No Evangelho, Jesus pede a pratica da esmola, o jejum e a oração longe de toda hipocrisia: «Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa» (Mt 6,2). Os hipócritas, energicamente denunciados por Jesus Cristo, se caracterizam pela falsidade de seu coração. Mas, Jesus adverte hoje não só da hipocrisia subjetiva senão também da objetiva: cumprir, inclusive de boa fé, tudo o que manda a Lei de Deus e a Escritura Santa, mas fazendo de maneira que fique na mera prática exterior, sem a correspondente conversão interior.
Então, a esmola reduzida —à “gorjeta”— deixa de ser um ato fraternal e se reduz a um gesto tranqüilizador que não muda a maneira de ver o irmão, nem faz sentir a caridade de prestar-lhe a atenção que ele merece. O jejum, por outro lado, fica limitado ao cumprimento formal, que já não lembra em nenhum momento a necessidade de moderar nosso consumismo compulsivo, nem a necessidade que temos de ser curados da “bulimia espiritual”. Finalmente, a oração —reduzida a estéril monólogo— não chega a ser autêntica abertura espiritual, colóquio íntimo com o Pai e escuta atenta do Evangelho do Filho.
A religião dos hipócritas é una religião triste, legalista, moralista, de uma grande pobreza de espírito. Pelo contrario, a Quaresma cristã é o convite que cada ano nos faz a Igreja a um aprofundamento interior, a una conversão exigente, a una penitência humilde, para que dando os frutos pertencentes que o Senhor espera de nós, vivamos com a máxima plenitude de alegria e o gozo espiritual da Páscoa.
Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)
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