os outros. A descobrir que há uma fonte de água viva naquilo que parecia ser um poço. João Baptista já suspeitava. É grande a tentação de ir boiando, ao sabor das correntes. Ir mais fundo é também apelo de Advento!
P. Vítor Gonçalves
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