É errado não fazer caso dos pecados cometidos por outros irmãos ou mesmo aceitá-los. Embora devamos ser humildes e agir em amor, devemos ajudar a recuperar aquele que tropeça, repreender o que peca abertamente, após reiteradas admoestações, afastarmo-nos daquele que se recusa a se arrepender e, após apenas uma ou duas admoestações, rejeitar os que ensinam doutrinas falsas. Devemos ter coragem e fé no Senhor para confiarmos em suas instruções.
A parábola do fermento nos relembra que Deus enviou seu Filho ao mundo não somente para perdoar, mas para transformar. Uma coisa tão imensa como a cruz nunca foi destinada meramente a providenciar misericórdia para nosso passado pecaminoso, deixando-nos os mesmos orgulhosos, egoístas e concupiscentes que éramos antes. Temos que ser mudados, e sobre essa transformação esta pequena parábola nos diz muito.
Antes de tudo, é uma transformação que precisa vir de fora. Arquimedes, o grego que descobriu o princípio da alavanca, certa vez observou, "Dêem-me um ponto de apoio e moverei o mundo". Este é o problema. O "mundo" precisa desesperadamente ser movido, mas não temos ponto de apoio fora dele. O fermento da renovação está além do poder humano e todos os sistemas de auto-ajuda estão condenados, por definição. Somos tão incapazes de reformular nossas vidas sozinhos conforme a justiça de Deus como somos de escapar ao justo julgamento de Deus pelos nossos pecados. Somente o fogo do céu é suficientemente poderoso para efetuar uma mudança tão radical. Pela graça de Deus fomos perdoados, e é por sua graça e poder que finalmente seremos totalmente renovados (Efésios 2,8-10; 3,14,21).
Em segundo lugar, é uma transformação que precisa ser operada por dentro. Muito pensamento político moderno, e mesmo religioso, apóia-se freqüentemente no mito que o homem é moldado pelo seu ambiente e que mudar suas circunstâncias mudará seu coração. A verdade está na direção totalmente oposta. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração," adverte Salomão, "porque dele procedem às fontes da vida" (Provérbio 4,23). A vida, seja boa ou má, emana da mente, e vida nova pode vir somente de um coração que foi voltado para novas direções. Portanto, como fermento na massa do pão, o reino do céu dirige seu ataque para dentro, sobre o coração.
Mudança externa feita sem a revolução interna é mera acomodação (Romanos 12,2), e sua superficialidade tira-lhe a estabilidade. Ela se evaporará diante da menor inconveniência. Em contraste, a mudança externa efetuada por um coração mudado é uma verdadeira transformação e sua profundidade dá-lhe uma imutabilidade obstinada (1 Coríntios 15,58). Este tipo de conversão não somente resiste ao domínio externo, mas exerce uma profunda e positiva influência nos outros. O coração é decisivo. Numa parábola intitulada "O olocausto", Nathaniel Hawthorne pinta uma fogueira onde os homens estão queimando todas as coisas más do mundo.
Satanás, observando, fica a princípio atemorizado, mas então ele se reanima e observa, "Ainda não estou desfeito. Eles se esqueceram de jogar o coração humano". Esta é a razão porque à religiosidade herdada, de segunda mão, ainda que verdadeira em forma, sempre faltará realidade e força (2 Timóteo 3,5). A massa nunca será fermentada. A vida nunca será verdadeiramente transformada.
Em terceiro lugar, é uma transformação que precisa tocar o todo de nossas vidas. Nem o menor segmento pode ser excluído, porque nessa lasca fininha se esconderá nossa vontade e nosso modo de ser. Nunca foi diferente. Deus sempre exigiu que os homens o amem e o sirvam na inteireza de seus corações (Deuteronômio 6,4; 11,13; 13,3; Jeremias 29,13).
Em última análise, é Cristo quem é o fermento. Cristo crucificado, sim, e verdadeiramente o Cristo das Escrituras. Mas ainda Cristo, a pessoa entrando pessoalmente por influência de seu notável caráter e vontade em cada recesso de nossos corações. Paulo definiu as riquezas e glória do mistério do evangelho quando ele disse que ele é "Cristo em vós, a esperança da glória" (Colossenses 1,27). O fermento do Filho de Deus entra em nossas vidas quando aceitarmos, não somente seu amor e perdão, mas também seu domínio. Há enorme poder pessoal ao sabermos que ele não tem intenção de nos deixar.
Com minha pobre benção.
Pe. Emílio Carlos +
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