Iniciemos este nosso momento de espiritualidade e de oração tomando estes textos para mergulhar na escuta de Deus e assim buscarmos uma vida espiritual madura e cheia da presença de Deus dando o verdadeiro sentido para nosso viver.
Eclesiastes 1,2; 2,21-23;
Lucas 12,13-21
Nós poderíamos nos aproximar deste texto de Eclesiates e o evangelho de Lucas por meio de um exercício, fazendo uma lista dos nossos bens.
Quais são os seus bens, atualmente? Um carro? Uma casa? Um terreno? Um celular? Uma TV de LCD? Essas coisas são chamadas “bens de consumo”.
Além deles, existem outros bens: a família, os filhos, os amigos, etc.
Mas, além desses, existem os bens espirituais: Deus, a fé, a oração, a Sagrada Escritura, a paz, o amor, a solidariedade, etc. Quais são os seus bens?Essa pergunta sobre os bens se desdobra numa outra: em torno do quê gira o meu coração?
O bem é um valor e o valor é aquilo pelo qual eu luto, me sacrifico, gasto minhas melhores energias. Resta saber se eu tenho lutado, me sacrificado e gasto minhas melhores energias por um bem real ou por um bem aparente.
O evangelho quer saber se eu desejo e me esforço por alcançar as coisas do alto, ou somente as coisas da terra.Olhando para a lista dos nossos bens, nos lembramos das palavras de Jesus: “a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15).
Nenhum bem que possuímos ou que venhamos a possuir pode nos fazer completamente felizes ou preencher por completo o nosso vazio.Já o autor do Eclesiastes nos alertava: “Tudo é vaidade!” (Ecl 1,2).
Porque vivemos numa sociedade cada vez mais pobre de valores, cultuamos a única coisa que parece ter valor hoje em dia – a vaidade. E nos esquecemos de que vaidade é aquilo que é por si mesmo vazio, aquilo que nunca se sente preenchido por coisa alguma.
Corremos atrás do vazio e nos tornamos pessoas vazias.O Eclesiastes é de um realismo cortante: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. – Em outras palavras: pó do pó, tudo é pó; inconsistência da inconsistência, tudo é inconsistência, tudo passa, tudo é transitório e fugaz...O Autor do Eclesiastes coloca a questão tão dramática: será que tudo quanto construímos, será que nossos amores e sonhos, será que tudo isso caminha para o nada?
“Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração!” São palavras duríssimas e, à primeira vista, de um pessimismo sem remédio.
Mas, não é assim: o Autor sagrado nos quer acordar do marasmo, nos quer fazer compreender que não podemos enterrar a cabeça e o coração no simples dia-a-dia, sem cuidar do sentido que estamos dando à nossa existência como um todo!
Então, onde apostar nossa vida, para que ela realmente tenha um sentido?
Como fugir da angústia de uma vida que vai passando como o fio no tear - para usar um imagem da Escritura?
É interessante observar como hoje se procura fazer a vida valer a pena... Preocupação com a estética, com a saúde, com a satisfação dos desejos... Preocupação em ser vip na sociedade, em ter prestígio e poder... em se esbaldar no divertimento, nos esportes, nos eventos, no turismo...
Pois bem, a Palavra de Deus nos adverte de modo seco e solene: tudo passa, tudo é vaidade; não consiste nisso a vida de uma pessoa! Com tudo isso, podemos ser infelizes; com tudo isso, podemos danar para sempre nossa única existência.
Podemos nos ver na imagem desse homem do evangelho: derrubamos aquilo que já tínhamos, porque estávamos insatisfeitos; construímos algo maior e enchemos esse novo espaço com aquilo que chamamos de “nossos bens”, mas continuamos a nos sentir insatisfeitos, como se nada nos preenchesse.
De repente, ficamos doentes, sofremos um acidente, perdemos alguém que amamos, nos damos conta de que estamos morrendo e nos perguntamos: o que eu fiz da minha vida?Nossa vida na terra é mais curta do que podemos imaginar: “de manhã ela germina e brota, de tarde ela murcha e seca” (Sl 90,6).
Tomar consciência da brevidade da nossa vida terrena pode nos ajudar a vivê-la de maneira mais sábia, nos perguntando, por exemplo: Quando chegar o momento da minha morte, como eu gostaria de ter vivido a minha vida?
Se eu comparecesse hoje perante Deus, seria reconhecido como alguém que passou sua vida justando tesouros para si mesmo (“meus celeiros”, “meu trigo”, “meus bens”) ou como alguém que foi rico diante de Deus, porque teve a coragem de quebrar o ídolo da cobiça (cf. Cl 3,5) e reconhecer que nenhum bem poderia ter encontrado fora de Deus (cf. Sl 16,6)?
Pe.Emílio Carlos+
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