«Vem e segue-Me»
S. Mateus 19,23-30.
Naquele
tempo, Jesus disse aos discípulos: «Em verdade vos digo que dificilmente um
rico entrará no Reino do Céu.
Repito-vos: É mais fácil passar um camelo
pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu.»
Ao
ouvir isto, os discípulos ficaram estupefactos e disseram: «Então, quem pode
salvar-se?»
Fixando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é
impossível, mas a Deus tudo é possível.»
Tomando a palavra, Pedro
disse-lhe: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?»
Jesus respondeu-lhes: «Em verdade vos digo: No dia da regeneração de
todas as coisas, quando o Filho do Homem se sentar no seu trono de glória,
vós, que me seguistes, haveis de sentar-vos em doze tronos para julgar as doze
tribos de Israel.
E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs,
pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e
terá por herança a vida eterna.
Muitos dos primeiros serão os últimos, e
muitos dos últimos serão os primeiros.»
Comentário :
«Vem e segue-Me»
Por ter seguido a Palavra de Deus, o Seu chamamento, espontânea e livremente,
na generosidade da sua fé, Abraão tornou-se «o amigo de Deus» (Tg 2,23). Não
foi por indigência Sua que o Verbo de Deus quis esta amizade de Abraão, Ele
que é perfeito desde o princípio; «antes de Abraão existir, Eu sou!» (Jo
8,58). Mas para poder dar a vida eterna a Abraão, porque Ele é bom. [...]
Também no princípio, não foi por ter precisado do homem que Deus modelou Adão,
mas para ter alguém em quem depositar os Seus benefícios.
Também não é por ter necessidade dos nossos serviços que nos manda segui-Lo,
mas para nos salvar. Porque seguir o Salvador é ter parte na salvação, como
seguir a luz é ter parte na luz. Quando os homens estão na luz não são eles
que iluminam a luz e a fazem resplandecer: eles são iluminados e tornam-se
resplandecentes por causa dela. [...] Deus dá os Seus benefícios aos que O
servem porque O servem e aos que O seguem porque O seguem; mas não recebe
deles nenhum benefício porque Ele é perfeito e não tem necessidades.
Se Deus solicita o serviço dos homens é para poder, Ele que é bom e
misericordioso, dar os Seus benefícios a quem perseverar no Seu serviço. Pois,
se Deus não tem necessidade de nada, o homem tem necessidade da comunhão de
Deus. A glória do homem é perseverar no serviço de Deus. Por isso, o Senhor
disse aos Seus discípulos: «Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos
escolhi a vós» (Jo 15,16), indicando assim que [...] por terem seguido o Filho
de Deus, seriam glorificados por Ele: «Pai, quero que onde Eu estiver estejam
também Comigo aqueles que Tu Me confiaste, para que contemplem a Minha glória»
(Jo 17,24).
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir
«Contra as heresias», IV, 14,1
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