QUARTA- FEIRA DE CINZAS
Salmo 51 (50), 3-4.5-6a.12.13.14 e 17 (R/ cf. 3ª);
Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 5, 20-6,2;
Mateus 6, 1-6.16-18.
COR LITÚRGICA: ROXO
Por isso no Brasil é desenvolvido, neste tempo, a Campanha da Fraternidade, que este ano tem como tema: “Fraternidade e Saúde Pública”, com o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra”
(Eclo 38,8). Peçamos a Deus que esta quaresma nos ajude a compreender que a vida é um enorme bem e pulsa em nossos corações.
Situando- nos brevemente:
Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a Quaresma, tempo privilegiado de preparação para a festa da Páscoa. É o único dia, juntamente com a Sexta feira Santa, no qual a Igreja pede a todos os adultos que jejuem, isto é, renunciem a uma refeição importante do dia, em sinal de disponibilidade e solidariedade.
O rito da imposição das cinzas lembra que nós, pessoas humanas, somos pé e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). Diante dessa nossa fragilidade, nos reconhecemos pecadores e aceitamos o convite de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Receber as cinzas significa confirmar nossa fé na Páscoa de Cristo, na reconciliação, na esperança de um dia estar ressuscitado com ele.
Celebramos o convite que o Senhor nos faz à conversão e à vida nova, ouvindo sua Palavra e deixando que ele nos purifique e nos envie para junto dos necessitados de paz, pão, saúde, vida digna.
Com toda a Igreja no Brasil, iniciamos, também neste dia a Campanha da Fraternidade, com o Tema “Fraternidade e saúde pública”.
O Lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra!” (cf. Eclo 38,8).
Recordando a Palavra
mudança de vida.
O profeta pede uma renovação interior que nasça das profundezas do nosso ser. Não pode ser algo exterior, aparente e sem conseqüências práticas. Importa que o homem todo se volte para Deus. Confiando na misericórdia de Deus, o pecado pode estar certo do perdão.
O Salmo 51 é uma oração, confiante do pecador arrependido e disposto a retomar o bom caminho. Deus nos purifica e nos lava de todo o pecado. Só com nossas forças nada podemos.
Contudo, urge reconhecer nosso pecado e nos dar conta de nossa maldade. O verdadeiro culto e
o perfeito sacrifício consistem no coração puro e honesto.
Paulo nos coloca frente a Jesus Cristo, aquele que nos reconcilia com Deus. A pregação, no contexto dos conflitos existentes na comunidade e das dificuldades de aceitar o apóstolo em Corinto, é um convite, uma exortação e uma oração para acolher, na vida, o dom da reconciliação. Recorda que essa é a hora oportuna e o momento favorável da salvação.
Não somos nós que nos reconciliamos com Deus, mas temos que nos deixar reconciliar. Somos livres para aceitar a reconciliação, mas não para criá-la ou iniciá-la. A nós, cristãos, quem nos reconcilia com Deus é Cristo, por meio de sua cruz e de sua gloriosa ressurreição.
No Evangelho, no contexto do Sermão da Montanha, Jesus nos fala ao coração, lembrando a transparência e a veracidade de nossos atos, a sinceridade do coração e a honestidade de nossas práticas. Jesus dá um conselho de ouro: na medida do possível, só o Pai veja e saiba o bem que fazemos. Aí está o segredo do homem justo e santo.
A esmola, o jejum e a oração são conselhos muitos antigos e considerados um caminho de ascese espiritual. Eles sempre foram propostos pelos mestres nos ensinamentos aos seus discípulos e seguidores.
Jesus não faz diferente, porém tem consciência muito clara de que eles não são suficientes e, em
muitos casos, podem nos desviar do que é essencial. Por isso, ele os coloca na relação profunda e de intimidade na comunhão com o Pai e com seus desígnios.
Jesus deixa muito claro que é preciso libertar-se de vaidades e aparências, como “praticar a justiça só para ser visto pelos outros”. E insiste: “tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita; entra no teu quarto e fecha a porta: perfuma a cabeça e lava o rosto...”
Atualizando a Palavra
Atualizar a Palavra significa acolhê-la em nossas vidas e permitir que ela realize em nós a salvação, em meio às diferentes realidades e situações que nos são dadas viver e experimentar.
Isso supõe abertura do coração aos apelos do Senhor e mergulho na realidade social, política, econômica e cultural.
Atualizar a Palavra significa não só buscar um sentido para tudo o que acontece ao nosso lado, mas tornar a Palavra que ouvimos em Palavra de Salvação, de Vida, de Ressurreição, de Comunhão com o Pai, na força do Espírito Santo.
No início da Quaresma, é preciso tomar consciência de que um dia acontecerá o julgamento de Deus que é paciente e misericordioso, mas também exigente e ciumento: quer que façamos o jejum sagrado e estejamos congregados em assembléia para a celebração da liturgia, com a prece calorosa: “Perdoa, Senhor, a teu povo, e não deixes que essa tua herança sofra infâmia”.
Da Carta aos Coríntios deduzimos que a Quaresma, com as nossas práticas e opções de vida, é momento propício de nossa salvação. Importante nos deixarmos reconciliar com Deus. Deus respeita nossa liberdade e pede nossa colaboração para não recebermos em vão a sua graça.
No tempo da Quaresma, somos instados a rever nossa atitude frente à esmola, à justiça, à oração e à caridade no contexto da história da salvação e frente aos milhões de irmãos que passam tantas necessidades. Esmola, justiça e caridade colocam-se em meio à resposta dada à pergunta: o que podemos e devemos fazer por eles e com eles, para garantir uma vida digna para todos?
“A Campanha da Fraternidade, celebrada na Quaresma, intensifica o convite à conversão. Ela contribui incisivamente para que este processo ocorra e alargue o horizonte da vivência da fé, na media em que traz, para a reflexão eclesial, temas de cunho social, portadores de sinais de morte, para suscitar ações transformadoras, segundo o Evangelho.
A saúde integral é o que mais se deseja. Há muito tempo, ela vem sendo considerada a principal preocupação e pauta reivindicatória da população brasileira, no campo das políticas públicas.
O SUS (Sistema Único de Saúde), inspirado em belos princípios como o da universalidade, deveria ser modelo para todo mundo. No entanto, ele ainda não conseguiu ser implantado em sua
totalidade e ainda não atende a contento, sobretudo os mais necessitados destes serviços (Texto Base CF 2012, nn. 3-5)
As cinzas lembram o que somos – pó – mas a misericórdia do Senhor é imensa. A Quaresma, na
graça do Senhor, é um grande retorno ao primeiro amor e uma profunda purificação de nossas
vidas pela concretização da solidariedade.
Ligando a Palavra com ação litúrgica
O grande desafio da Quaresma é cada um, conscientemente, assumir o compromisso de fazer uma caminhada séria, honesta, provocadora de mudanças em sua vida. Isso é graça de Deus e decisão pessoal.
Jesus no início deste tempo litúrgico, nos mostra a firme decisão de realizar a vontade do Pai e reconciliar a humanidade com ele. A força da sua páscoa é lembrada e atualizada em cada liturgia e vivenciada profundamente neste tempo de preparação pascal. Na celebração, nos tornamos muito íntimos de Jesus e de seus gestos, palavras e ações e também do mistério do Pai que ele nos revela.
A celebração tem uma força pedagógica muito forte para que tudo isso aconteça. A proclamação da Palavra é Deus mesmo falando ao seu povo, o convocando a uma vida melhor, mais justa, mais santa e solidária. A comunidade reunida é composta de pessoas amadas por Deus, sedentas de paz, necessitadas de perdão e reconciliação.
As preces e os cantos são clamores nascidos no coração das pessoas em busca de Deus e de sua misericórdia. A preparação da mesa do altar é a explicitação do sonho profundo da refeição comunitária, do pão partilhado, dos bens condivididos e da fraternidade entre os povos.
A prece eucarística, memorial da Páscoa, canta as maravilhas do Senhor realizadas na pessoa de Jesus Cristo e hoje oferecidas para nós, povo sacerdotal, raça eleita, povo chamado a ser discípulo missionário nas veredas do mundo. O pão eucarístico, repartido para a comunhão de todos, realiza, na Páscoa do Cordeiro, a profunda comunhão entre nós, fazendo-nos um só corpo em Cristo, presença do Ressuscitado, a serviço da vida de todos, especialmente dos mais pobres e necessitados.
Neste tempo propício, voltamos especialmente o coração para o Senhor. Permanecemos atentos à sua Palavra, em atitude de conversão sincera, em espírito de penitência, no cultivo da oração, na prática da caridade e do jejum em busca da santidade. Jejum é sinal de disponibilidade e solidariedade, de entregar-se nas mãos de Deus.
Quaresma é tempo de volta confiante ao Senhor: “Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus” (antífona de entrada).
A comunidade recolhe-se e concentra-se na meditação da Palavra de Deus para encontrar forças e inspiração no anúncio do Evangelho, pois está inserida em um mundo onde existem milhões de pessoas passando fome, onde a violência ceifa tantas vidas e a desigualdade social é uma triste realidade que afronta o coração de Deus.
No que se refere à CF 2012, “... é possível extrair 5 temas preocupantes para a saúde atualmente: doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares), hipertensão, diabetes, cânceres, doenças renais crônicas e outras); doenças transmissíveis (AIDS, tuberculose, hanseníase, influenza e ou gripe, dengue e outras); fatores comportamentais de risco modificáveis (tabagismo, dislipidemias por consumo excessivo de gorduras saturadas de origem animal, obesidade, ingestão insuficiente de frutas e hortaliças, inatividade física e sedentarismo); dependência química e uso crescente e disseminado de drogas licitas e ilícitas (álcool, crack, oxi e outras); causas externas (acidentes e violências) “ (Texto Base CF 2012, n.65).
Entramos na Quaresma em comunhão com todas as comunidades que rezam com a Igreja no Brasil e assumem as propostas da Campanha da Fraternidade.
Por isso com o coração contrito endereçamos ao Pai nossas preces.
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