O OLHAR EM DEUS
A contemplação é o olhar fixado em Deus.
É o êxtase do homem diante de Deus e do ser diante de sua fonte.
Qualquer contemplação funda-se neste movimento essencial e natural do ser, o qual, tomando consciência do que é, volta-se para a sua origem.
Assim definida, a contemplação pode parecer fora do alcance da maioria das almas. Pelo contrário, esta definição convida-as a compreender que não é um exercício de piedade do qual saímos mais ou menos bem sucedidos conforme nos apliquemos a ele com maior ou menor assiduidade, seguindo determinados métodos.
A contemplação pode ser tão natural quanto é natural para uma criança olhar o pai e a mãe.
O olhar em Deus, ato essencial da contemplação, não é faculdade da imaginação nem representação intelectual fundada numa boa teologia. É um ato de tal modo rico que não pode ser definido pelos termos de que nos servimos para descrevê-lo. É este olhar da alma que remete para Deus, como um eco ou um espelho, o dom do ser e do amor que ele fez à sua criatura.
Este olhar não está inserido em nenhuma faculdade. Pertence ao ser total. É o retorno de todo o meu ser para Deus. Exprime minha posição de criatura diante daquele a quem devo tudo o que sou.
Esta definição é simples por ser fundamental. Por que nos determos em definições parciais que, ao empenhar a alma em processos inúteis, retardam seu acesso à contemplação essencial?
Sei que é preciso avançar passo a passo, pois caminhamos num terreno difícil, entre inúmeros obstáculos.
É essencial sabermos, porém, em direção do que andamos, quando nos levantamos para encetar a caminhada. Ora, existe uma multidão de almas que se entregam à contemplação sem saber o que seja de fato. Avançam penosamente, sem luz, em falsas direções, nas pegadas de mestres inexperientes.
O olhar a que me referi não passa de imagem imperfeita daquele que o Verbo fixa no Pai, olhar de Filho através do qual contempla sua origem e presta homenagem a tudo o que é. O que o Filho apresenta a seu pai não se limita a belos pensamentos, mas é totalmente ele mesmo.
Quando o homem entra em contemplação só pode ser para voltar-se completamente à sua fonte e autor, conforme faria um espelho que fosse a um só tempo o espelho e a imagem.
Este ato deveria ser tão natural ao homem quanto a alegria de ver nascer um belo dia de primavera. Para chegar a tanto, basta tomar consciência do que somos diante de nosso criador.
Aliás, como logo veremos, a contemplação não é um simples olhar em Deus. Ela nos faz entrar nele e vê-lo em suas profundezas. Esta capacidade de ver Deus nos vem dele e nossa contemplação só se realiza na sua luz e na sua força.
Padre Emílio Carlos+
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