Pelo contrário, ela permite olhar para a realidade que está à nossa frente e até mesmo para o sofrimento. A opção pela alegria é inseparável da opção pelo homem. Ela enche-nos de uma compaixão sem limites.
Saborear, por muito pouco que seja a alegria de Deus faz de nós mulheres e homens de comunhão.
O individualismo como caminho de felicidade é uma ilusão. (12)
Sermos testemunhas da comunhão supõe a coragem de ir contra a corrente. O Espírito Santo dar-nos-á a imaginação necessária para encontrar os meios de nos tornarmos próximos dos que sofrem escutá-los e deixarmo-nos tocar pelas situações de angústia. (13)
O caminho da felicidade, seguindo os passos de Jesus reside no dom de nós mesmos, dia após dia.
Pela nossa vida, numa grande simplicidade, podemos exprimir o amor de Deus.
Se as nossas comunidades, as nossas paróquias e os nossos grupos de jovens se tornassem, sempre e antes de mais, lugares de bondade do coração e de confiança; lugares onde nos acolhêssemos uns aos outros, onde procurássemos compreender e ajudar o outro, lugares onde estivéssemos atentos aos mais fracos, aos que não pertencem ao nosso círculo habitual, aos que são mais pobres do que nós! Um dos sinais do nosso tempo é a bonita generosidade com que inúmeras pessoas ajudaram as vítimas das dramáticas catástrofes naturais. Como pode esta generosidade animar as nossas sociedades, mesmo na vida quotidiana?(14)
Por muito necessária que seja a ajuda material em certas situações de urgência, ela não basta. O que importa é fazer justiça aos desfavorecidos. (15)
Os cristãos na América Latina recordam-nos: combate contra a pobreza é um combate pela justiça; a justiça nas relações internacionais, não o assistencialismo. (16)
Aprendamos a ultrapassar o medo. Todos conhecemos esse reflexo de proteção que consiste em querermos garantir a nossa segurança em detrimento do bem-estar do outro. E isso parece acentuar-se na nossa época em que aumenta o sentimento de insegurança. Como não ceder ao medo? Não será indo ter com os outros, mesmo com os que surgem como uma ameaça?
A imigração é outro sinal do nosso tempo. Por vezes, é sentida como um perigo, mas é uma realidade incontornável que já está a moldar o futuro. (17)
Um dos sinais do nosso tempo é ainda a pobreza crescente no interior dos países ricos, onde com muita freqüência o abandono e o isolamento são as primeiras causas de precariedade.
A acumulação exagerada de bens materiais mata a alegria. Ela mantém-nos na inveja. A felicidade reside noutro lado: na escolha de um estilo de vida sóbrio, no trabalho não apenas com vista ao lucro, mas para dar um sentido à existência, na partilha com os outros, cada um pode contribuir para criar um futuro de paz.
Deus não dá um espírito de medo, mas um espírito de amor e de força interior. (18)
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(12) O filosofo judeu Martin Buber (1878-1965) escreveu: «O Tu encontra-me através da graça, não resulta da minha procura. Mas o fato de lhe chamar Tu, de que eu lhe dirija esta palavra fundamental, essa é a razão do meu ser, o que me faz existir… Torno-me eu próprio através do Tu; tornando-me Eu, eu digo Tu. Toda a vida verdadeira é encontro.»
(13) Alberto Hurtado (1901-1952) é um santo chileno, canonizado pelo Papa Bento XVI em 2005. Este padre jesuíta é muito venerado no seu país devido ao dom da sua vida aos pobres. Ele esteve na origem dos «lares de Cristo», onde são acolhidas pessoas sem-abrigo, crianças, mulheres e homens em situação difícil. Ele tinha como lema da sua vida e das suas ações a seguinte questão: o que faria Cristo no meu lugar? Em 1947, escreveu a propósito dos que lhe estavam confiados: «A primeira coisa a fazer é amá-los... Amá-los até ao ponto de não poder suportar os seus sofrimentos… A minha missão não pode limitar-se a consolá-los com belas palavras e a deixá-los na sua miséria enquanto eu como tranquilamente e não me falta nada. O seu sofrimento deve fazer-me mal… Amá-los para levar a que eles vivam; para que a vida humana se desenvolva neles; para que a sua inteligência se abra e para que eles não permaneçam à beira do caminho. Se os amarmos, saberemos o que devemos fazer por eles. Eles corresponderão? Sim; em parte… nada se perde daquilo que é feito com amor.
(14) Quando visitou a Grã-Bretanha, o Papa Bento XVI lançou este apelo: «O mundo foi testemunha dos imensos recursos de que os Governos podem dispor quanto se tratou de ir em socorro das instituições financeiras, entendidas como ‘demasiado importantes para serem votadas ao fracasso’. Não se pode duvidar de que o desenvolvimento integral dos povos do mundo não seja menos importante: eis um empreendimento que merece a atenção do mundo e que é verdadeiramente ‘demasiado importante para ser votado ao fracasso’.»
(15) «Não são os teus bens que distribuis aos pobres, mas apenas lhes restituis o que lhes pertence. De fato, tu usurpas o que foi dado a todos para uso de todos. A terra pertence a todos e não aos ricos. Contudo, ela foi tomada por alguns em detrimento de todos os que a trabalham. Assim, estás a pagar uma dívida, o que é bem diferente de dar esmola de forma gratuita.» (Ambrósio de Milão, século IV)
(16) No documento da Conferência de Aparecida (Maio de 2007), a Igreja católica latino-americana escreve: «Trabalhar para o bem comum mundial é promover uma justa regulação da economia, das finanças e do comércio internacional. É urgente continuar a perdoar a dívida externa, a fim de favorecer os investimentos em benefício do desenvolvimento e da despesa social; continuar a prever regulações para prevenir e controlar os movimentos especulativos de capitais, a fim de promover um comércio justo e uma diminuição das barreiras protecionistas dos poderosos, para assegurar preços justos para as matérias-primas que os países empobrecidos produzem. Assim, estabelecer-se-ão normas justas para atrair e regular os investimentos e os serviços.»
(17) É claro que a imigração deve ser regulada, não por medo do estrangeiro, mas por verdadeira preocupação com a integração. Para os imigrantes, encontrar alojamento e trabalho e aprender a língua são prioridades. Para os países que os acolhem, conceder direitos acompanha a exigência razoável de deveres. Neste contexto, a vocação dos cristãos não será a de mostrar, através da sua vida, que o medo do estrangeiro enquanto estrangeiro não é justificável? Aproximar-se, travar conhecimento, pode ser um primeiro passo para ultrapassar o medo que vem da ignorância.
(18) Ver 2 Timóteo 1,7.
fonte: Taizé? Ir Alois.
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