O tema do sacerdócio batismal do cristão não está presente na temática de Teresa. O seu tempo não foi o mais propenso a destacar essa faceta do mistério cristão, nem na catequese nem na teologia coetânea nem no magistério oficial da Igreja.
Tanto menos está presente nos seus escritos qualquer tipo de alusão a um possível sacerdócio ministerial da mulher. Tampouco essa categoria temática está presente no contexto doutrinal de Teresa nem em sua experiência de vida cristã, embora tendo em conta que ela sentiu vivamente a marginalização da mulher não só na sociedade e na cultura, mas também na Igreja.
Todavia, em sua experiência de oração é nítida a vivência desse seu sacerdócio batismal. Tal como nos chegou em seus escritos, suas orações assumem e expressam o caráter sacerdotal da oração cristã. Nas páginas do Livro da Vida e nos solilóquios disseminados ao largo do Caminho, da mesma forma que nas dezessete Exclamações, é constante o teor sacerdotal das orações de Teresa. De conteúdo frequentemente doxológico (louvor, adoração, bênção); outras vezes, de intercessão pela Igreja desunida, ou pelos povos em guerra ou pelas defecções sacerdotais da Europa de seu tempo. Quase sempre com patente nervura cristológica. São especialmente intensas as motivadas pela celebração do mistério eucarístico, em que Teresa se une a Cristo sacerdote e a partir dele se eleva ao Pai em súplica pela Igreja (C. 35,3-5).
Essa faceta de sua experiência pessoal, em Teresa se incorporou a seu carisma de fundadora, carisma contemplativo que em sua oração sacerdotal se torna essencialmente apostólico. De fato, a oração e a vida contemplativa do grupo iniciado em São José não são concebidas em função meramente escatológica (vacare soli Deo), mas como serviço eclesial. A espiritualidade da carmelita se definirá a partir daí, na qualidade de comunidade orante dentro da Igreja e por ela: de sorte que "quando as vossas orações, desejos, disciplinas e jejuns não estiverem voltados para isso de que falo, tende certeza de que não alcançais nem cumprir o objetivo para o qual o Senhor nos reuniu aqui" (C.3,10).
Dentro dessa intencionalidade apostólica da vida contemplativa, Teresa proporá como objetivo primário a oração pelos sacerdotes, precisamente em atenção à alta missão que a eles corresponde no tecido eclesial. Também esta explicitação do carisma de grupo tem nítido arraigo na experiência da Santa. Ela mesma escreveu, em termos autobiográficos, já antes de redigir o Livro da Vida: "Sinto em mim um desejo enorme, maior do que de costume, de que Deus tenha pessoas que O sirvam com todo o desapego e que em nada das coisas de cá se detenham - porque vejo que é tudo engano -, particularmente letrados; porque, como vejo as grandes necessidades da Igreja, que muito me afligem, pois me parece equívoco ter pesar por outra coisa, nunca deixo de encomendá-los a Deus: é que vejo que seria mais proveitosa uma pessoa perfeita de todo e com verdadeiro fervor no amor de Deus do que muitas fracas" (R.3,7).
Em força dessa sua particular avaliação da eficácia apostólica vinculada à santidade pessoal, será esta última a que constituirá o objetivo preciso da oração "pelo sacerdote". Propor-se-lhe-á expressamente ao grupo de contemplativas: "Eu vos peço que procureis agir de um modo que nos faça merecer alcançar de Deus estas duas coisas: a primeira é que, dentre os muitos eruditos e religiosos, haja muitos com as qualidades necessárias para isso..., e os que não estão muito dispostos, já que um perfeito fará mais do que muitos que não o sejam. A outra é que o Senhor os sustente, uma vez que estejam na batalha, que, repito, não é pequena..." (C3,5).
Amem os vossos sacerdotes!
Frei Tomás Álvarez, ocd - In: Dicionário de Santa Teresa de Jesus, 2009 - LTR e Edições Carmelitanas - Verbete TERESA
com minha benção sacerdotal
Pe.Emílio Carlos+
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