DOMINGO III DO ADVENTO
Jo 1, 22
É tão difícil responder à pergunta: “quem és tu?”. Podemos dizer o nome, o gênero, a idade, a profissão, o estado, a família, os gostos, as ideias, as crenças, a história pessoal, as relações, os projectos, e somos tudo isso e parece que ainda fica tanto por dizer! “Cada pessoa é um mundo”, dizia Clarice Lispector, e descobrir e revelar esse mundo é uma vocação que partilhamos. Estamos sempre a revelar-nos (curiosa a palavra que sugere voltar a pôr o véu sobre algo que se descobriu!), na busca incessante da verdade sobre nós e sobre os outros.
Creio que a alegria é também um fruto deste entrelaçado da vida em que somos uns dos outros e uns para os outros.
Talvez seja por isso que gosto muito de entrevistas. De ler, ver, ouvir, e guardar aqueles momentos em que alguém abre as janelas da alma para nos deixar entrar. Claro que a qualidade de uma entrevista também depende muito da humildade e humanidade do entrevistador, um pouco à maneira de João Batista: “que ele cresça e eu diminua”. Uma entrevista é um diálogo alargado, uma revelação que se pode partilhar, um ponto de vista que aclara a verdade. Gosto das palavras que comprometem, das ideias que ganham corpo na vida, da autenticidade que gera confiança. Por estes dias apareceu nas livrarias um primeiro volume com 60 entrevistas realizadas pelo jornalista António Marujo ao longo de 20 anos para o jornal Público. “Deus vem a público – Entrevistas sobre a transcendência” oferece-nos uma sinfonia de vozes e de vidas que “estão empenhadas na busca de sentido, na mais funda raiz das ideias, na procura da humanidade (...), na construção de um mundo mais justo e fraterno.” Sabe bem reler ou ler pela primeira vez estes testemunhos de alegria e de dor, de coragem e fidelidade, de humildade e grandeza de pessoas que se gravam na nossa alma. Nas suas palavras percebemos que “quem somos” está intimamente ligado com “quem queremos ser”, o ser relacionado com o agir!
P. Vítor Gonçalves
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