O Rabi Hillel, um seu contemporâneo, tinha dito: «Não faças ao teu próximo aquilo que é odioso a ti; nisto está toda a lei» (3).
Para os mestres do Judaísmo, o amor ao próximo derivava do amor a Deus, que criou o homem à Sua imagem e semelhança.
Por isso, não se pode amar a Deus sem amar a Sua criatura: este é o verdadeiro motivo do amor ao próximo, e é «um grande princípio geral na lei» (4).
Jesus reforça esse mesmo princípio e acrescenta que o mandamento de amar o próximo é semelhante ao primeiro e maior mandamento, que diz para amar a Deus com todo o coração, a mente e a alma.
Ao confirmar uma relação de semelhança entre os dois mandamentos, Jesus liga-os definitivamente. E toda a tradição cristã manteve esta ligação, como dirá de forma lapidar o apóstolo João: «Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê» (5).
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».
É "próximo" – como afirma claramente todo o Evangelho – é cada ser humano, homem ou mulher, amigo ou inimigo, a quem se deve respeito, consideração, estima.
O amor ao próximo é, ao mesmo tempo, universal e pessoal.
Abraça toda a Humanidade e concretiza-se naquele-que-está-junto-de-nós.
Mas quem é que nos pode dar um coração tão grande?
Quem é que pode suscitar em nós uma benevolência tal que faça considerar nossas amigas – que nos estão próximas – até pessoas que nos são completamente estranhas. Ou que nos leve a ultrapassar o amor por nós mesmos, para nos vermos refletidos nos outros?
É uma dádiva de Deus, ou melhor, é o próprio amor de Deus, que «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado» (6).
Por isso, não é um amor qualquer, uma simples amizade, ou apenas filantropia, mas é aquele amor que foi derramado nos nossos corações desde o nosso batismo. Um amor que é a vida do próprio Deus, da Santíssima Trindade, e de que nós podemos participar.
Portanto, o amor é tudo.
Mas, para o podermos viver bem, é necessário conhecer as suas qualidades, descritas no Evangelho e nas Escrituras em geral.
Parece-nos poder resumir os seguintes aspectos fundamentais:
-Antes de mais nada, Jesus, que morreu por todos, amando todos, ensina-nos que o verdadeiro amor é aquele que é dirigido a todos. Não é como o amor que nós vivemos muitas vezes, simplesmente humano, e que tem um alcance muito restrito: a família, os amigos, os vizinhos... O amor verdadeiro, que Jesus quer, não admite discriminações. Não distingue a pessoa simpática da antipática. Aqui não existe o bonito ou o feio, o grande ou o pequeno. Para este amor não existe aquele que é da minha pátria ou o estrangeiro, o da minha Igreja ou de uma outra, da minha religião ou de uma outra. Este amor ama a todos. E é assim que nós devemos fazer: amar a todos.
-Além disso, o amor verdadeiro é o primeiro a amar, não espera por ser amado, como acontece em geral com o amor humano em que só se amam aqueles que nos amam. Não, o amor verdadeiro toma a iniciativa, como fez o Pai quando, sendo nós ainda pecadores – portanto, pessoas que não amavam –, mandou o seu Filho para nos salvar.
Portanto: amar a todos e sermos os primeiros a amar.
E ainda, o amor verdadeiro vê Jesus em cada próximo: «Foi a mim que o fizeste» (7), dir-nos-á Jesus no Juízo Final. E isto é válido tanto para o bem que fizermos como para o mal, infelizmente.
O amor verdadeiro ama o amigo e também o inimigo. Faz-lhe o bem e reza por ele. Jesus quer também que o amor – que Ele trouxe a Terra – se torne recíproco: que nos amemos uns aos outros, até se chegar à unidade. Todas estas qualidades do amor fazem-nos compreender e viver melhor.
«Amarás o teu próximo como a ti mesmo».
Sim, o amor verdadeiro ama o outro como a si mesmo. E isto deve ser tomado à letra. É preciso ver no outro, realmente, a nossa imagem, e fazer ao outro aquilo que faríamos a nós mesmos.
O amor verdadeiro é aquele que sabe sofrer com quem sofre, alegrar-se com quem se alegra, carregar os pesos dos outros. Que – como diz S. Paulo – sabe fazer-se um com a pessoa amada. É um amor, não apenas de sentimentos, ou de palavras bonitas, mas de fatos concretos.
Aqueles que têm uma crença religiosa diferente também procuram fazer assim, através da chamada "regra de ouro" – que se encontra em todas as religiões – e que aconselha a fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. Gandhi explica-a de um modo muito simples e eficaz: «Não posso fazer-te mal sem me ferir a mim próprio» (8).
Então, deve ser uma ocasião para pôr de novo em relevo o amor ao próximo que, assim, adquire muitos rostos: o vizinho de casa, a colega da escola, o amigo ou o parente mais chegado. Mas tem também os rostos daquela Humanidade angustiada, que a televisão traz até às nossas casas, de lugares onde há guerra ou catástrofes naturais. Antigamente, eram-nos desconhecidos e distavam de nós milhares de quilômetros. Agora, até eles se tornaram nossos próximos.
O amor sugerir-nos-á, momento a momento, o que fazer, e dilatará pouco a pouco o nosso coração até à medida do coração de Jesus.
in memorian- Chiara Lubich
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1) Palavra de Vida, Outubro de 1999, publicada em Città Nuova, 1999/18, p. 7; 2) Lv 19, 18;
3) Shabb. 31a;
4) Rabi Akiba, Slv 19, 18;
5) 1 Jo 4, 20; 6) Rm 5, 5; 7) cf. Mt 25, 40; 8) cf. Wilhelm Muhs, Parole del cuore, Milão 1996, p. 82.
Com minha benção
Pe.Emílio Carlos+
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