I. A VIDA DE TERESA DE JESUS
1º TERESA EM FAMÍLIA: 1515-1535
A sua família é numerosa: os pais, doze (?) irmãos, e vários domésticos. Residem na cidade de Ávila, com breves intervalos em Gotarrendura. Pouco a pouco a família começa a desintegrar-se: com a morte da mãe, o casamento da irmã mais velha, a partida dos primeiros irmãos para a América, aos quais seguirão paulatinamente todos os outros irmãos varões. Ao final deste período, Teresa praticamente se torna ama do lar.
II O CAMINHO PERCORRIDO POR TERESA NO LIVRO DA VIDA
Tendo este mesmo objetivo, entre 1562 e1565, escreve Vida como uma relação a mais, só que bem mais extensa. A redige duas vezes: a primeira em Toledo (1561), no palácio de Dª Luisa de la Cerda (texto hoje perdido). A segunda em São José de Ávila, depois de dois ou três anos de fundado o mosteiro. A termina em 1565, com 50 de idade. O autógrafo se conserva íntegro no El Escorial. Sem nenhuma corrupção.
Escrito aos poucos, em trechos que vão sendo acrescentados, o relato fica aberto, à espera do que a autora seguirá vivendo: mais 17 anos de vida mística e de tarefas de fundadora.
a) seção primeira, capítulos 1-10: da infância aos 39 anos de idade. Conta sua vida em família. Sua passagem à família do Carmelo, até o fato decisivo de sua vida diante de uma imagem de Cristo, mui chagado, empatizando com a conversão de Santo Agostinho. O capítulo 10 faz de ponte com as secções segunda e terceira, inícios da sua experiência mística (c. 10,1).
b)seção segunda, cc. 11-21: interrompe-se a narração. Com poucas referências cronológicas. – Introduz o tratado sobre os graus de oração, uma espécie de premissa doutrinal que permitirá ao leitor entender melhor as graças místicas que se exporão na terceira parte. À medida que avança esta exposição, se vai tornando mais narrativa e autobiográfica. O que ocorre, sobretudo, nos cc. 18-21.
c)seção terceira, cc. 22-31: cronologicamente corresponde aos anos 1554-1561. – Retoma a narração. “É outro livro novo daqui para frente, digo outra vida nova . Aquela até aqui era minha. A que vivi [daqui para frente]… é a de Deus em mim”. Quer dizer, torna à narração, mas muda de nível. Começa a narração do fato místico de Teresa. Temas fortes: período extático, experiência s (e teses) cristológicas, ‘graça do dardo’ (c 29)…
d) Seção quarta, cc. 32-36: desde 1561 até 1565. – Refere a fundação de São José de Ávila. Quer dizer, a vida pessoal de Teresa torna-se missão. Quem tem a iniciativa é Cristo. Teresa vai realizando-a. Aí terminava a narração (c. 36, 29).
e) Seção quinta, cc. 37-40. Não é um apêndice, mas o retomar do relato místico. Imagem clara do que atualmente está vivendo no Carmelo recém fundado: ‘assim vivo agora’, entre ânsias de serviço eclesial, e esperanças de vida eterna.
Segue uma carta de envio (escrita em 1565, apesar da data equivocada), ao primeiro leitor. Destinatário, é o mesmo do epílogo precedente (c.40, 23), o mesmo de tantas e afetuosas passagens dialogais no livro: P. García de Toledo.
III A PLENITUDE DA VIDA CRISTÃ: COMUNHÃO COM A TRINDADE
Quando Teresa escreve o Livro da Vida (1565), não havia chegado ainda a descobrir o mistério trinitário. Conhece-o pela fé, não pela experiência. Mas é uma fé tão viva, que está disposta a defendê-la em qualquer disputa teológica: “a alma se vê, num átimo, sábia e tão instruída sobre o mistério da Santíssima Trindade e de outras coisas muito elevadas que não há teólogo com quem ela não se atrevesse a argumentar acerca da verdade dessas grandezas” (V 27,9).
Teresa realizou a exposição doutrinal do argumento da santidade cristã – plenitude da pessoa - nas sétimas moradas do Castelo Interior. Os quatro capítulos das sétimas moradas serão um pequeno tratado “da santidade” a que pode chegar o cristão aqui na terra. O mais expressivo e relevante é o símbolo nupcial, o mais bíblico dos três. Segundo ele, a santidade equivale ao “matrimônio espiritual” da alma com Deus, em total comunhão de amor entre ambos: em união plena e definitiva, com garantias de irreversibilidade, antecipação da santidade celeste. Dessa forma, a santidade não resulta tanto do crescimento da pessoa humana, quanto da simbiose dela com a divina. É um dom de amor recebido, muito mais que o logro do próprio esforço. Mais que perfeição do santo é comunhão com o Santo dos santos.Os quatro capítulos das 7 Moradas contêm quatro respostas progressivas, que refletem limpidamente a idéia que Teresa tem do que Paulo chamou “pleroma” (plenitude) do homem novo em Cristo: plenitude de vida da graça.c. 1º. A santidade é, antes de tudo, um acontecimento trinitário, no qual ao cristão se cumpre a palavra evangélica “que disse o Senhor: que viria Ele e o Pai e o Espírito Santo para morar com a alma que o ama e guarda seus mandamentos”. De sorte que “cada dia se espanta mais esta alma, porque nunca mais lhe parece deixaram de estar com ela [as três Pessoas divinas]..., assim também se entende com clareza que há no interior da alma...” (7M 1,6-7). Santificação do homem por inabitação da Trindade nele. É a Trindade que torna presente no homem a santidade de Deus.c. 2º. A santidade é um acontecimento cristológico, consistente na união plena do cristão com Cristo, de sorte que possa dizer com são Paulo: “Mihi vivere Christus est mori lucrum. Parece-me que o mesmo pode dizer a alma aqui, porque é onde a borboletinha a que nos referimos morre, fazendo-o com grandíssimo deleite, porque sua vida já é Cristo” (7M 2,5). E se cumprem igualmente as palavras que Jesus disse a seus discípulos, orando por eles para que “fossem uma só coisa com o Pai e com Ele, tal como Ele, Jesus Cristo, está no Pai e o Pai Nele. Não sei que maior amor possa haver” ( 7M 2,7). O amor é unitivo com o de Cristo.c. 3º. A santidade é um acontecimento humano, que leva a plenitude a vida do homem novo em Cristo, de sorte que também ele, como são Paulo, possa dizer com disponibilidade absoluta: “Que quereis, Senhor, que eu faça?”, convencido de que o Senhor o escuta, “então vos ensinará de muitas maneiras como haveis de agradá-Lo” (7M 3,9). A nível humano, a santidade é um valor que afeta ao homem inteiro nos planos psicológicos, ético e teologal.c .4º. A santidade é, em definitivo, a plena configuração a Cristo, no serviço da Igreja e dos irmãos, de sorte que realize o gesto simbólico de Maria que com seus cabelos unge os pés de Jesus (7M 4,13), ou que como Jesus mesmo não só vive a serviço dos demais, mas que é também ele “servo de Javé”, e “fazer-se escravo de Deus, marcado com o Seu selo, o da cruz..., assim nos poderá vender como escravos de todo mundo, como Ele próprio foi. Com isso não nos injuria, mas nos concede imensa graça” (7M 4,8).
Ao longo de todo o processo espiritual, Jesus Cristo foi sempre a meta de Teresa: “ponhamos os olhos em Cristo, nosso bem, e com Ele aprenderemos” (1 M 1,11). “Ponde os olhos no Crucificado e tudo vos parecerá pouco” (7M 4,8). Nela se deu o descreveram os Bispos em Aparecida: “ A vida nova em Cristo é a participação na vida de amor do Deus uno e trino. Começa no batismo e chega à sua plenitude na ressurreição final” (DA 357).
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