Se a koinonia fala da comunhão fraternal, a koinonite retrata uma doença relacional.
A evangelização sem a comunhão, por sua vez, pode ser descrita como uma sala de obstetrícia, onde os bebês recém-nascidos são abandonados à sua própria sorte.
A comunhão precede a evangelização. Somente uma igreja saudável evangeliza com eficácia.
Os novos convertidos, frutos da evangelização, precisam ser integrados na igreja, onde encontrarão ambiente propício ao seu crescimento espiritual.
Quero abordar o tema proposto à luz do Salmo 132. Creio que ele esclarece de forma eloqüente a profunda ligação que existe entre comunhão e evangelização.
1. A comunhão é algo profundamente belo e agradável aos olhos de Deus – Há uma exclamação cheia de vivacidade nos lábios do salmista: “Oh quão bom e agradável é viverem unidos os irmãos” (Sl 132.1).
A união fraternal é algo belo aos olhos de Deus e aos olhos dos homens. A comunhão fortalece os relacionamentos e abre portas para novos contatos de evangelização.
A amizade é um poderoso instrumento evangelizador. Um indivíduo normalmente só permanece numa igreja onde constrói relacionamentos significativos de amizade.
Mais de cinqüenta por cento das pessoas que freqüentam uma igreja foram trazidas por algum amigo.
Somos cooperadores de Deus na obra da evangelização. Somos ministros da reconciliação.
Sem comunhão, a evangelização perde sua eficácia. Jesus foi enfático na grande comissão ao afirmar que os novos convertidos precisam ser integrados na igreja e essa integração passa pela comunhão (Mt 28,18-20).
2. A comunhão é algo profundamente terapêutico – O salmista comparou a comunhão fraternal ao óleo (Sl 132.2) e ao orvalho (Sl 132.3).
O óleo tem um simbolismo muito rico tanto no Antigo como no Novo Testamento.
O óleo tinha uma tríplice utilidade.
Ele era usado como cosmético, como remédio, e como um símbolo espiritual. A comunhão fraternal traz beleza aos relacionamentos.
A comunhão fraternal produz alívio na dor. A comunhão fraternal é instrumento de cura emocional e espiritual.
A comunhão é a expressão visível da ação do Espírito derramando o amor de Deus no coração dos crentes, tornando-os discípulos de Cristo.
O orvalho é outra figura importante usada pelo salmista. O orvalho tem várias características interessantes: Em primeiro lugar, ele cai todas as noites. Sua ação é contínua. Assim deve ser a união fraternal.
Em segundo lugar, o orvalho cai silenciosamente. Diferente da chuva, ele não é precedido pelos relâmpagos luzidios nem pelo estrondo dos trovões.
Ele cai sem alarde. Assim é a comunhão fraternal. Ela age de forma terapêutica sem fazer barulho.
Em terceiro lugar, o orvalho cai durante a noite, ou seja, nas horas mais escuras da vida. É quando atravessamos os vales escuros da dor que a ação benfazeja da amizade desce sobre nossa vida como o orvalho restaurador.
Em quarto lugar, o orvalho sempre traz renovo e refrigério depois de um dia de calor escaldante.
A comunhão fraternal tem o poder de refrigerar a alma e renovar o ânimo depois das duras provas e do calor sufocante que normalmente nos atinge nas jornadas da vida.
Finalmente, o orvalho se espalha para horizontes longínquos.
O orvalho que desce do Monte Hermon atinge também o Monte Sião. O Hermon fica no extremo norte de Israel, um monte cujo topo é coberto de gelo e o Monte Sião está situado na cidade santa, Jerusalém, há mais de duzentos quilômetros ao sul. Assim é o poder da amizade.
Ela cai sobre uma pessoa aqui e abençoa outras pessoas em lugares longínquos.
3. A comunhão é a condição indispensável para uma evangelização eficaz – Ali é que o Senhor ordena a sua bênção e a vida para sempre (Sl 132.3). Não há evangelização poderosa sem a bênção de Deus. Evangelização eficaz é uma operação soberana do Espírito Santo abrindo o coração do homem, dando-lhe o arrependimento para a vida e a fé salvadora.
Quando a igreja vive em comunhão, ali Deus ordena vida. A evangelização é o instrumento mediante o qual as pessoas que ouvem o evangelho nascem de novo e recebem vida em Cristo.
Deus mesmo é quem ordena a vida onde a comunhão existe. Os resultados da evangelização não são alcançados pelo esforço humano.
Não temos poder sequer de converter uma alma. Charles Spurgeon dizia que é mais fácil ensinar um leão ser vegetariano do que converter uma alma pelo esforço humano.
Só Deus pode abrir o coração. Só Deus pode dar o arrependimento verdadeiro.
Só Deus pode dar a fé salvadora.
Só Deus produz o novo nascimento. Só Deus converte o coração do homem, tirando dele o coração de pedra e colocando no lugar um coração de carne.
Só Deus justifica o pecador e o sela com o Espírito Santo da promessa.
É Deus quem opera no homem tanto o querer como o realizar.
Tudo provém de Deus! E é ele mesmo quem estabelece as condições para uma evangelização poderosa e eficaz: É preciso preparar o terreno.
É preciso cultivar relacionamentos de comunhão fraternal, pois é nesse ambiente regado pelo amor, que Deus ordena sua bênção e a vida para sempre.
Hernandes Dias Lopes
com minha benção sacerdotal
Pe.Emílio Carlos+
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