O corpo do grande discurso de nosso Senhor na Montanha, sem erro, foi concluído em Mateus 7,12.
A natureza radical e não convencional do Reino, seus cidadãos e sua justiça foram clara e poderosamente traçados (5,3-7,12).
Os demais versículos do Sermão (7,13-27) contêm o apelo de Jesus pelo compromisso de seus ouvintes.
Este notável discurso espiritual, que dá definição a toda verdadeira pregação do evangelho, não foi pretentido meramente para informar, mas para persuadir.
O Sermão da Montanha toca nossa vontade, bem como nosso entendimento.
É um chamado a escolha radical.
E o Grande Pregador não pretende que escapemos dele ou de sua mensagem. Ele está dizendo, com efeito: "Meu Sermão está terminado. Agora você tem que decidir o que você fará a respeito dele.
Pondere cuidadosamente. Escolha sabiamente. Vida e morte estão no rumo que você tomar."
O que é óbvio em tudo isto é o fato que, não obstante todo o poder de Deus, os homens podem rejeitar sua vontade. Seu longo e árduo trabalho redentor resulta, finalmente, não em um decreto irresistível (Atos 7,51; Hebreus 10,29); mas em um convite solene (Mateus 11,28-30).
O homem não é um robô. Sua vontade, por determinação de Deus, é inviolável. Jesus pode suplicar, mas não pode compelir.
Assim, ele nos ensina pacientemente e, então, insistentemente solicita.
Ao fazer seu apelo de encerramento, o Senhor fala só de duas alternativas: duas portas, dois tipos de fruto, dois fundamentos.
A escolha pode ser difícil, porém não é complexa.
Temos que decidir entre o caminho da submissão e da confiança e o caminho da rejeição e da rebelião. Ele insiste com seus ouvintes para que escolham entre estas alternativas, considerando não somente suas exigências, mas também suas conseqüências. Aonde esta estrada me levará? Que tipo de fruto esta árvore produzirá? Resistirá esta casa à mais violenta tempestade?
As exortações deste trecho final podem ser divididas em três unidades (7,13-14;15-23; 24-27). Entre duas admoestações a escolher sabiamente, está inserido um aviso sobre o perigo da sábia escolha apresentada por falsos mestres.
O Caminho Estreito
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela" (Mateus 7,13-14). Aqui Jesus abertamente insiste com seus ouvintes para que escolham o caminho que é duro e apertado e rejeitem um trajeto mais fácil e mais confortável. Ele até deixa claro que a estrada à frente é tão inexoravelmente exigente quanto a porta pela qual nela se entra, e mais do que isso, pode ser, algumas vezes, um caminho solitário, uma vez que muitos homens não o acharão a seu gosto. O convite ao reino feito pelo Senhor, notavelmente honesto, torna excessivamente repugnantes os apelos carnais e as promessas açucaradas de alguns pregadores modernos.
Não há nada de surpreendente neste convite. É um convite a entrar num reino cuja feição mais saliente tem sido a estreiteza de sua visão e a singeleza de seu compromisso (5,48; 6,19-24,33). A porta estreita é a soberana autoridade do Senhor, e o caminho apertado a obediente submissão a sua vontade. Aqueles que entram não se encontrarão mais fazendo a coisa esperada, tradicional, óbvia. Seguindo o Filho de Deus, suas vidas serão tão diferentes como seus destinos.
Obviamente, há muitas coisas que aqueles que escolhem a estrada estreita do reino têm que deixar para trás. Estaremos abandonando a multidão despreocupada que nunca tem que perguntar se o que está fazendo é agradável a Deus. O que é mais importante, estaremos nos desfazendo de nossa velha personalidade, com seu modo arrogante, teimoso e egoísta e entregando a mente e o pensamento a um Soberano mais sábio e mais benevolente (Mateus 16:24-25; 2 Coríntios 10:4-5). Somente deste modo chegaremos a ser mansos e misericordiosos, pobres de espírito e puros de coração, capazes de amar nossos inimigos e orar por aqueles que nos perseguem.
Mas se o caminho estreito do reino constringe o espírito obstinado e a mente voltada para si mesmo, ele não estreita o amor (Filipenses 1,9; Efésios 3,17-19); não constringe a paz (Filipenses 4,7); não seca a alegria (1 Pedro 1,8); não espreme a misericórdia (Efésios 2,4); não esmaga a bondade (2 Coríntios 9,8); não estrangula a esperança (Romanos 15,13). Tudo isto abunda na estrada estreita. A única coisa que a porta estreita arranca de nós é aquela impiedade que nos envenena e destrói. Somente o homem que ainda ama essa impiedade se sentirá oprimido e sufocado na estrada do Rei. O pecado é o ladrão que veio "roubar, matar e destruir", mas o "Bom Pastor" veio para que os homens tenham vida, e tenham-na abundantemente (João 10,10).
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