O Espírito Santo faz a Igreja
continuidade na própria introdução: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu.” (Act 1, 1-2; comparar com Lc 1, 1-4)
Podemos chamar-lhe “O Evangelho do Espírito Santo” pelo protagonismo que Lucas lhe dá na
formação e condução da Igreja nascente. No evangelho, Lucas narrou “os actos de Jesus”, movido e animado pelo Espírito Santo. Na sua Ressurreição, Jesus promete “revestir com a força do Alto” (o Espírito Santo) aqueles que são testemunhas destas coisas (missão-morte-ressurreição de Jesus)” (Lc 24, 45-49; At 1, 4-8).
Depois, a partir do acontecimento do dia de Pentecostes, Lucas narra os “atos dos Apóstolos”,
movidos e animados pelo mesmo Espírito Santo de Jesus, agora ressuscitado e glorificado em Deus (At 2,1-41). Como já sabemos, o fato de Lucas narrar o dom do Espírito Santo apenas cinquenta dias depois da Páscoa tem uma intenção teológica, e não histórica: é para o fazer coincidir com o dia de Pentecostes, festa judaica que celebrava o dom da Lei de Deus a Moisés no cimo do monte Sinai. O Espírito Santo é a Nova “Lei”, não um conjunto de normas e preceitos externos, mas presença interior acolhida na Fé que inspira novas atitudes e direções de vida conformes a Jesus Cristo Ressuscitado, o “Homem Novo”. O Espírito Santo é, de fato, a “Lei” da Igreja primitiva que procurava libertar-se dos ritualismos, preceitos e grilhões da estrutura judaica. Por isso Ele a conduz, lhe traça caminhos, inspira decisões, aponta futuros… Este “protagonismo” do Espírito Santo na Igreja primitiva é dito de maneira muito bonita por Lucas nalgumas expressões que usa ao longo do livro: “O Espírito disse: …” (At 8, 29; 10, 19); “Enviados pelo Espírito Santo, Paulo e Barnabé foram…” (Act 13, 4); “O Espírito Santo e nós próprios decidimos que…” (At 15,28); “Paulo e Silas tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu…” (At 16, 7).
É o Espírito quem conduz a Igreja pelo caminho da fidelidade e da novidade permanente a que
Deus convida aqueles que se deixam guiar pela Sua vontade. Por isso, a Igreja primitiva conheceu também divisões e pontos de ruptura, porque havia aqueles que, apesar de se terem convertido a Cristo como Messias de Deus e Salvador, não tinham abandonado a observância farisaica da Lei de Moisés e o ritualismo cultual do Templo de Jerusalém. Se, por um lado, Lucas centra o início da Igreja em Jerusalém e na ação dos primeiros Apóstolos de Jesus, deixa depois claro que uma Igreja que se fechasse sobre si própria perderia a razão da sua existência, o seu sentido e a sua força. Porque em nome da tradição ou do já conhecido, não se pode fechar a porta aos apelos sempre novos do Espírito Santo.
É o espírito quem dá início à ação do Corpo de Cristo no mundo, que é a Igreja, naquela manhã dePentecostes em que Deus funda o Novo Povo da Aliança, não já “da carne” (circuncisão, sinal judaico da antiga Aliança) mas “do Espírito”; não mais “escrita em tábuas de pedra, mas inscrita nos corações” (Jer 31, 31-33). Por isso, este Povo não está limitado por questões de sangue, linhagem, raça, língua ou cultura!
Todos os que tiverem coração capaz de se abrir à Verdade de Jesus anunciada pelos Apóstolos, todos os que escutarem a sua Palavra e se deixarem Baptizar (em grego, baptizô: mergulhar, submergir) no seu Espírito, tornam-se membros do Povo de Deus.
É este o sentido das tantas línguas e dos tantos povos, entendendo-se todos uns aos outros, na manhã radiosa do Espírito (Act 2, 5-11). O dom do Espírito daquela manhã de Pentecostes introduz no mundo a dinâmica da comunhão, do diálogo fraterno e do encontro sem barreiras; na simbólica bíblica, o dom do Espírito Santo é a possibilidade dada ao Homem de destruir a dinâmica do pecado, que gera o desencontro, a separação e o desentendimento simbolizados na Torre de Babel (Gen 11, 1-9).
Por isso, as comunidades de discípulos de Jesus são as primeiras a dar testemunho destacomunhão no Espírito. Lucas apresenta-nos o modelo ideal da Igreja de Jesus, o sonho da Igreja de todos os tempos: “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações…todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum… vendiam terras e bens, e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um… a multidão dos que tinham abraçado a Fé tinham um só coração e uma só alma… ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum…” (Act 2, 42-47; 4, 32-37)
É claro que aqui está traçado o modelo ideal, não a Igreja real, como facilmente se descobre no próprio relato de Lucas (Act 5, 1-11) e, sobretudo, nas cartas que Paulo dirigiu às comunidades espalhadas pelo Império, nas quais trata de vários problemas. Mas os ideais existem exactamente para que os busquemos, para servirem de orientação e sentido para construirmos as nossas próprias comunidades na fidelidade ao Espírito Santo de Jesus.
A comunhão da Igreja primitiva era já a sua primeira acção missionária. O testemunho é sempre aprimeira e mais eficaz forma de missão. Mas Jesus de Nazaré dera à Igreja o mandato do anúncio do Evangelho: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo!” (At 1, 8). Por isso, o Espírito Santo prometido por Jesus como “força do Alto” para realização desta missão, inspira os Apóstolos à Palavra: “De pé, com os Onze, Pedro ergueu a voz e dirigiu-lhes a Palavra… E todos, ao verem o desassombro de Pedro e João e percebendo que eram homens iletrados e plebeus, ficaram espantados…” (At 2, 14; 4, 13)
Rui Santiago cssr
Jovens Redentoristas Portugal
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