ASSUNÇÃO NOSSA SENHORA
- TEMPO COMUM – ANO B
19 DE AGOSTO DE 2012
Maria
elevada ao céu
é imagem e modelo
da criatura plenamente
salva, liberta, realizada.
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“O
Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”
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Leituras:
Primeiro do Apocalipse 11, 19a-12,1-6ª;
Salmo 44 (45);
Primeira Carta de São
Paulo aos Coríntios 15, 20-27a;
Lucas 1, 39-59.
COR LITÚRGICA: Branca ou Dourada
Animador: A Igreja celebra
hoje em Nossa Senhora
a realização do Mistério Pascal. Sendo Maria a “cheia de graça”, sem sombra
alguma de pecado, quis o Pai associá-la à ressurreição de Jesus. Para nós
cristãos a ressurreição é a etapa conclusiva da salvação. Nesse sentido, Maria
elevada ao céu é imagem e modelo da criatura plenamente salva, liberta, realizada.
Lembramos também nesta celebração da vocação para a vida consagrada: religiosos
(as) e consagrados (as) seculares.
1. Situando-nos
brevemente
A solenidade de hoje, considerada a festa principal da
Virgem, recebeu, no início do século IV, o nome de “dormição” (dormitio Virginis), enquanto passagem
para outra vida, e só mais tarde foi chamada de Assunção.
Desde os primeiros séculos, conhece-se esta festa tanto
no Oriente como no Ocidente. Somente em 1950 foi proclamado verdade ou dogma de
fé por Pio XII.
No Brasil, a piedade popular venera Maria assunta ao céu
como Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora da Abadia,
Nossa Senhora do Pilar, Nossa Sra. do Patrocínio, dentre outras.
Celebramos esta festa da páscoa de Maria dando graças ao
Pai que eleva a humilde mulher, Maria de Nazaré, e, nela, nos oferecer o sinal
da vitória definitiva de toda a humanidade, pela força da ressurreição de Jesus
Cristo. Com a Virgem Maria, cantamos as maravilhas que o Senhor fez por nós,
fazendo-nos participantes do mistério pascal do seu Filho.
Somos chamados a celebrar esta vitória, vivendo o
projeto de Jesus que vence, pelo poder da entrega da sua vida, a força enganosa
do dragão, que devora e destrói todas as possibilidades duma vida humana digna
e feliz.
Cantamos com Maria a esperança dos pobres e pequenos, a
quem Deus, em sua grande misericórdia, liberta e exalta. “Alegremo-nos todos no
Senhor, celebrando este dia festivo em honra da Virgem Maria: os anjos se
alegram pela Assunção e dão glória ao Filho de Deus” (antífona de entrada).
2. Recordando a
Palavra
No Evangelho, Maria, grávida,
visita Isabel, também grávida. Encontram-se as duas mulheres do povo,
escolhidas pelo Senhor, cada uma com uma vocação especifica, num lugarejo sem
recursos e sem importância.
Maria, aclamada pela prima como
bendita entre as mulheres, recita uma oração de louvor pelas maravilhas que o
Senhor realizara nela, as quais seriam plenificadas na vida da criança que
estava em seu ventre.
Lucas apresenta um paralelismo
entre as pessoas de João Batista e de Jesus: duas cenas de anunciação (1,5-25 e
1,26-38); um encontro das crianças no seio das mães (1,39-56); dois relatos de
nascimento e circuncisão (1,57-66 e 2,1-21); duas missões proclamadas em
oráculos proféticos (1,67.76 e 2,22-39). Nesse paralelismo, João aparece como
profeta do Altíssimo (1,76) e Jesus como Filho do Altíssimo (1,32). Ambos abrem
os últimos tempos da história da salvação: João como precursor que prepara o
caminho (1,76), e Jesus como Messias esperado (7,18-23).
Há, no cântico de alegria das
mulheres, duas impossibilidades humanas de ser mãe, reunidas: Isabel era idosa
e estéril; Maria, jovem e virgem.
Maria é aclamada com uma
bem-aventurança: ”Feliz és tu que creste, porque se cumprirá o que o Senhor te
anunciou”. Seu coração transborda em canto e oração. A sua esposa é ação de
graças, é celebração profética e jubilosa, resumo de toda a história da
salvação. Ela é filha de Abraão e pertence a seu povo.
Em Maria, neste encontro entre o
Antigo e o Novo Testamento, se unem a promessa e a realização e, ao mesmo
tempo, se manifesta a predileção história do Senhor pelos pobres e pequenos.
O louvor proclamado por Maria fala
de um Deus aliado aos pequenos, que sacia de bens os famintos, que derruba os
poderosos e eleva os humildes. Esta é uma característica marcante do rosto de Deus
que perpassa toda a Bíblia.
O Deus de Israel, o Deus de Maria, é
quem tira da humilhação às mulheres estéreis e escolhe justamente seus filhos
para grandes tarefas. Envia profetas para defender os que não têm defesa; é o
Deus que rejeita sacrifício e ofertas no templo se houver injustiça contra os
pobres.
O cântico de Maria apresenta um
projeto, que é o mesmo de Jesus: transformar o modo antigo e opressor de viver,
no qual a prepotência e autoafirmação humanas saem sempre ganhando, em uma
ordem nova em que triunfa a justiça para os ofendidos, os desprezados e
excluídos. O Filho de Maria veio para inaugurar o novo relacionamento entre
todas as coisas.
A leitura do livro do Apocalipse
apresenta a mulher, símbolo da comunidade. Ela está adornada de todo seu
esplendor; veste-se de sol, sinal da glória do Senhor; tem aos pés a lua,
símbolo de alguém que não será vencido pelo passar do tempo; usa uma coroa de
doze estrelas, simbolizando o povo de Deus, o antigo Israel, com suas doze
tribos, do qual nasceu Jesus, e depois o novo Israel, a Comunidade-Igreja,
Corpo de Cristo, Povo de Deus, perseguido pelo dragão. Está grávida, na hora de
dar à luz. Como Maria e a Igreja, que fazem Jesus nascer na história e na vida
das pessoas.
O Salmo 44, cântico nupcial
messiânico, celebra a festa de casamento de um rei e uma princesa; mas, para
nós, é a celebração da aliança que Deus fez com seu povo. Ao cantarmos esse
hino em honra a Cristo, celebramos a sua vitória pascal e as núpcias com a
humanidade, simbolizada na Igreja.
Costumamos rezá-lo pensando em
Maria de Nazaré como lindíssima esposa e primeira da lista dos ressuscitados
com Cristo.
A segunda leitura nos fala do
combate entre as forças do Reino e o mal. No capítulo 15 da primeira carta aos
coríntios, há uma exposição clara e sólida sobre a ressurreição. Fala da
ressurreição, motivo da profissão de fé das testemunhas, relacionada a Cristo.
Este mistério só pode ser entendido pela fé.
Sabemos que os cristãos de Corinto
tinham enormes dificuldades em acreditar na ressurreição, mas Paulo consegue
mostrar que a negação da ressurreição dos mortos implica na negação da
ressurreição de Cristo, Ele afirma: “Se é só para esta vida que pusemos a nossa
esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de
compaixão” (15,19).
A fé e a esperança cristãs
fundamentam-se na morte e ressurreição de Jesus. “Cristo ressuscitou dos mortos
como primícias dos que morreram” (15,20). Paulo compara Cristo com Adão, isto
é, com o ser humano. Adão simboliza a morte para todos os homens e mulheres,
Cristo surge como a esperança de vida e ressurreição para os cristãos. “Como em
Adão todos morrem, assim, em Cristo, todos viverão” (15,22).
A ressurreição de Cristo salva do
poder da morte e traz vida plena para todos. Jesus Cristo deve reinar até que
todos os inimigos, inclusive a morte, sejam vencidos, colocados debaixo de seus
pés. A morte não significa um ponto final, mas a ressurreição é a palavra
decisiva sobre nossas vidas, todo o resto ganha nova luz e nossos medos são
dissolvidos pela confiança no poder maior do Pai.
3. Atualizando a
Palavra
A festividade da assunção é um sinal de esperança para
os que seguem o caminho da fé e alimentam a certeza de que serão ressuscitados
em Cristo.
E a Igreja, reunida em comunidade, contempla Maria à luz do mistério
Pascal de Cristo, professa que ela, no término da caminhada por esta terra, foi
elevada ao céu, assumida por Deus e colocada na glória dos céus. É a ação de
Deus fazendo grandes maravilhas na vida da mãe do Salvador.
A assunção de Maria brotou da ressurreição de Jesus.
Maria segue o caminho novo de acesso ao Pai, aberto pelo Filho Jesus. Deus
antecipa em Maria que é, na verdade, destino de toda a humanidade. A
ressurreição de Jesus é caminho de ressurreição para todo o ser humano.
Maria havia proclamado que Deus exalta os humildes e
destrói a segurança e a prepotência dos soberbos. A sua vida tem a marca da
humildade e do serviço. A sua reposta ao anjo na anunciação é um juramento: eis
a serva do Senhor. O fato de se tornar a mãe do Messias não a tornou orgulhosa
nem vaidosa. Como mulher humilde e servidora, foi exaltada na assunção e
agraciada por Deus com o sinal antecipado da glória.
Maria, a mulher vestida de sol do Apocalipse e do
Magnificat, nos ensina a seguir o projeto de Deus em favor dos pequenos. Deus
encontra um espaço em Maria para agir e manifestar-se hoje e realizar suas
maravilhas em favor da humanidade.
No Salmo de Maria, tradicionalmente chamado de
Magnificat, ela proclama que Deus realizou a derrubada de situações opressoras
para restaurar o seu projeto de Deus: Ele subjuga a autossuficiência humana e a
soberba; destitui do trono os poderosos e enaltece os humildes, e destrói as
desigualdades humanas; elimina os privilégios estabelecidos pelo dinheiro e o
poder. Cumula de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias, para
instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos, porque
todos somos filhos de Deus.
Deus olha a condição oprimida do pobre, o estado de
desgraça, de aflição e humilhação em que vivem milhões de pessoas, e envia
Jesus para propor um jeito novo de viver que seja bem para todos. O que alegra
Maria é ser parte integrante do projeto de Deus para a humanidade – salvação
das opressões, mas também salvação de um povo.
4. Ligando a Palavra e
a Eucaristia
Como comunidade peregrina, grávida da salvação de Deus,
nos reunimos para celebrar. Vivemos a experiência de Maria, que, vestida de sol
e adornada de jóias, canta a esperança oferecida aos pobres e humildes.
A celebração, assim como o encontro de Maria com Isabel,
é para nós momento privilegiado de contemplação do mistério de Deus, presente
em nossa vida e na vida das pessoas que compartilham conosco a mesma fé.
O Senhor fez e faz maravilhas na história. Ele faz
grandes coisas em favor dos pequeninos, pobres e humildes. Socorreu Israel seu
servo, lembrando-se de sua misericórdia. Que sejamos bem-aventurados por
acreditar que Deus cumpre sua promessa. Na ressurreição de Jesus, temos a
concretização da promessa de Deus, pois Ele não abandonou Jesus à morte. E se
Jesus venceu a morte, nós venceremos juntamente com Ele.
Ao participar do mistério de Cristo, recebemos de Deus a
alegria e a esperança oferecidas aos pobres e aos humildes. Deus nos oferece a
salvação em seu Filho Jesus, mas é preciso acolhê-la – sentar-se à mesa da
Palavra e da Eucaristia.
Alimentados com o sacramento da salvação, nós, que ainda
peregrinamos aqui na terra, temos no céu um modelo de fé e fidelidade a Deus:
“Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e
esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo
ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de
modo inefável, vosso próprio Filho feito homem, autor da vida” (oração após a
comunhão).
Assentamo-nos com ela à mesa do Pai e participamos do
banquete do Reino, com seu Filho, saboreando antecipadamente a alegria de nossa
elevação definitiva.
Nossa ligação com Maria existe justamente por ser ela
uma entre os pequenos que Deus escolhe. Se houver muita homenagem a ele e pouco
compromisso com os famintos e desamparados, estaremos fora da obra que Deus
realiza com Maria.
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