(São João da Cruz):
2Subida 29, 4 –5 - Discernimento da oração: É Deus que nos fala ou somos nós mesmos?
5 – Além disto, a estima e o desejo de tais favores fazem essas pessoas responderem a si mesmas, imaginando ser Deus que lhes fala ou responde. Se nisto não põem muito freio, e se quem as dirige não as forma na negação desses discursos interiores, virão a cair em grandes desatinos. Costuma tirar daí muito mais loquacidade e impureza espiritual, do que humildade e mortificação interior. Crêem ter sido grande coisa, e que lhes falou Deus; e haverá sido pouco mais que nada, ou nada, ou menos que nada. Tudo o que não produz humildade e caridade, mortificação, santa simplicidade e silêncio etc., que pode ser? Logo todas essas locuções podem estorvar grandemente o caminho para a divina união; porque apartam a alma, que se lhes apega, do abismo da fé, onde o entendimento deve permanecer obscuro, e na obscuridade guiar-se pelo amor e pela fé, e não por muito raciocínios”.
12 – “Fazes muito bem, ó alma, em buscar o Amado sempre escondido, porque muito exaltas a Deus, e muito perto deles te chegas, quando o consideras mais elevado e profundo que tudo quanto podes alcançar. Por esta razão, não te detenhas, seja em parte, seja no todo, naquilo que tuas potências podem apreender. Quero dizer: jamais desejes satisfazer-te nas coisas que entendes de Deus; antes procura contentar-te no que não compreenderes a respeito dele. Nunca te detenhas em amar e gozar nessas coisas que entendes ou experimentas, mas, ao contrário, põe teu amor e deleite naquilo que não podes entender ou sentir; porque isso, como dissemos, é buscar a Deus na fé. Visto como Deus é inacessível e escondido, conforme também já explicamos, por mais que te pareça achá-lo, senti-lo ou entendê-lo, sempre o hás de considerar escondido, e o hás de servir escondido às escondidas. E não sejas como tantos incipientes que consideram a Deus de modo mesquinho, pensando estar ele mais longe ou mais oculto, quando não o entendem, nem o gozam, nem o sentem; mais verdade é o contrário, porque chegam mais perto de Deus quando menos distintamente o percebem. Assim o testifica o profeta Davi: “Pôs nas trevas o seu esconderijo” (Sl 17,12). Logo, ao te aproximares de Deus, forçosamente hás de sentir trevas, pela fraqueza de teus olhos. Fazes, pois, muito bem, em toda ocasião, seja de adversidade ou prosperidade temporal ou espiritual, em considerar sempre a Deus como escondido, e desse modo clamar a ele, dizendo: onde é que te escondeste”.
“4 – “...Ah! Deus e Senhor meu! Quantas almas estão sempre a buscar em ti seu consolo e gosto, e a pedir que lhes concedas merc6es e dons! Aquelas, porém, que pretendem agradar-te e oferecer-te algo à própria custa, deixando de lado seu interesse, são pouquíssimas. Não esta a falta, Deus meu, em não quereres tu fazer-nos sempre mercês, mas, sim, em não nos aplicarmos, de nossa parte, a empregar só em teu serviço as graça recebidas, a fim de obrigar-te a favorecer-nos continuamente”.
6 – “...Isto, Esposo meu, que andas concedendo de ti parceladamente à minha alma, acaba por dar de uma vez. O que me tens mostrado como por resquícios, acaba de mostrá-lo às claras. Quanto me comunicas por intermediários, como de brincadeira, acaba de fazê-lo a sério, dando-te a mim diretamente. Na realidade, às vezes, em tuas visitas, parece que vais entregar-me a jóia de tua posse; e quando minha alma considera bem, acha-se sem ela, porque a escondes, e isto é dar de brincadeira. Entrega-te, pois, já deveras, dando-te todo a toda minha alma, para que ela te possua todo, e não queiras enviar-me mais mensageiro algum”
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