O perdão dos pobres II
Retiro Pessoal
Fevereiro 2012
B.Perdoar para ser perdoado
"Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete." Mt. 18,21-22
Deus quer nos falar neste retiro sobre um assunto tremendamente importante. Eu diria essencial para que os relacionamentos em família possam gozar de inteira comunhão. Refiro-me ao perdão. Por desconhecermos as implicações do ato de perdoar e ser perdoado é que vemos a cada dia lares se desfazendo, filhos abandonando os seus pais, casais se divorciando, irmãos brigando contra irmãos. De fato existe muita falta de perdão.
A Bíblia é bem clara ao afirmar “que por se multiplicar as iniqüidades o amor de muitos se esfriariam.” Infelizmente vivemos um caos principalmente dentro do âmbito familiar. São famílias que não se entendem. Pessoas vivendo debaixo do mesmo teto mas se agredindo mutuamente com palavras agressivas e também fisicamente. Filhos desrespeitando os seus pais, pais com total falta de temor a Deus irritando por sua vez os seus filhos e trazendo discórdias no seio da família. Enfim feridas na alma que são abertas a todo instante e que parece não ter solução para sua cura, para a sua total cicatrização. O que está acontecendo afinal? Como acabar com isso? Como fazer que a paz possa voltar ao lar que está mergulhado em desencontros? Como fazer com que os valores morais e sobretudo espirituais cheguem ao coração de nossos amados? A reposta para estas questões está centralizada na pessoa de Jesus Cristo.
Conhecendo Jesus e tendo uma experiência com Ele tudo pode mudar. Infelizmente existe uma tendência de grupos religiosos que insistem em atribuir ao diabo tudo o que acontece de ruim em nossa vida e na vida de nossas famílias. Mas o fato é simples de entender. Quando abrimos as nossas mentes, os nossos corações na direção daquele que tem as respostas, isto é quando nos voltamos em sinceridade para Deus. Ele sim, Jesus, tem as respostas para as nossas inquietações pessoais e familiares. Tiago nos diz claramente: “Ninguém ao ser tentado diga, sou tentado por Deus, pois Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele a ninguém tenta. Mas cada um é tentado quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” Tg 1,14,15
De fato somos nós mesmos, com nossas decisões e escolhas erradas é que atraímos as conseqüências imprevisíveis e muitas vezes irreversíveis em nossa vida nesta terra. Existe um fator que trava toda e qualquer possibilidade de comunhão intensa com Deus e com os nossos semelhantes.
É a falta de perdão. Não perdoar aquele que nos agride, aquele que tem traído a nossa confiança fará com que os céus se fechem para nós.
Pedro argüiu Jesus “até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?” Talvez seja esta a sua pergunta nesta oportunidade. Na mente de Pedro surge um número, o número sete que estava condicionado a lei dos judeus. Porém ao responder a inquietação de Pedro, Jesus o surpreende dizendo-lhe : “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.“ Isto representa no meu modo de pensar que quatrocentos e noventa vezes devo perdoar o meu irmão por uma mesma ofensa recebida.
Em outras palavras. Se o seu filho lhe fez algo que o chateou, aquela ofensa deverá ser perdoada 490 vezes. Se o seu cônjuge o magoou em alguma área, 490 vezes o perdão deve entrar em ação.
O perdão é Divino, é de Deus mas para praticá-lo também devo estar em Deus.
Hoje é tão comum pensarmos que basta apenas pedirmos perdão a Deus e resolveremos a questão pendente com o nosso irmão(a).
Não é assim que o problema será resolvido. Eu tenho que ter aquela consciência que se eu pequei eu devo procurar a pessoa que está sendo alvo de minha inquietação pessoal e pedir-lhe perdão. Depois eu terei liberdade de ir perante Deus para pedir-lhe perdão também. Tantos relacionamentos rompidos principalmente nas famílias por falta do temor do Senhor.
Cria-se na mente várias justificativas que anulam a atitude correta de tomar a decisão para resolver de vez o problema.
A oração que Jesus nos ensinou, a tão conhecida oração do Pai Nosso, Jesus é bem positivo para conosco quando diz: “Que se não perdoarmos o nosso próximo, não seremos perdoados por Ele.” Se não tivermos a atitude de resolvermos o problema que está pendente com o nosso próximo, Deus também não poderá nos perdoar.
Amado(a) você conhece alguém assim? Quem sabe o Espírito Santo neste momento está lhe revelando que existe alguém em sua própria família com quem você tem algum problema não resolvido. Será que você tem dificuldade de perdoá-la? Sabe o que você vai fazer? Eu quero lhe dar alguns conselhos práticos e tenho a certeza absoluta que vai ajudá-lo(a) neste retiro.
1. Verifique em oração diante de Deus se existe alguém cujo perdão você tem retido.
2. Se você identificar pessoas ou situações, peça a Deus que lhe dê coragem e estratégias vindas da parte Dele para resolver a situação.
3. Dirija-se a esta pessoa ou pessoas na primeira oportunidade e peça-lhe perdão. Se estiver longe lhe escreva uma carta, e-mail ou use o telefone mas lembre-se: “Não é um simples pedido de desculpas. É pedir perdão de coração.”
Não é hora de fazer discursos. Não é hora de aproveitar da situação para achar erros na(s) pessoa(s) em questão. É hora de resolver os problemas com seu pedido de perdão.
4. Ore junto com esta pessoa. Agradeça a Deus por estarem tentando se entenderem novamente diante de Deus. Obs. Se a pessoa não lhe der o perdão. Você está liberado diante de Deus, pois tentou fazer a sua parte e você poderá ter agora a sua consciência livre de culpa.
Amigo(a) Talvez você tenha razões de sobra para a sua atitude de afastamento e retenção do perdão. Mas lembre-se: A vitória com certeza chegará a sua vida quando você derrubar esta parede de separação. Alguém disse “Que perdão é a habilidade de começar tantas vezes quanto forem necessárias.”
Uma das coisas que Jesus bateu mais de frente quando estava aqui nesta terra, foi contra os religiosos e hipócritas de sua época. Volta e meia Ele estava frente a frente com as pessoas que gostavam de fazerem intrigas e que traziam tantas perturbações, tanta falta de paz no meio das famílias e comunidades cristãs.
Que adianta ir a Igreja, cantar no coro ou pertencer a uma banda de louvor, ouvir os sermões do padres, participar das celebrações e não ter a motivação de ter um coração limpo, um coração transparente perdoando e sendo perdoado.
Deus está em nossos dias e principalmente na família e comunidades mostrando-nos que para alcançarmos a paz, a alegria, harmonia de pensamentos e comunhão com Deus e uns com os outros o perdão se faz necessário sempre, todos os dias, todas as horas, todas as pessoas, todas as situações.
Somente com o coração livre, sem rancor, sem ódio é que teremos famílias abençoadas e felizes no Senhor.
Agora um detalhe muito importante. Quem sabe você deve estar com este pensamento “ Você está dizendo isto padre, porque não conhece o meu problema? Não conhece a minha dor, não conhece o meu sofrimento. Não sabe o que meu cônjuge me fez. Não sabe o que o meu filho, o meu pai, o meu irmão aprontou comigo” De fato muitas coisas estão chegando à sua mente neste instante de confronto com a Palavra de Deus.
Eu não sei a dimensão do seu problema, mas eu sei de uma coisa e eu quero que você esteja atento(a) para isto. “Eu sei que Jesus não só conhece o seu problema, como também Ele conhece você.
Sabe por que? Porque Jesus Cristo lhe ama. por isso o entende e posso lhe garantir que você não está sozinho(a) nesta situação. Jesus é o único que pode ajudá-lo(a) a se ver livre da culpa, do medo, dos transtornos, da revolta, do ódio, do rancor e da amargura que provavelmente está em seu coração.”
Jesus é o único que pode lhe dar esperança, pode lhe dar alento, pode trazer-lhe a paz e mostrar-lhe perfeitamente o caminho que você deve seguir. Jesus lhe diz neste instante “Vale a pena liberar perdão” “ Vale a pena pedir perdão” “Vale a pena deixar o comando de sua vida em minhas mãos” Na verdade o que quero lhe dizer é quando você caminhar na direção daquela pessoa que de fato lhe prejudicou um dia, não é você que estará ali levantando a bandeira da paz, é Jesus que estará fazendo isto por meio de você.
Amigo(a) vamos resolver aquela situação pendente?
Quero orar para que você se sinta encorajado de resolver esta tarefa tão difícil porem gloriosa. Quem sabe hoje o Espírito Santo lhe trouxe na memória uma situação que exige de você um posicionamento inadiável. Hoje é o dia, o momento é agora.
A misericórdia penetra no nosso coração só se também nós soubermos perdoar, até aos nossos inimigos.
Ora, mesmo que ao homem pareça impossível satisfazer esta exigência, o coração que se oferece ao Espírito Santo pode, como Cristo, amar até ao extremo do amor, mudar a ferida em compaixão, transformar a ofensa em intercessão.
O perdão participa da misericórdia divina e é um vértice da oração cristã.
«Deus não quer que se perca nenhum de seus filhos e transborda de alegria quando um pecador se converte.»
A verdadeira religião consiste agora em entrar em sintonia com esse Coração "rico de misericórdia", que nos pede para amar todos, também os distantes e os inimigos, imitando o Pai celeste que respeita a liberdade de todos e atrai todos a si com a força invencível de sua fidelidade.
«Não julgueis… Não condeneis… Perdoai e vos será perdoado; dai e vos será dado… Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36-38).
Nestas palavras, «encontramos indicações muito concretas para o nosso comportamento diário de cristãos».
A humanidade necessita que a misericórdia de Deus seja proclamada e testemunhada com vigor.
«Quem intuiu esta urgência pastoral, de modo profético», foi João Paulo II, «grande apóstolo da divina Misericórdia», e por isso foi, durante todo o seu pontificado, um «missionário do amor de Deus a todos os povos».
De toda a orientação ética dada na oração maior da cristandade, deixada por Jesus, a passagem que mais desafia quem a leva a sério talvez seja: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Desafia não só nossa disposição moral, em dizer a oração de coração e em verdade, como também a nossa hermenêutica, interpretação crítico-teológica, para bem compreender seus significados. Por que ela teria um conteúdo semântico, um significado, organizado de modo especial?
O “Perdoai-nos” é distinto não partimos do princípio: “Que as ofensas de todos sejam perdoadas por Deus, universalmente, inclusive as minhas”.
A impressão clara de quem reza é de que deve primeiro perdoar os demais para então ser digno de obter perdão.
Nos outros casos há uma tomada de atitude particular “verbalmente implícita” e “logicamente condicionada” à prescrição universal: não se declara que primeiro eu santifique o nome de Deus, primeiro ajude na construção do seu reino, para que tais pedidos sejam feitos e concedidos, ou sim? Já no caso do perdão, ocorre o inverso, a tomada de atitude particular de quem ora é “verbalmente explícita” e “logicamente condicionante”, requisito, da prescrição universal.
Isso nos inquieta: poderia algo particular (a atitude humana de perdoar) ser logicamente anterior a uma prescrição universal (o infinito perdão de Deus)?
Entende-se que as virtudes de Deus sejam superiores às nossas, então pedir que Ele perdoe “assim como nós perdoamos” gera tensão hermenêutica, pois mais devemos buscar seguir atributos de Deus, do que Deus agir assim como nós, imperfeitos por definição. Logo, a oração não diz que Deus só perdoará na exata medida que o homem é capaz de perdoar – o que contradiria a essência da divindade. Como nessa área não cabe contradição, o significado deve ser mais elevado. Para alcançá-lo sou limitado e você retirante pode ajudar-me.
Tentando elevar à universalidade o pedido pessoal, veríamos no plural “Perdoai-nos” um índice dos erros de uma coletividade, uma nação ou, no limite, toda humanidade. Mas dizendo “assim como nós”, na voz de um “eu”, surge um desafio: um só não pode assumir as atitudes de todos, se busca um perdão que dê paz imediata para reiniciar visando não reincidir. Poderia tal paz vir no presente pela certeza de perdão só no futuro? Pela esperança em milênios vindouros, dos quais somos pré-história e nos quais “o mundo já não será mundo e sim algo melhor”? Se “nós” formos “toda a humanidade”, devendo todos perdoar para sermos perdoados, nosso altruísmo, dedicação e paciência não deverão também aumentar? Seria um desafio. Mas a maioria de nós não faz suas orações assim.
O perdão pedido não é sempre para os erros de toda a gente. O “nós” é mais uma forma literária de dizer “eu” do que um compromisso social planetário. Assim, após esta tentativa, a busca por sentidos mais elevados continua.
Seguindo para além do pé da letra da oração, busquemos amparo na interpretação mais geral. Na tradição cristã, o tema dos erros humanos e sua redenção se liga à discussão teológica relativa à morte de Cristo, como símbolo de imolação que redime as culpas históricas da humanidade. Nessa visão da relação homem-divindade, uma “nova aliança” se firma como ética distinta e inédita. Na sua dimensão temporal ela é nomeada como “Tempo da Graça” que incorpora, supera e sucede o “Tempo da Lei” – lembrando um teólogo amigo meu. Nesse tempo novo, já não impera a letra da antiga lei, pois “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2, 27).
Então, julgar nossos erros pede sensibilidade e entendimento não legalista, ao definirmos “ofensas”. Cabe ponderar, pois há novos conceitos de condenação e salvação, mas ainda nos apegamos a regras arcaicas. Mesmo assim, erramos – seja por não seguir a lei ou por não estar na graça.
Para o cristão, só o exemplo de Cristo é saída para nossa fatal tendência ao erro.
Agostinho resume indicando que “não amar” é o único erro: “Àquele que ama, tudo é permitido”. Quem ama, a Deus sobre tudo e ao próximo como a si, não quebrará mandamento algum. Mas, mesmo quem ama e segue seus ritos religiosos, não o faz sempre e não se livra em definitivo de ofender ao semelhante, a si próprio, a Deus.
Por ser inevitável errar, por nem sempre o amor ser a lei maior, não escaparemos: teremos que pedir perdão. Do geral voltamos ao particular.
Na particularidade da vida concreta, na qual sempre erramos, torna-se tenso pedir perdão, pois arriscamos vir a repetir o mesmo expediente em breve. Há um ditado: “errar é humano, persistir no erro é burrice”. Se tomarmos “erro” como “ofensa”, poderia ser: “errar é humano, persistir no erro é maldade”.
O primeiro tem conotação cognitiva (falta de inteligência), o segundo tem conotação ética (falta de caráter), ambas são humanas, até demais. Sucessivas retratações para um erro recorrente rebaixam nossa estima e credibilidade frente ao outro e a nós próprios, mesmo que ninguém seja irrecuperável. Pode-se até dizer: “Se erro contigo e, em verdade, me perdoares, a dívida não acumulará”. Mas, alguém é tão amoroso ao ponto de não recobrar a violência antes sofrida que retorna por mãos do mesmo agressor?
Só a divindade seria diferente, pois Deus, primeira pessoa, nunca será ferido por qualquer agressor, não ficará magoado ou ressentido por dor de agressão sofrida. É na segunda pessoa, o Filho, que se pode cogitar tal provação, por unir condição humana e divina em paixão incomparável. O perdão do Pai, invulnerável, difere do humano, vulnerável.
Pedimos perdão por antes ofender o próximo, imagem e semelhança d’Ele. Agredindo ou omitindo, machucamos nossos semelhantes, não Deus - cuja integridade de atributos é inabalável, sua fortaleza é inexpugnável. Já o Verbo feito carne se feriu e sangrou, para sobrepujar a morte. Deus só é molestado e chora no corpo de um ser humano.
Nas duas pessoas, o perdão divino é infinitamente superior, não só por Deus não ter mágoa de golpes tomados, mas por apiedar-se dos proferidos contra todo gênero humano, cuja vivência seu próprio filho encarna e eleva à potência mais alta. Por isso é erro tomar o “assim como nós” ao pé da letra. Obviamente, quem deve aprender a perdoar e pedir perdão é o homem, jamais Deus. Ferimos o outro, precisamos pedir perdão. Ferem a nós, precisamos perdoar. O “dente por dente, olho por olho” é superado. Pedindo e concedendo perdão, libertamo-nos.
Não por ser fácil. O pedido envolve dores indesejáveis: arrependimento e culpa. Na ideologia capitalista de sucesso individual a todo custo, dizemos: “não me arrependo de nada”, “podendo faria tudo de novo”.
Arrepender-se é admitir tempo perdido, e não gostamos. A mesma ideologia critica a noção ocidental de culpa que “escraviza”. Mas a psicanálise ensina que um homem sem culpa alguma não preserva sanidade mental.
Pedir sinceramente perdão envolve não ser o centro do mundo (ideologia de só levar vantagem) e não padecer de mal psíquico (patologia de tratar os outros como coisas).
Sendo difícil e necessário, temos por fim duas leituras para “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Uma seria pedir também “ensina-nos a perdoar assim como vós nos perdoais” (foco no modelo superior).
Outra seria junto meditar: “perdoai as nossas ofensas só quando todos perdoarmos aos que nos têm ofendido” (foco no tempo futuro). É difícil até resumir, mas convido a você retirante a ampliar. E, pela inaptidão em contemplar o tão vasto no mais breve, peço perdão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário