A Liturgia da Palavra deste 21º Domingo Comum – C, é uma forte advertência para as condições necessárias para entrar no Reino de Deus cuja Porta é muito estreita. É preciso renunciar a uma vida baseada em falsos valores que nos tornam orgulhosos, egoístas, prepotentes, auto-suficientes, e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega, de dom da vida.
O Reino de Deus é comunhão; a sua vinda ou a sua posse inaugura por isso um tempo de felicidade e de alegria. É uma festa que não acaba, porque é definitiva.
É uma festa para a qual são convidados todos os homens, mas a sua porta de entrada é estreita, tal como Cristo anunciou e em contradição com todos aqueles que, num optimismo compreensivo mas erróneo, pregam e pretendem fugir às suas responsabilidades e esperam um prémio sem mérito próprio.
A pertença ao Povo de Deus não é um privilégio para ninguém mas um serviço para todos os que quiserem entrar pela porta estreita da doação total da sua vida.
A 1ª leitura, do Livro de Isaías, diz-nos que a salvação verdadeira e autêntica só no contexto universal, isto é, enquanto extensiva a todos os homens, se compreende como vontade do Senhor.
- «Eu venho reunir todos os povos e gentes de todas as línguas. Hão-de vir contemplar a Minha glória(...) Hão-de proclamar a Minha glória entre esses povos».(1ª leitura).
No tempo dos profetas o povo eleito tem plena consciência da sua pequenez e insignificância, no meio do vasto mundo. Não obstante isso, reconhece-se também sinal e testemunho de Deus entra as nações. Hoje, esse testemunho deverá ser dado pela Igreja, que o mesmo é dizer, por cada um de nós, como o proclama o Salmo Responsorial : - “Ide por todo o mundo, anunciai a Boa-Nova”.
Na 2ª Leitura, S. Paulo diz aos Hebreus, e hoje também a todos os membros da Igreja que, a correção necessária que os responsáveis da comunidade por vezes têm de fazer aos seus membros, deve ter sempre como objetivo a recuperação daqueles, e a consecução do bem individual e comunitário.
- «Meu filho, não desdenhes a correcção do Senhor, nem esmoreças, se fores repreendido por Ele. É que o Senhor corrige aquele que ama, e castiga a todo o filho que toma a Seu cuidado». (2ª leitura).
Outro tanto se deve ter em vista na prática da correção fraterna.
Imposição e terror, em oposição a uma caridade sem limites, devem sempre e em qualquer circunstância, estar fora de toda a correção.
O Evangelho é de S. Lucas que nos lembra que, uma das muitas e injustificadas preocupações do povo eleito, era a de saber quem e quantos se salvariam, nomeadamente, os contemporâneos de Jesus.
- “Alguém Lhe perguntou : «Senhor, são poucos os que se salvam?» Jesus disse aos presentes : «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Digo-vos que muitos tentarão entrar, sem o conseguirem». (Evangelho).
Bem longe estavam estes homens de pensar que no Reino de Deus não têm lugar os protocolos e as convenções das sociedades terrenas. Privilégios e velhas tradições não contam. A vontade da comunhão exige que estejamos juntos em torno de uma mesa, na alegria de uma ceia, na abundância de um banquete. A alegria de estarmos juntos leva-nos a uma refeição comum, a uma partilha que significa aquilo que somos. O Reino é simbolizado por um banquete, um lugar de encontro e de comunhão. Ele é-nos oferecido, somos convidados e devemos aceitar o convite.
É um dom gratuito, mas deve ser recebido. O fundamento de uma nova igualdade e de novas relações entre os homens está baseada num apelo que Deus dirige a todos os homens. Todos devemos chegar ao Reino, entrar na casa do Pai, sentar-nos à sua mesa. Todos caminhamos, na história, para um mesmo futuro, uma mesma terra prometida. Se há uma só meta, há também uma só porta. O universalismo entrevisto pelos profetas, é levado à plenitude por Jesus. Para os seus compatriotas, fechados nos seus privilégios, ele conta a parábola da porta estreita. Está a nascer um mundo novo, no qual, judeus e pagãos se encontrarão juntos à mesma mesa, porque a impureza dos pagãos, que impedia os judeus de se sentarem à mesa com eles, está definitivamente anulada.
A seleção à porta do banquete não consistirá na separação entre Israel e os pagãos, mas na escolha de quem respondeu ao convite com solicitude e praticou a justiça, quem quer que seja. Jesus, com a sua ressurreição, é o primeiro convidado; entrou e já se sentou à mesa do banquete; foi o primeiro a conquistar o Reino. Esta é a prova de que o convite do Pai é real e espera verdadeiramente por todos nós. Cristo, com a sua morte, demonstrou que a entrada no Reino não é um privilégio para ninguém. O convite é para todos e agora somos realmente todos iguais. Mas foi passando pela morte que ele entrou; pela porta estreita. Só quem tiver dado a vida como Jesus poderá entrar na sala e sentar-se à mesa.
A tradição ou o parentesco de nada adiantam para a salvação, nem mesmo as palavras, a cultura ou a pertença à Igreja. Somente a dedicação, a construção de um mundo que manifeste visivelmente a realidade do Reino. A solicitude em realizar uma comunhão faz descobrir a face dos que se sentam ao meu lado ou à minha frente na mesa do Reino. Uma civilização de cristandade não tornava isso talvez bem claro, e muitas vezes atribuía a salvação aos baptizados, considerando-os automaticamente como pertencendo ao Reino, como se dava com os judeus que pertenceram à estirpe de Abraão. O convite ao banquete tem uma única esposta : dar a vida a exemplo de Cristo.
No cumprimento da História da Salvação, cada um deve saber usar da sua liberdade e aguentar com as responsabilidades das suas ações.
Empenhe-se cada um em cumprir a Boa Nova e terá assegurada a salvação.
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