«
Prezados amigos, interrogai-vos com seriedade acerca da vossa vocação e
estai prontos a responder ao Senhor que vos chama a ocupar o lugar que
desde sempre preparou para vós.»
[1] .
Há algumas décadas vemos com profunda
preocupação como o número de vocações tanto para o sacerdócio como para a
vida consagrada vem diminuindo. Não passa despercebida a escassez de
sacerdotes que existe para atender às imensas multidões de fiéis
cristãos. De modo similar se pode falar dos consagrados: muitos filhos e
filhas da Igreja permanecem pastoralmente abandonados por falta de mãos
e recursos, enquanto o secularismo predominante na cultura vai tornando
cada vez mais difícil a resposta à vida cristã e cresce o influxo de
seitas e “manifestações” de religiosidade. Diante desta desafiante
realidade, que deve preocupar a todos os católicos profundamente,
estamos acostumados a escutar que há uma falta ou crise de vocações. Mas, Deus terá deixado de chamar homens e mulheres à vida sacerdotal ou consagrada?
Crise de vocações, ou crise de resposta?
A primeira coisa que temos que afirmar é
que não há falta de vocações. As vocações abundam! Deus continua
chamando muitos também hoje! O problema está na ausência de resposta
ao chamado do Senhor, e isto por diversas razões: surdez para escutar a
voz de Deus em um mundo que nos enche de barulho; covardia quando a
gente percebe que o Senhor pede “mais entrega”; oposição e pressão que
desalentam e fazem com que muitos dêem para trás, seja por parte do
ambiente em geral, do círculo de “amigos” ou inclusive dos próprios pais
e familiares; inconsistência na vida espiritual e incoerência na vida
cristã…
Também temos que nos perguntar se a
falta de resposta dos chamados se deve ao pobre testemunho de vida
cristã que muitas vezes nós, católicos, damos. A santidade de vida terá
deixado de ser um ideal apelante e atrativo para os jovens de hoje por
nossa mediocridade e incoerência entre o que dizemos acreditar e o que
mostramos muitas vezes com nossas obras, com nossa conduta? Se fôssemos
santos, homens e mulheres formados na fé e convencidos de que o Senhor
Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, se com o testemunho de uma vida
coerente soubéssemos apresentar Cristo com toda a força atrativa que
emana de sua Pessoa, quantas vocações veríamos florescer na Igreja hoje!
O que é a vocação?
A palavra “vocação” vem do latim “vocare”, que significa “chamar”. Assim, ao falar de vocação,
no vocabulário cristão entendemos o chamado que Deus faz ao ser humano,
a cada um de nós. Já nossa própria vida é uma vocação: o “chamado” que
Deus nos faz a sair do nada para passar à existência.
Fomos criados com a capacidade de entrar
em diálogo e comunhão de amor com o próprio Deus.O Senhor nos chama
para participar de sua própria vida e
natureza divinas[2]! É um chamado «para sermos santos e irrepreensíveis, diante dele no amor»
[3].
Mas junto a este chamado ou
vocação universal há outro
chamado particular:
A cada qual Deus chama para ocupar um lugar e para cumprir uma missão
específica no mundo. Diante desse chamado «é dever irrenunciável de cada
um procurar e reconhecer, dia após dia, a vereda ao longo da qual o
Senhor vai pessoalmente ao seu encontro»
[4].
Dentro dessa vocação ou chamado particular, a maioria encontra na
vida matrimonial
seu próprio caminho de santidade, mas outros estão chamados a seguir o
Senhor Jesus “mais de perto”, seguindo seu próprio estilo de vida
enquanto viveu conosco, renunciando a tudo para entregar sua vida ao
anúncio do Evangelho e ao serviço evangelizador dos irmãos humanos, seja
no sacerdócio ou a vida consagrada. A estes, de uma maneira particular,
vai dirigido o chamado do Senhor: «Vem e segue-me!»
[5].
A vocação sacerdotal ou consagrada
Pelo que já foi dito se entende que o
chamado não é nenhuma novidade. É uma realidade tão antiga como a
própria existência do homem, uma realidade que também hoje acontece:
Deus continua chamando hoje.
No Antigo Testamento vemos como Deus foi
escolhendo alguns homens ou mulheres para tarefas concretas e
específicas, para levar a cabo seu desígnio reconciliador. Descobrimos
como aqueles que Deus
escolhe para uma missão muito concreta, já são por Ele formados no
seio materno[6].
Por isso podemos afirmar que a vocação é como um selo que está gravado
no eleito dede o momento de sua concepção, um selo indelével
[7].
Porque está “feito para isso”, todo o seu ser clama por isso, embora só
com o tempo e os sinais que Deus lhe envia poderá interpretar
corretamente esse “clamor interior de seu ser”. Deus, quando permite ao
eleito perceber o chamado, sai ao encontro dessa estrutura interior,
corresponde àquilo para o qual o eleito “foi feito” desde sua concepção,
para o que nasceu.
No Novo Testamento é o Senhor Jesus,
Deus feito homem, quem escolhe e convida a alguns com um tão direto como
radical: «Vem e segue-me!»
[8]. Desse modo associa a quem chama a sua própria missão reconciliadora e evangelizadora
[9].
Aqueles que escutaram aquele chamado
experimentaram suas exigências: deixar tudo pelo Senhor. Os que souberam
responder com prontidão, generosidade e fidelidade, receberam por parte
do Senhor uma promessa: «Em verdade vos digo que não há quem tenha
deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras por minha causa
ou por causa do Evangelho, que não receba cem vezes mais desde agora,
neste tempo…e, no mundo futuro, vida eterna»
[10].
Outros, como o “jovem rico”
[11]
ou Judas Iscariotes, preferiram aferrar-se a suas riquezas ou a seus
próprios planos, negando ou traindo com o tempo seu próprio chamado. O
fruto amargo que experimentaram foi a profunda tristeza e frustração de
não responder ao que o próprio coração reclama. A isso se acrescenta, no
caso de Judas, iniciar um caminho de autonegação que leva finalmente à
própria destruição e aniquilamento. Como vemos, embora hoje pareça ter
crescido, a crise de resposta tampouco é novidade.
O chamado, fonte de bênçãos
Diferente do que alguns pensam, a
vocação à vida sacerdotal ou consagrada não é uma má notícia, nem para o
eleito ou eleita, nem para sua família. É justamente o contrário! O
chamado que Deus faz a um filho ou filha é fonte de bênçãos para toda a
família e sinal de um amor de predileção para o chamado: «Eu te amei com
um amor eterno, por isso conservei para ti o amor»
[12].
Da resposta fiel e valente ao chamado do
Senhor depende a realização da pessoa. É importante que quem percebe ou
intui o convite do Senhor entenda que Deus não é inimigo de sua
felicidade porque o caminho que lhe indica “se opõe a seus planos para
ser feliz”. É justamente o contrário! Porque te ama, porque te conhece
melhor que você, porque é imensamente sábio, Deus te mostra o caminho
que tem que seguir para alcançar sua verdadeira felicidade, respondendo
àquilo para o qual foste feito. Ao mesmo tempo, tenha em conta que a
felicidade de muitas pessoas –começando por teus próprios pais, embora
às vezes pode parecer o contrário– depende de teu sim generoso e de tua
fidelidade ao chamado do Senhor.
A responsabilidade é de todos
É importante ser consciente que este
assunto diz respeito a todos os filhos da Igreja. Não queremos um mundo
melhor? Como vamos contribuir para a mudança do mundo se não formos
santos, e se os que são chamados por Deus não respondem a sua própria
vocação e missão? Por isso ninguém pode sentir-se excluído da
responsabilidade de cooperar de algum jeito, trabalhando ou apoiando
direta ou indiretamente o florescimento das vocações ao sacerdócio e à
vida consagrada.
E como “a caridade começa em casa”, são
os pais os primeiros que devem rezar pela vocação de seus filhos, assim
como lhes ensinar que nesta vida não só o matrimônio é um caminho
válido, mas também o são o sacerdócio ou a vida consagrada. Os pais, com
muita abertura à ação divina e espírito de sacrifício em não poucos
casos, são os primeiros que devem alentar e apoiar seus filhos a seguir
as inspirações divinas no momento em que algum deles perceba ou
manifeste alguma inquietação vocacional. Desse modo, as famílias cristãs
estão chamadas a ser hoje verdadeiros focos de vocações.
CITAÇÕES PARA A ORAÇÃO
- Vocações no Antigo Testamento: Moisés: Ex 4,10-12; Samuel: 1Sm 3,10; Isaías: Is 6,4ss; Jeremias: Jr 1,5-8.
- A vocação é fruto de um amor de predileção de Deus: Jr 31,3; é como um fogo inextinguível: ver Jr 20,9.
- Vocações no Novo Testamento: Maria, exemplo de uma resposta pronta e valente a sua vocação: Lc 1,38; vocação e resposta de alguns apóstolos: Mt 4,18-22; Mateus: Mt 9,9; Juan e André: Jo 1,35-42; Pedro: Lc 5,8.
- Exigências da vocação: Lc 9,57-62; promessa do Senhor a quem responde a sua vocação: Mc 10,29-30.
- O triste exemplo de um jovem que rechaça o chamado do Senhor: Mc 10,17-22.
INTERIORIZANDO
Não é nenhuma novidade para nós que o
número de sacerdotes e consagrados na Igreja diminuiu. Tampouco nos
falta a percepção de que o número de sacerdotes é insuficiente para
atender aos fiéis cristãos.
- Diante desta realidade, qual costuma ser minha atitude?
- Sou realmente consciente da necessidade dos sacerdotes e consagrados para a vida da Igreja?
- Como posso eu, partindo de minha realidade concreta, cooperar para reverter esta situação?
Há muitas razões pelas quais podemos
entender melhor a falta de resposta ao chamado que o Senhor faz a muitas
pessoas. Uma delas é o possível insuficiente testemunho de vida cristã
coerente que nós, católicos, damos.
- Será que ainda me falta dar um melhor testemunho de vida cristã aos outros?
- O que posso fazer em minha vida cotidiana para dar um testemunho de vida cristã mais coerente?
A vocação particular é o chamado
concreto que Deus faz a cada pessoa para que esta se realize, alcance a
felicidade plena. A resposta fiel e coerente a este chamado tem uma
especial importância posto que é nossa própria realização pessoal que
está em jogo.
- Sou consciente de que o chamado particular que Deus me faz é o único caminho de autêntica realização pessoal para minha vida?
- Diante do chamado particular que o Senhor me faz, o que devo fazer?
Em um discurso dirigido particularmente
aos jovens, na Espanha, o Papa João Pablo II dizia: “a evangelização
exige hoje com urgência sacerdotes e pessoas consagradas. Eis a razão
pela qual desejo dizer a cada um de vós, jovens: se sentis o chamado de
Deus que vos diz: “Segue-me!” (Mc 2, 14; Lc 5, 27),
não o sufoqueis. Sede generosos, respondei como Maria oferecendo a Deus o
sim alegre das vossas pessoas e da vossa vida. Dou-vos o meu
testemunho: eu fui ordenado quando tinha 26 anos. Desde então passaram
56. Então, quantos anos tem o Papa? Quase 83! Um jovem de 83 anos.
Quando olho para trás e recordo estes anos da minha vida, posso
garantir-vos que vale a pena dedicar-se à causa de Cristo e,
por amor dEle, consagrar-se ao serviço do homem. Vale a pena dar a
vida pelo Evangelho e pelos irmãos!” (João Paulo II, Discurso na
vigília com os jovens em Quatro Ventos, Madri, 2003).
- Ao ler o testemunho do Santo Padre, o que lhe suscitam suas
palavras? O que você pensa? Que ensinamento lhe dá o Santo Padre para
sua própria vida?
Não é difícil constatar hoje como para
algumas pessoas o chamado à vida sacerdotal ou consagrada representa uma
má notícia, seja para a pessoa que é chamada ou então para sua família.
Estas pessoas costumam dar espaço a uma série de prejuízos em vez de
abrir-se à realidade de que a vocação à vida sacerdotal e consagrada
representa um grande presente de Deus, uma grande bênção tanto para o
que é chamado como para sua família.
- Qual é minha atitude diante do tema da vocação à vida sacerdotal ou
consagrada: seja em relação a mim mesmo ou então a um familiar?
- Dou-me conta de que um sacerdote ou um consagrado é uma autêntica bênção para a família?
Como cristãos batizados, todos somos
responsáveis para que mais pessoas respondam com generosidade ao chamado
particular que o Senhor faz a alguns para segui-lO mais de perto.
- O que vou fazer para assumir melhor esta responsabilidade?
- Escreva uma oração pelas vocações à vida sacerdotal e consagrada.
Com um coração agradecido pelo dom da
vocação peçamos a intercessão de Nossa Mãe, Santa Maria, para que nossa
resposta ao Plano de Deus Amor seja sempre generosa como a sua.
Oração de Gratidão
Obrigado, Senhora Santa Maria.
Obrigado pelas tuas muitas bondades
e pelos teus cuidados maternais.
Ajuda-me para que a minha gratidão
se converta em resposta efetiva
de solícito amor
e de cumprimento de tua palavra:
“Fazei o que Ele vos disser”.
Amém.
PERGUNTAS PARA REZAR E DIÁLOGAR
- Expus a mim mesmo, com seriedade, a pergunta por minha vocação?
Estou respondendo ao chamado que o Senhor me faz com toda a generosidade
de meu coração?
- Diante da falta de mais respostas ao chamado do Senhor para segui-lO
mais de perto e a partir de minha realidade concreta, o que vou fazer?
Qual pode ser minha cooperação pessoal?
- Porquê há em nossos dias um problema de “ausência de resposta” ao
chamado do Senhor? Como posso ajudar a solucionar esta dificuldade?
- O que é a vocação universal? O que é a vocação particular? Sou
consciente de que a vocação particular a que Deus me chama é um dom para
minha vida?
- Você entende a vocação à vida sacerdotal ou consagrada como uma
bênção? Por quê podemos afirmar que a vocação ao sacerdócio e à vida
consagrada representam um imenso dom para a família?
- Como Santa Maria pode ajudar você a escutar e responder com generosidade ao chamado de Deus?
_____________________________________
[1] S.S. João Paulo II, Mensagem para a XIII Jornada Mundial da Juventude, n. 8.
[4] S.S. João Paulo II, Mensagem para a XIII Mornada Mundial da Juventude, n. 8.
[5] Mt 19,21;
Mc 10,21;
Lc 18,22.
[8] Mt 8,22; 9,9; 19,21;
Mc 2,14; 10,21;
Lc 5,27; 9,59;
Jo 1,43.
[9] Ver
Jo 15,16; 20,21;
Mt 28,19;
Mc 16,15.
[11] Ver
Mt 19,21;
Mc 10,21;
Lc 18,22.
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